Por Elisângela de Albuquerque Sobreira Borovoski
Pós-doutoranda em Epidemiologia Experimental Aplicada às Zoonoses na Universidade de São Paulo (USP). Mestra em Ecologia e Evolução e doutora em Animais Selvagens pela Universidade Estadual Paulista. Coordenadora de Fauna da Prefeitura de Anápolis (GO), presidente da Comissão de Animais Selvagens e Meio Ambiente do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Goiás e docente e coordenadora do curso de Medicina Veterinária da Faculdade Metropolitana de Anápolis (Fama)
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Conservar a vida selvagem que prejudica as colheitas ou a criação de gado, que ataca humanos ou que são pescados ou caçados representa um desafio especial para os gestores de políticas públicas. A resposta humana mais comum é limpar o habitat da vida selvagem ou retaliar os animais silvestres de forma bastante visível e cruel. Tais respostas minam os objetivos de conservação.
Por exemplo, a remoção de predadores de grande porte, como as onças, tem efeitos em cascata sobre as populações de suas presas e outros predadores menores. Da mesma forma, a remoção de queixadas altera significativamente a cobertura vegetal e a diversidade.
No entanto, os esforços para proteger a vida selvagem conflituosa fizeram com que as comunidades afetadas por esses animais batalhassem contra a eles ou contra os esforços de conservação. Assim, a política e o manejo de grandes animais são temas controversos.
Esforços mundiais para equilibrar as necessidades humanas e a conservação da vida selvagem alimentaram o interesse nas alternativas à retaliação. Entre eles estão o manejo não letal e as formas para aumentar a tolerância humana à vida selvagem. A atenção também com foco na participação das famílias afetadas no planejamento de respostas a esses conflitos e inclusão de uma variedade de grupos de interesse e valores. Atingir um ótimo equilíbrio requer soluções que sejam cientificamente sólidas e aceitáveis politicamente.
Existem diferentes métodos usados para mitigar conflitos humanos-vida selvagem (intervenções). Esses métodos são chamados de intervenções diretas, que visam reduzir a gravidade ou a frequência de encontros com animais silvestres na propriedade rural, e existem as intervenções indiretas, que visam aumentar a tolerância das pessoas para tais encontros.
Embora as intervenções diretas, à primeira vista, possam parecer a forma mais simples e eficaz de prevenir danos à vida selvagem ou evitar retaliação, na prática, podemos citar três razões para a escolha das intervenções indiretas. A matança ilícita de animais silvestres e a conversão de habitat por proprietários de terras eram muitas vezes consideradas impossíveis de proibir. As intervenções diretas, muitas vezes, exigem a autoridade legal para interditar, realocar ou confiscar, o que poucos produtores imaginavam possuir. Muitos proprietários compreenderam que a retaliação ou oposição à conservação são decorrentes de fatores como a falta de educação, a pobreza, a legislação imprudente ou a falta de capacidade de gestão. Portanto, uma cascata de mudanças comportamentais foi desencadeada (por exemplo, educação, reforma política ou capacitação) e passou-se a adotar uma intervenção indireta.
Por exemplo, a formação e a capacitação de produtores rurais para detectar e impedir a transgressões são mais eficientes do que acionar autoridades ambientais para combater o crime ambiental. Da mesma forma, mudar a política, trabalhar com educação ambiental e fortalecer a legislação ambiental são mais viáveis do que tentar combater os atos criminosos.
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