Médica veterinária e mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP). Atua desde 2010 na Divisão da Fauna Silvestre da cidade de São Paulo, sendo responsável pelo setor de recebimento de animais oriundos do tráfico. Tem experiência nas áreas de patologia animal, clínica de aves e répteis e reabilitação. É docente do curso de bacharelado em medicina veterinária do Centro Universitário Anchieta desde 2023.
Centros de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetras) costumam receber animais de diferentes origens, sendo o tráfico de animais silvestres e os agravos que repercutem em processos traumáticos (como a predação por animais domésticos, a colisão em vidraça e a eletroplessão) os motivos de maior entrada nesses locais.
Com o crescimento das cidades, houve um aumento consequente dos conflitos humano-fauna, tendo destaque a solicitação do resgate de capivaras em São Paulo, capital paulista.
Durante o período de 2019 a 2023, foram recebidas no Centro de Manejo e Conservação de Animais Silvestres (Cemacas) da Divisão de Fauna Silvestre da prefeitura 124 capivaras, sendo que após a pandemia de Covid-19, o número de indivíduos recebidos por ano vem dobrando. A menor circulação de pessoas e serviços daquela época aparentemente resultou em uma menor solicitação de resgates. A “demanda adormecida” de capivaras realmente ficou para trás, mas voltou: no primeiro trimestre deste ano, já foram 19 solicitações de atendimento, sendo 10 animais recebidos no Cemacas.
A capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) pertence à família Caviidae, que inclui os mocós e os preás, e é considerada o maior roedor do mundo. Seu nome deriva da língua tupi kapi-wara, que significa “porco d’água comedor de capim”. Ela apresenta hábito semiaquático, alimentando-se de gramíneas e vegetação aquática e reside em diversos tipos de ambientes – de matas ciliares a ambientes antrópicos cada vez mais urbanos, desde que os locais fiquem relativamente próximos a cursos d’água.
Os órgãos de segurança pública frequentemente fazem o resgate de animais silvestres com o uso de materiais e equipamentos de segurança adequados. Para o resgate de mamíferos de médio a grande porte, nem sempre só a contenção física é suficiente, pois pode haver em risco à saúde do animal e dos agentes envolvidos. Assim, o acompanhamento do médico veterinário é indispensável para avaliar o tipo de contenção adequada e a real necessidade de deslocar o animal para o Cetras.
Mamífero de grandes proporções, se comparado a outros que convivem com o ser humano – tal como os saruês -, a capivaras são um desafio para ser resgatadas, porque a ação não passa desapercebida e compreende situações inusitadas.
Além de apresentarem lesões decorrentes de brigas ou do lixo presente nos rios, em muitos casos, o animal “apenas” invade uma propriedade e fica acuado. Nesse caso, ele precisa ser guiado para uma área verde próxima e com acesso a recurso hídrico, o que nem sempre é tão simples, pois os locais de resgate muitas vezes estão em avenidas movimentadas.
As situações para o “chamado” de capivaras são variadas. São resgates em unidades básicas de saúde (UBS), escolas, em caixas de retardo em aduela, postos de combustíveis, em buracos na via pública, estacionamentos de condomínio residencial, em piscinas – sim, piscinas! – e tudo isso sempre acompanhado da comoção da população ao redor, seja por curiosidade ou pela torcida da captura do animal e seu bem-estar.
Com a chegada do animal ao Cemacas, é realizado seu primeiro atendimento e avaliação clínica, com a colheita de material biológico para a pesquisa de leptospirose, toxoplasmose e febre maculosa. No próprio laboratório do Cemacas, o LabFau, há a realização dos exames coproparasito e hematológicos, ferramentas necessárias para avaliar o perfil sanitário e apoiar o diagnóstico. Com tudo isso feito, garantimos a devolução da capivara saudável para seu ambiente natural e nos preparamos para um próximo resgate.
Confira mais algumas fotos logo abaixo.
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Médica veterinária e mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP). Atua desde 2010 na Divisão da Fauna Silvestre da cidade de São Paulo, sendo responsável pelo setor de recebimento de animais oriundos do tráfico. Tem experiência nas áreas de patologia animal, clínica de aves e répteis e reabilitação. É docente do curso de […]
