Por Suzana Padua
Mestra em educação ambiental e doutora em desenvolvimento sustentável. Co-fundadora e presidente do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas e da Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade (Escas)
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As organizações não governamentais (ONGs) têm desempenhado papel relevante no desenvolvimento e na implementação de metodologias e estratégias no campo da educação ambiental. O que as motiva pode variar, mas existem características comuns que merecem ser destacadas.
Primeiramente, há muita inovação e ousadia, que por vezes inspiram outros com questões similares. Por exemplo, muitas desenvolvem trabalhos práticos e comumente direcionados a questões emergenciais, como conservação de espécies ou áreas naturais, recuperação de nascentes e bacias hidrográficas, restauração de habitat e plantio de árvores nativas, alternativas sustentáveis para comunidades desprivilegiadas com vista a melhorias sociais e ambientais, medidas mitigadoras ao uso inadequado dos recursos naturais. Há também temáticas comuns em ambientes urbanos como adoção e recuperação de praças e outras áreas naturais, plantio e arborização de ruas, áreas abertas e parques, poluição do ar, acúmulo de lixo e destino adequado de resíduos, práticas de reciclagem, entre outros. Esses são apenas alguns exemplos do repertório de projetos de educação ambiental desenvolvidos pelas ONGs.
É comum que comecem por focar temas específicos e ampliem sua área de interesse de acordo com as necessidades que se apresentam no decorrer dos processos de implementação e de continuidade de suas atuações. Essa ampliação em suas ações normalmente se dá quando percebem a interligação entre diferentes questões sociais, ambientais e econômicas, que são de fato interligadas. Nessa ampliação de interesses, alguns programas de educação ambiental chegam a perder o foco inicial e, por vezes, a eficiência em responderem as questões específicas a que se propuseram em sua origem. Todavia, quando são tomados os devidos cuidados, os programas que adotam olhares mais abrangentes muitas vezes apresentam maior riqueza, eficácia e consistência nos resultados alcançados, inclusive no tocante às suas propostas originais.
Outra característica das ONGs ligadas à educação ambiental é que ousam trilhar caminhos diferentes e acabam desenvolvendo metodologias que indicam eficácia e, muitas vezes, possíveis de serem replicadas. A urgência das questões com as quais trabalham serve como fator motivador para a busca de respostas rápidas e consistentes. Segundo um dizer antigo, aprende-se pelo amor ou pela dor. O ideal, claro, seria pelo amor, que depende de empatia, respeito pela diversidade e pelo empenho individual de melhorias que visam o bem coletivo.
Como esse tipo de pensamento nem sempre é comum, e quando as ações continuam pautadas no egocentrismo e não na proteção da vida, seja humana ou dos demais seres e elementos da natureza, a dor certamente vem. Hoje se observa os efeitos das mudanças climáticas acentuadas, com chuvas torrenciais ou secas sem precedentes, nuvens de poeiras assustadoras, tornados e furacões, entre outros fenômenos que afetam, inclusive, a saúde e outras condições sociais. Tudo em decorrência de escolhas que visavam o curto prazo e que mostraram trazer consequências deletérias à vida.
Diferentemente de outros ambientes de trabalho, muitas ONGs experimentam sem receio de crítica, uma vez que os erros acabam servindo de aprendizagem. Para aquelas que adotam estratégias de avaliação durante a execução de seus programas, as falhas passam a ser facilmente identificadas, o que propicia a percepção dos pontos que necessitam de ajustes. Aumentam, assim, as chances de maior eficácia do programa como um todo, facilitando a reflexão sobre os caminhos ou metodologias que contribuem para os resultados alcançados.
Outro aspecto relevante e comum às ONGs é a continuidade. Observa-se que muitas desenvolvem trabalhos nas mesmas localidades por longos períodos de tempo, com as temáticas socioambientais que as motivaram a iniciar seus projetos ou programas. O fator continuidade é decisivo em qualquer processo educativo, pois a troca de conhecimentos e a reflexão sobre os valores a serem incorporados podem levar tempo até que se alcance o fortalecimento necessário das pessoas envolvidas para o exercício pleno da cidadania.
Alguns riscos que programas de ONGs correm
Caso dependam de governos, a descontinuidade pode ser uma ameaça constante. Como há mudanças de comando a cada quatro anos, as políticas normalmente são interrompidas e outras prioridades aparecem que não as propostas anteriormente.
Outro risco é a interrupção de doações, sejam elas de indivíduos ou organizações. Há o que em inglês chamam de “donor’s fatigue”, ou cansaço do doador, que quer novidade em seu cardápio de beneficiados. Esse é um fenômeno comum que traz consequência ao que as ONGs se prontificam a realizar.
Mais um risco é a perda de equipe, pois os bons profissionais, que muitas vezes se leva anos para capacitar, podem ser assediados a se juntarem a outras organizações que têm a chance de oferecer maiores garantias e melhores condições salariais com benefícios tentadores.
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