Por Ingridi Camboim Franceschi
Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde é mestranda, sendo integrante do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF)
transportes@faunanews.com.br
Quando construímos uma estrada, o impacto não envolve apenas a construção desse empreendimento e o uso dele pelos veículos. Ao autorizar esse tipo de obra, facilitamos a ocorrência de mais impactos (diretos ou indiretos) e o acesso a outras atividades que geram impactos, como agricultura e urbanização.
Nem sempre é fácil identificar quais são os impactos associados à construção e à operação de uma estrada, imagine então quantificar e contabilizar os que podem vir devido à presença da via.
Diversos estudos tentam avaliar os impactos das atividades humanas separadamente, mas dificilmente eles ocorrem isoladamente, já que, em geral, essas atividades estão associadas umas às outras. Por exemplo, para caçar, plantar ou construir algo, é necessário que haja uma estrada levando as pessoas até o local onde essas atividades ocorrerão. Então, os primeiros impactos são os gerados pela construção da via, como o desmatamento e a perda de hábitat.
Impactos das atividades humanas
Depois surgem os impactos diretos da operação da estrada, como os atropelamentos e, com o passar do tempo, começam a surgir aqueles gerados pelas atividades humanas que foram facilitadas pelo acesso criado pela estrada, como questões envolvendo urbanização. Ao seguirmos o passo a passo das etapas necessárias para desenvolver algo, notamos uma série de impactos de curta e longa duração.
Muitas vezes, a construção de hidrelétricas, parques eólicos ou áreas de mineração envolve, primeiramente, a construção de estradas e até ferrovias. Por mais que a implantação dos acessos seja considerada nos estudos de impacto ambiental, essa e outras atividades, como a caça, a urbanização e os plantios no entorno, dificilmente são quantificadas e avaliadas de maneira apropriada, principalmente do ponto de vista da fauna. Entretanto, na prática, podemos facilmente ver ao longo das estradas a influência da urbanização com restaurantes, bares, vilas e outras atividades humanas. Além disso, prever onde e em que magnitude esses impactos vão ocorrer ao longo da via é um desafio.
Se pensarmos na fauna local, os animais serão primeiramente afetados pela construção e pela operação dos acessos, mas no longo prazo também poderão sofrer pressão por outros impactos não previstos. Será que é possível prever se uma determinada região tem potencial de expansão agrícola e/ou urbana ou de outras atividades legais e ilegais? Se conseguíssemos dimensionar esse potencial, poderíamos estabelecer áreas prioritárias para conservação e ações mitigadoras para os demais locais no entorno da via. Lembrando que a zona de efeito das estradas pode chegar a até cinco quilômetros de distância. Mas qual seria a zona de efeito de uma estrada associada a uma área urbana?
Seria a construção de estradas uma porteira sendo aberta para todos os demais impactos das atividades humanas?
– Leia outros artigos da coluna FAUNA E TRANSPORTES
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es)