Por Kamila Bandeira
Bióloga com mestrado em Zoologia pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É doutoranda no mesmo programa, além de pesquisadora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Suas pesquisas estão focadas em Paleontologia de vertebrados
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O Tyrannosaurus rex (ou, como é popularmente conhecido, T-rex) é, sem dúvida, um dos dinossauros mais emblemáticos. Estrela de filmes, livros e até mesmo peças de teatro, o T-rex acaba sendo o principal “porta-voz” no campo da Paleontologia. O fascínio em geral começa pelo seu nome – que em latim significa “lagarto tirano rei” –, além de ele ter sido um dos dinossauros carnívoros de maior porte, vagando em terras onde hoje é a América do Norte entre 70 e 66 milhões de anos.
Porém, recentemente, um novo estudo publicado na revista científica Evolutionary Biology trouxe uma surpresa geral: uma nova análise de 36 indivíduos de T-rex sugere que havia pelo menos três espécies diferentes catalogadas como uma só! Essas variações antes eram interpretadas como originárias de muitos fatores distintos, como diferenças individuais, possíveis distinções entre machos e fêmeas ou mesmo reflexo do próprio amadurecimento desses indivíduos. A análise do novo estudo separou dezenas de ossos e dentes, investigando as diferenças corporais identificadas nos fósseis e observando as variações de robustez, principalmente nas dimensões do fêmur (osso da coxa).
Alguns esqueletos atribuídos anteriormente ao T-rex têm fêmures mais atarracados e robustos, enquanto outros têm ossos mais estreitos. Outro argumento para a separação em mais duas espécies foi a observação de que alguns pares de incisiformes (dentes incisivos) na mandíbula inferior possuíam formatos diferenciados, permitindo a divisão em três grupos de indivíduos. Por exemplo, num dos grupos os dentes incisiformes são apenas um par em forma de ‘D’, sendo muito menores que o dente posterior a ele, enquanto num segundo grupo há pelo menos dois pares de incisiformes menores.
De acordo com a pesquisa, o T-rex também apresentou uma variabilidade muito maior em suas medidas ósseas do que qualquer outro dinossauro terópode analisado e por isso foram propostas mais duas espécies dentro do gênero Tyrannosaurus: o Tyrannosaurus regina e Tyrannosaurus imperator – respectivamente, significando “o lagarto tirano rainha” e “o lagarto tirano imperador”. Especificamente, o Tyrannosaurus rex é distinguido dos demais pela anatomia robusta, uma proporção moderada entre o comprimento e a circunferência do fêmur, além de possuir um par de dentes incisiforme mais delgado; já o Tyrannosaurus imperator foi considerado uma espécie mais robusta, com uma pequena proporção entre o comprimento do fêmur e a circunferência e dois pares de dentes incisiforme delgados; e, por último, o Tyrannosaurus regina era uma forma grácil com uma alta proporção das medidas no fêmur e um dos pares de dentes mais delicados.
Porém, vale ressaltar que a proposição dessas outras duas novas espécies ainda não é um consenso na comunidade paleontológica. Um estudo de 2020, publicado na Paleontology and Evolutionary Science, analisou um conjunto de 1.850 características esqueléticas de vários indivíduos de T-rex, a fim de investigar variações indicativas sobre maturidade e crescimento. Na época, o estudo apontou que essas variações não eram evidências o suficiente para justificar uma divisão em outras espécies. É necessário que essas novas espécies sejam analisadas por outros pesquisadores e revisados conforme novas amostras e análises adicionais apareçam.
Para saber mais
– Gregory S. Paul, W. Scott Persons IV & Jay Van Raalte (2022). The Tyrant Lizard King, Queen and Emperor: Multiple Lines of Morphological and Stratigraphic Evidence Support Subtle Evolution and Probable Speciation Within the North American Genus Tyrannosaurus. Evolutionary Biology (advance online publication)
– Carr, T.D. (2020). A high-resolution growth series of Tyrannosaurus rex obtained from multiple lines of evidence. PeerJ 8: e9192.
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