Por Gabriela Schuck
Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestranda junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da mesma instituição
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Você que já viu aqueles passarinhos na beira da estrada ou aquela pombinha no meio da pista, nunca pensou se realmente vai dar tempo de eles saírem da frente do carro? Ou que é bobagem reduzir velocidade por causa de aves? É comum achar que um animal com capacidade de voo não vai ser atropelado, porém esse pensamento é muito distante da realidade já que o atropelamento de aves pode matá-las tanto ou mais que outros impactos antrópicos (motivados pelo homem). Além disso, pensar nas aves reagindo todas da mesma forma em relação à aproximação de veículos também é equivocado, pois há grandes diferenças funcionais e morfológicas entre elas.
Em nossos artigos semanais, já abordamos sobre as dificuldades de definir e implantar mitigações para as aves e já evidenciamos que a velocidade é um fator muito importante para a mortalidade delas e de outros animais. Dependendo da velocidade, a morte das aves pode acontecer mesmo na ausência de colisão, ocorrendo apenas pelo deslocamento de ar. Além disso, a velocidade do veículo influencia o tempo de reação de quem está na pista e do próprio motorista.
Pensando nessas questões, trago um estudo que realizou um experimento com urubus para avaliar o tempo de reação de voo desses animais em resposta aos veículos e o tempo de colisão em diferentes velocidades dos veículos (30 km/h, 60km/h e 90km/h). Eles identificaram que quando a velocidade é próxima a 90km/h, a resposta dos urubus não é muito efetiva para um escape de sucesso e o tempo de colisão é igual ou menor a 1,7 segundo em uma distância de 1,13 quilômetro. Resultados semelhantes também podem ser esperados para outras aves. Principalmente para aquelas que usam as rodovias como local de procura de alimentos, como rapinantes, em busca de carcaças ou de presas nos ambientes marginais de rodovias, e passeriformes, em busca sementes caídas de caminhões.
Esse tipo de evidência nos faz refletir nas respostas das perguntas iniciais deste artigo. Na próxima vez que avistarmos aves nas rodovias, principalmente urubus que estão presentes por conta dos outros animais atropelados, vamos ter mais cautela e não superestimar a capacidade de fuga desses animais.
Já é possível encontrar medidas não tradicionais para a redução de velocidade dos motoristas, como as estradas sonoras e avisos em rádios, que tiveram um bom retorno dos usuários das rodovias. Mas medidas convencionais como lombadas, sinalizações de redução e radares também devem ser respeitadas, pois muitas vezes estão dispostas em locais de maiores colisões com a fauna. A atenção também deve ser redobrada em estradas com pouco movimento de carros, pois normalmente as aves se sentem mais à vontade de pousar na rodovia e os outros animais a realizarem travessias. Infelizmente, também é nessas condições de ausência ou pouco trânsito que os motoristas tendem a aumentar a velocidade e ignorar os limites de velocidade. Uma redução na velocidade de maneira segura e preventiva pode salvar várias vidas que muitas vezes nem notamos na beira da estrada. Respeitar os limites de velocidades e os radares são atitudes de respeito também à fauna.
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