
Por Maria Eduarda Vieira
Aluna de Jornalismo da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e integrante do portal Impacto Ambiental para o Projeto Nova Geração
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A Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (Incab) completa 25 anos em 2021. A projeto é parte das ações do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) e desde 1996 realiza estudos sobre sobre a espécie Tapirus terrestris no país. Atualmente, ele está presente na Mata Atlântica, Pantanal, Cerrado e, recentemente, começou a desenvolver atividades na Amazônia.
As antas são necessárias para a biodiversidade e sem elas as florestas podem morrer mais facilmente. No cardápio desses animais está presente uma grande quantidade de frutos, o que permite as antas espalharem várias sementes pela mata através das fezes.
A coordenadora do Incab-IPÊ, Patrícia Medici, explica mais sobre essa característica: “A anta é a jardineira das nossas florestas e exerce um papel crítico para a conservação delas. Adicionalmente, é uma verdadeira heroína, lutando para sobreviver em áreas extremamente degradadas. A espécie ainda persiste nessas paisagens antropizadas (alteradas pelo homem – comentário do Fauna News), mas seu papel na renovação florestal e manutenção da biodiversidade vem sendo bastante comprometido”.

Devido à constante destruição de habitat e a espécie estar ameaçada de extinção (“vulnerável”, de acordo com o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do ICMBio), o trabalho do projeto não para. A fazenda Baía das Pedras, principal região de estudo no Pantanal, funciona como um laboratório a céu aberto. Os dados coletados de lá servem como referência. No ano passado, 31 animais foram capturados e recapturados e novos filhotes apareceram nos registros das fêmeas monitoradas. Em 2020, durante os incêndios no bioma, a Incab, em parceria com o Instituto de Conservação de Animais Silvestres (Icas). mobilizou uma campanha de arrecadação de recursos para combater o fogo.
Outra preocupação é a alta taxa de atropelamentos das antas. Um levantamento feito pelo Incab indica que só em Mato Grosso do Sul, entre 2013 e 2019, foram encontradas 613 carcaças. Diante desses fatos, a instituição protocolou no Ministério Público Federal um pedido de investigação das causas dos atropelamentos de animais silvestres na rodovia BR-267 (MS).
Além disso, a Incab-IPÊ publicou um relatório que mostra os efeitos dos agrotóxicos no ecossistema. Segundo análises de amostras biológicas, nove pesticidas foram identificados no organismo de antas, inclusive alguns de uso proibido. São agrotóxicos usados principalmente em cana-de-açúcar, milho e soja. Um dos efeitos desse produto é causar problemas de saúde nas antas e até anomalias físicas, como alguns animais indicaram.
Medici comenta: “Nossa missão é garantir a sobrevivência da anta no Brasil, sendo esta uma das formas mais efetivas de conservar os nossos biomas e as funções ecológicas das florestas, áreas úmidas, savanas e muitos outros ecossistemas utilizados por esse animal. Conservando a anta, vamos também contribuir para a manutenção do clima, o fornecimento de suprimentos para serviços ecossistêmicos e o bem-estar humano. A vida da anta significa também a vida de uma série de outras espécies animais e vegetais que com ela compartilham o habitat”.
O Incab-Ipê considera que metas de longo prazo são essenciais para a conservação. O objetivo da iniciativa é desenvolver pesquisas e coletar dados para criar estratégias eficazes de conservação da espécie. O programa possui reconhecimento internacional e mantém parcerias institucionais e financeiras com instituições de várias partes do mundo.

Os planos deste ano envolvem mapear antas em ambiente urbano e estudá-las em áreas antropizadas na Amazônia. Com o projeto Antas Urbanas, os pesquisadores acompanham as aparições de antas nas áreas urbanas de Campo Grande (MS), cidade rodeada pelo Cerrado. Já os dados da Amazônia são para compreender o comportamento delas no bioma e em regiões com alta interferência humana.