Bióloga, mestre e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É pós-doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e pesquisadora do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF), ambos da UFRGS.
Registros de atropelamentos de animais silvestres existem tanto em rodovias quanto em ferrovias e uma pergunta que já nos fizemos é: “qual dessas infraestruturas causa maior mortalidade?”
Muitas pessoas imaginam que rodovias são mais mortais para a fauna, pois nas ferrovias os trens são mais longos, passam menos constantemente do que carros numa rodovia e seriam mais facilmente evitados pelos animais. Também há muito mais estudos com rodovias do que com ferrovias, o que faz com que, naturalmente, as pessoas tenham a impressão de que rodovias matam mais.
Ainda, se formos pensar no Brasil e em vários outros países, a extensão da malha rodoviária é muito maior do que a ferroviária. Há também a questão de que ao transitamos em uma rodovia é mais fácil vermos um animal atropelado do que quando estamos em um trem (além do fato de praticamente não existir transporte de passageiros em ferrovias por aqui), influenciando a nossa percepção sobre esse impacto.
Apesar desse “senso comum”, ainda não temos uma resposta para essa pergunta. Mas recentemente um estudo de caso adicionou uma peça a esse quebra-cabeças. Em uma pesquisa realizada na Romênia, foi comparada a mortalidade monitorada a pé ao longo de um ano entre dois trechos paralelos com dois quilômetros de extensão, um de uma rodovia e outro de uma ferrovia. Praticamente 80% das carcaças encontradas estavam na ferrovia e apenas 20% na rodovia.
Porém, as condições de muitas das carcaças encontradas na ferrovia demonstravam que elas eram muito antigas. Ainda, muitas carcaças encontradas na ferrovia não tinham sinais de atropelamento e, provavelmente, resultaram de animais que morreram por ficarem presos entre os trilhos.
Esses resultados estão de acordo com estudos que já realizamos no Brasil, em que identificamos que carcaças de animais em ferrovias parecem persistir por muito mais tempo do que em rodovias e verificamos carcaças de anfíbios que pareciam ter morrido presas entre os trilhos – e não atropeladas.
Ainda estamos longe de responder qual desses dois tipos de infraestrutura mata mais. Entretanto, temos indícios de que ferrovias podem ser tão mortais quanto (ou talvez ainda mais) do que rodovias. Porém, precisamos de mais estudos para responder com confiabilidade qual mata mais de uma forma geral.
Uma forma que isso poderia ser feito seria amostrando e comparando as fatalidades em vários trechos de rodovias e ferrovias com diferentes intensidades de tráfego (ou outras características) e comparando as taxas de mortalidade. Para isso, seria fundamental aplicar amostragens e análises para estimar as taxas de fatalidades corrigidas, considerando as diferenças de eficiência do observador e a persistência das carcaças que existam entre os dois modais, e entre os diferentes trechos de um mesmo modal.
Que os próximos estudos preencham mais peças desse quebra-cabeça e nos permitam entender melhor o impacto da mortalidade de infraestruturas viárias.
Bióloga, mestre e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É pós-doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e pesquisadora do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF), ambos da UFRGS.
