Por Silvana Davino
Bióloga e responsável técnica da Área de Soltura Monitorada (ASM) Cambaquara, em Ilhabela (SP)
segundachance@faunanews.com.br
Assim como eu, quando comecei com minha área de soltura (ASM Cambaquara), cuja história relatei no artigo de junho, muitas pessoas acabam descobrindo a sua “vocação” por acaso.
Pela minha experiência de 12 anos no segmento, identifico três grupos:
1) Pessoas físicas que possuem propriedades rurais, tais como fazendas, sítios e chácaras, que, de alguma forma, querem contribuir com o meio ambiente e doam parte da sua área, do seu tempo e do seu dinheiro para ajudar animais silvestres retornarem à natureza. Para isso, se dedicam a plantar árvores nativas, recuperar nascentes e oferecer condições para que a fauna retorne à natureza sem a necessidade da intervenção humana para sobreviver.
A maioria dos proprietários não tem formação na área, recebe assistência de profissionais contratados, porém aprendem a respeitar e a desfrutar de toda a beleza natural que essa atividade proporciona e se sentem recompensados por isso. Muitos registram as suas propriedades como reserva particular do patrimônio natural (RPPN).
2) Empreendimentos administrados por empresas especializadas na área, em que o proprietário não está diretamente à frente das atividades. A maioria delas é contratada para realizar compensações ambientais.
3) Por último, um grupo menor, em que as áreas são administradas por órgãos públicos, como o Ibama.
Onde estão as áreas de solturas (ASMs)?
Sempre que possível, participo de eventos sobre fauna silvestre e na maioria das vezes não encontro outros representantes das áreas de solturas. Costumo ser eu a única do segmento nesses eventos, em que normalmente comparecem instituições que recebem e reabilitam animais silvestres (Cetras), acadêmicos de universidades e técnicos na área. Os temas abordados nas palestras são sobre conservação, tráfico, reabilitação e destinação de fauna silvestre.
Um dos tópicos frequentemente discutidos nesses encontros é o momento da “destinação” das aves, em que todos esbarram no chamado “gargalo”. Para onde enviar os animais que se reabilitaram e podem voltar para vida livre?
Existe ainda certa resistência por parte de pesquisadores e acadêmicos sobre as ASMs, baseada em experiências malsucedidas no passado com Solturas de espécies em locais inadequados e solturas de indivíduos ainda não reabilitados 100%. Além disso, existem preocupações com a genética de animais de determinada região não ser a mesma da região a ser solta. Apesar de tudo isso, uma coisa é certa: as áreas de soltura são fundamentais dentro da cadeia de encaminhamento.
Enquanto as leis ambientais forem brandas e o crime do tráfico compensar, a quantidade de apreensões e de aves encaminhadas aos Cetras não diminuirá. Faz-se necessário intervir no início do processo, coibindo a retirada de filhotes dos ninhos. Só assim esse cenário poderá mudar.
Enquanto isso não ocorrer, as áreas de soltura se fazem necessárias por serem os únicos locais onde esses animais poderão ter sua segunda chance de viver na natureza.
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