Veterinária, mestra em Epidemiologia, doutora em Patologia e com pós-doutorado pela San Diego Zoo Institute for Conservation Research (EUA). É professora de Medicina de Animais Selvagens da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisadora colaboradora do Instituto Brasileiro para Medicina da Conservação – Tríade
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Os antimicrobianos são medicamentos, comumente chamados de antibióticos, que são usados principalmente para o tratamento de infecções bacterianas tanto em seres humanos como em animais. Esses medicamentos salvam milhões de vidas e seu uso adequado na produção animal resulta em animais mais saudáveis. No entanto, o uso continuado e de forma inadequada contribuiu para a emergência e a disseminação de bactérias resistentes aos antimicrobianos.
A resistência aparece devido a mutações espontâneas no DNA dos agentes causadores das infecções ou por aquisição de genes de resistência provenientes de outras bactérias. A resistência ao antimicrobiano significa que aquele fármaco não consegue mais controlar a infecção causada pela bactéria. Quando essa resistência ultrapassa pelo menos três classes de antimicrobianos, é denominada multirresistente.
Esse tópico é uma das maiores preocupações atuais na medicina humana e veterinária, tanto que há um esforço conjunto das organizações internacionais ligadas a saúde humana (OMS), Saúde Animal (OIE) e Alimentação e Agricultura (FAO) para a sua prevenção e controle. É essencial assegurar o acesso a antimicrobianos eficientes para tratar animais e humanos, além de garantir a saúde alimentar de uma população humana cada vez maior.
Alguns desses medicamentos podem continuar a atuar no meio ambiente mesmo depois de serem eliminados pelos seres humanos. Na pecuária, estima-se que de 75% a 90% dos tipos de antimicrobianos usados são excretados (a maioria não metabolizado) para o meio ambiente. Estudos já mostraram moléculas bioativas de antibióticos em diversos rios do mundo. A poluição de antibióticos ajuda o desenvolvimento de cepas bacterianas ambientais resistentes e os ambientes podem funcionar como reservatórios e potenciais vetores para espalhar esses microrganismos.
Essa contaminação do ambiente faz com que animais selvagens, de todas as ordens, possam entrar em contato e se infectarem por bactérias resistentes a antibióticos. Os animais selvagens geralmente são infectados por bactérias resistentes originárias de fontes humanas de áreas urbanas ou da agricultura. Uma vez que adquirem essas bactérias, há o risco de desenvolverem infecções bacterianas que podem ameaçar a espécie ou até funcionar como fonte de infecção de bactérias resistentes para humanos e animais domésticos. Espécies de animais selvagens migratórias podem dispersar essas bactérias para novas localidades.
As descobertas de novos antimicrobianos não têm sido tão rápida quanto o aparecimento das bactérias resistentes. Esse é um problema global, sendo transversal à medicina humana, à medicina veterinária, à agricultura e ao meio ambiente. Todos devem estar envolvidos como parte importante da solução e, portanto, a questão deve ser tratada como uma abordagem multidisciplinar.
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