Biólogo com mestrado e doutorado em Ecologia Aquática pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Atualmente, é professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, onde leciona Ecologia e coordena as atividades de pesquisa do Laboratório de Ecologia Aquática.
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A extraordinária biodiversidade no planeta Terra, que soma cerca de 1,5 milhão de espécies conhecidas pela Ciência e conta com estimativas de que possam existir 7 milhões a serem descobertas ou descritas, desperta a curiosidade do ser humano desde sempre. A título de ilustração, somente os peixes de água doce em rios brasileiros somam aproximadamente 3.150 descritas! E os números não param de crescer – volta e meia uma nova espécie é descrita e incorporada à essa lista de dar inveja em qualquer outro país.
Mas a curiosidade humana não se restringe a conhecer somente os aspectos numéricos da biodiversidade, pois além de saber reconhecer as espécies, cientistas buscam compreender onde elas ocorrem e o que determina a sua distribuição ao longo do espaço. E essa distribuição não se dá de forma homogênea nem mesmo em ecossistemas relativamente pequenos, como riachos de uma mesma bacia. Faz décadas que pesquisadores tentam descrever padrões de distribuição de espécies e descobrir quais o fatores que estimulam ou restringem a ocorrência de uma determinada espécie ou de um grupo de espécies em um dado local.
Além da distribuição das espécies ser variada ao longo dos ecossistemas, as populações naturais apresentam diferenças em suas abundâncias e podem ser mais ou menos numerosas dependendo de condições mais ou menos favoráveis para sua ocorrência e multiplicação. A espécie que apresenta maior abundância e maior biomassa que as demais em uma comunidade é dada como dominante. Estudos que investigam fatores que regulam a distribuição e abundância de espécies requerem esforços tremendos ao longo dos anos, mas costumam trazer resultados extremamente interessantes e que subsidiam interpretações ecológicas precisas e tomadas de decisão certeiras.
É o caso de um artigo recente assinado pelo cientista Fagner J. M. de Oliveira e colaboradores. Oliveira e seus colegas investigaram comunidades de peixes de 54 riachos do Centro-Oeste brasileiro. Após o período de quatro anos de amostragens (2014 a 2017) e mais alguns anos identificando as espécies e analisando os dados, os autores descobriram que, independentemente do tamanho dos riachos, a abundância de peixes não-dominantes diminui conforme aumentam as diferenças de tamanho entre as espécies não-dominantes e a espécie dominante. Essa descoberta permite prever que existe tendência de que as espécies dominantes em riachos sejam menores do que as espécies não-dominantes, que são maiores e mais raras.
Além dessa descoberta, os autores sugerem que filtros ambientais que favorecem pequenos tamanhos de corpo, tais como ambientes de águas rasas e escassez de plantas aquáticas, são os principais processos que determinam a distribuição da abundância de espécies nos riachos estudados – quanto mais heterogêneos e profundos os ambientes, maior a probabilidade de ocorrerem peixes grandes (não-dominantes).
Em termos mais gerais e considerando uma extrapolação imaginada para os resultados dessa pesquisa, os distúrbios ambientais nos riachos, como assoreamentos, ambientes mais homogêneos, mais rasos, com menos estruturas e menor diversidade de habitat, levam à diminuição dos tamanhos corporais dos peixes e peixes grandes se tornam cada vez mais escassos em riachos muito alterados.
Para saber mais
– Mora C, Tittensor DP, Adl S, Simpson AGB, Worm B (2011) How Many Species Are There on Earth and in the Ocean? PLoS Biol 9(8): e1001127.
– Oliveira, F.J.M., Lima Junior, D.P. & Bini, L.M. Body size explains patterns of fish dominance in streams. Hydrobiologia 849, 2241–2251 (2022).
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