Por Elisângela de Albuquerque Sobreira
Médica veterinária, mestre em Ecologia e Evolução pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutora em Animais Selvagens pela Universidade Estadual Paulista (Unesp/Botucatu)
saude@faunanews.com.br
O fornecimento de alimentação suplementar para aves selvagens em parques ambientais é uma prática comum em larga escala e durante todo o ano em vários países, incluindo o Brasil. Embora esses recursos dietéticos adicionais possam beneficiar a vida selvagem, há um risco de transmissão de doenças, particularmente quando os animais se reúnem repetidamente no mesmo lugar em altas densidades e também por meio de interações de espécies que normalmente não se associariam em estreita proximidade.
A atividade de birdwatching pode integrar a vigilância de doenças com o monitoramento da população, oferecendo uma oportunidade única de explorar as inter-relações entre alimentação, epidemiologia das doenças e dinâmica populacional. Diversas pesquisas com aves alimentadas por seres humanos nos parques ambientais comprovaram o risco de transmissões de doenças de seres humanos para as aves, com foco em protozoário (tricomonose), vírus (varíola) e bactérias (salmonelose), doenças com modos contrastantes de transmissão. Pode-se observar também a ocorrência de contaminação por micotoxinas (substâncias tóxicas produzidas por fungos no processo de decomposição) de resíduos de comida em alimentadores de pássaros, que apresentam risco direto e indireto para a saúde das aves selvagens.
O trabalho de educação ambiental nos parques é importante, pois informa, com base em evidências, estratégias de mitigação para minimizar riscos a saúde das aves devido o contato direto com seres humanos que fornecem alimentos complementares para elas.
Embora ainda haja muitas perguntas sem resposta, há uma necessidade de oferecer recomendações estratégicas para prevenção e controle de doenças. Isso deve ser baseado em nossa compreensão atual e no princípio da precaução, já que a alimentação suplementar provavelmente contribuirá para a transmissão de certas doenças infecciosas.
– Leia outros artigos da coluna SAÚDE, BICHO E GENTE
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es)