Ana Carolina Dias
Graduada em Gestão Ambiental e mestre em Recursos Naturais do Cerrado. É analista ambiental do Ibama no Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) de Goiânia.
Quando pensamos em um centro de triagem e reabilitação de animais silvestres (Cetras), os primeiros profissionais que imaginamos são da área da medicina veterinária e da biologia. No entanto, quando avaliamos o dia-a-dia de um centro, o leque de competências e habilidades vão muito além.
Nesse sentido, por vezes, nessas instituições são necessários voluntários para auxiliar nas diversas atividades de organização, contagem, enriquecimento ambiental, reabilitação, dentre outras tantas funções e ações – desde a quarentena até a manutenção nos recintos. Isso sem contar que, antes mesmo da entrada dos animais silvestres, temos uma série de pessoas sensibilizadas e profissionais comprometidos em assegurar a chegada deles por meio de entregas voluntárias, resgates e apreensões.
Logo na entrada, aqui no Centro de Triagem de Animais Silvestres do Ibama (Cetas) em Goiânia, por exemplo, contamos com vigilantes, essenciais para garantir a segurança das instalações e do patrimônio. Se considerarmos o quão valorosos são os animais silvestres presentes em cada centro, é notável a necessidade e a presença de profissionais capacitados nessa função.
Temos um recepcionista para atendimento ao cidadão ou servidor que recebe os animais silvestres, responsável por coletar todas as informações necessárias em relação aos cuidados, ao tempo de cativeiro e a situação em que o espécime foi encontrado. Esses dados são muito importantes para os primeiros atendimentos do animal.
Para que tenhamos vigilantes contratados, precisamos de uma equipe administrativa com conhecimentos em licitação e em questões orçamentárias – essencial para o bom funcionamento e gestão do Cetas. Essa mesma equipe também é responsável pela contratação de auxiliares de limpeza, que mantêm o ambiente limpo e higienizado, uma vez se tratar de um local importante para vigilância sanitária. A aquisição de medicamentos, alimentos, equipamentos e uma infinidade de outros materiais também é feito e monitorado por esses profissionais.
Após a entrada, com a identificação e marcação dos animais, verificamos a indispensável função dos tratadores. Esses colaboradores são cruciais para a triagem, manejo, alimentação e cuidados com os indivíduos das diversas espécies que passam por todos os Cetras do Brasil. Ainda há de se falar na quantidade exorbitante de filhotes que são cuidados e reabilitados nos centros de triagens. Nos cuidados diretos com os bichos, temos uma equipe de tratadores que realizam também a ambientação e enriquecimento ambiental dos recintos, o que é de grande relevância para a devolução dos animais à natureza, uma vez que acompanham mais de perto muitos animais desde as primeiras alimentações até os treinamentos de reabilitação.
Durante os cuidados e a preparação dos animais silvestres para a soltura, são realizados, com a parceria das universidades, diversos exames em laboratório. São análises clínicas e de biologia molecular que contribuem para detecção de doenças, estudos de população, dentre outros.
Quando o animal está apto à soltura, temos uma importante parceria: com as propriedades e áreas de soltura. Os locais onde ocorrem a devolução dos animais à natureza são, principalmente, áreas privadas com apoio de proprietários rurais. Eles são, em sua maioria, engajados e sensíveis à causa ambiental, promovendo, muitas das vezes, a construção dos recintos, a disponibilização de alimentos, o monitoramento, dentre outras ações necessárias para aclimatação dos animais silvestres na área de soltura e o próprio sucesso da refaunação.
Com o intuito de contribuir também com as ações dos Cetas e as solturas, ressalta-se a importância do envolvimento da população do entorno da área de soltura em trabalhos de sensibilização e educação ambiental. É uma forma de potencializar e convergir ainda mais os esforços e a dedicação de todos.
A reabilitação dos animais silvestres, apesar de parecer um ato simples, tal como o abrir um recinto ou uma caixa de transporte para que o espécime esteja livre, representa o ápice de todas as ações de um pessoal repleto de competências, habilidades, comprometimento e esperança de todos os envolvidos nesse processo. Assim, quando você visualizar uma foto ou um vídeo de uma soltura de fauna silvestre, saiba que a quantidade e o envolvimento de pessoas para que esse animal tenha uma segunda chance é invisível aos olhos.
“O essencial é invisível aos olhos”
Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944)
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