Bióloga pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde é mestranda junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF)
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Assim como seres humanos, elefantes (e muitas outras espécies animais) possuem rotas por onde se movimentam, como estradas. As rotas dos elefantes, por sua vez, são utilizadas para chegar a locais conhecidos e que sabidamente fornecem recursos como água e alimento. Essas rotas são repetidas ao longo de gerações. Além de auxiliar no melhor aproveitamento do espaço, cientistas investigam a possibilidade de essas rotas servirem como oportunidade para os elefantes monitorarem uns aos outros por meio de odores (saber se fêmeas estão em período reprodutivo, por exemplo).
Assim como as estradas humanas têm efeitos sobre as outras espécies habitantes de nosso planeta, os caminhos dos elefantes moldam a paisagem. Imagine a caminhada de dezenas de elefantes que podem pesar cinco toneladas cada e exercem uma das maiores forças de compressão de pisoteio na natureza. Essa “marcha” afeta os sedimentos da superfície, a vegetação do entorno e os caminhos resultantes podem ser rotas para outras espécies. Porém, ao contrário das estradas humanas, os caminhos dos elefantes não são considerados uma ameaça à conservação de espécies.
Mas o que acontece quando os caminhos de humanos e de elefantes se cruzam?
Geralmente o resultado não é positivo. Além da possível colisão com os veículos na estrada, o que pode ser fatal tanto para humanos quanto para elefantes, esses animais também ficam mais expostos à caça e podem interagir de forma mais ativa com a nossa espécie. É o caso dos elefantes-asiáticos na Tailândia, que aprenderam a parar veículos que transportam cana-de-açúcar na estrada para se alimentar. Nem sempre essa relação é pacífica e pode oferecer riscos para ambas as espécies. Além disso, não se sabe quais serão os efeitos a longo prazo desse tipo de interação.
Mas o que fazer para evitar esses conflitos?
Muitos desses casos ocorrem em parques nacionais, áreas de conservação ambiental, onde já sabemos que a presença de estradas é bastante controversa. Quando não for possível evitar a existência das estradas nesses locais, é preciso encontrar maneiras de impedir que os animais tenham acesso à via, além de conectar ambientes por meio de caminhos sob ou sobre a rodovia.
A identificação das rotas usadas pelos elefantes pode auxiliar na tomada de decisão sobre onde implementar essas medidas de conexão entre os lados da rodovia, por exemplo. Bloquear o acesso dos elefantes à via, porém, pode ser um desafio. O fechamento de estradas no período noturno também pode ser uma opção, dependendo da rodovia, já que apesar dos registros visuais de elefantes nas estradas serem em grande parte à luz do dia, se sabe que eles atravessam as rodovias principalmente à noite.
Embora os elefantes não façam parte da fauna brasileira, eles são um caso emblemático dos desafios que temos à nossa frente para compatibilizar nosso movimento com o de outras espécies no planeta e minimizar os conflitos entre nós.
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