Por Andreas Kindel
Biólogo, professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenador do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da mesma universidade (NERF-UFRGS)
transportes@faunanews.com.br
15 de outubro. Há vinte anos estou professor (aprecio muito o papel, mas não me considero um professor vocacional) e nunca havia me perguntado como foi instituída essa data comemorativa. Pior, nunca havia buscado saber quem a tinha proposto e o porquê?
Pois hoje chegou a mim a resposta, mesmo sem ter feito a pergunta, para minha felicidade (obrigado Luiz Marin).
E logo veio à mente uma pergunta, com resposta óbvia implícita, infelizmente: por que tamanha invisibilidade da origem e da proponente desta data comemorativa?
A invisibilidade, muitas vezes, é decorrente da falta de voz ou da covarde atitude de não querer ouvir. Só a insistência das vozes rompeu e romperá a insensatez. Educadores, em todos os contextos, formais e informais, e educandes (não me perdoem pelo “erro” na escrita) são fundamentais nessas rupturas.
Mas, o que fazer quando os “sem vozes” são a nossa fauna recorrentemente injuriada, afugentada, torturada e morta nas nossas estradas?
Mais uma vez, entre muitos atores, os educadores podem ter um papel enorme e urgente. E aqui me volto à educação formal, em qualquer nível. A não construção de algumas estradas ou a construção e operação de estradas melhores dependem de suporte popular. Quanto mais as pessoas estiverem esclarecidas sobre as tragédias que acontecem diariamente nas nossas estradas, ou em decorrência delas, menos ouviremos o mantra de que “essa ou aquela medida é cara, muito cara!”, como que afirmando “isso não vale a pena!”.
No momento em que a dimensão dos inúmeros mecanismos pelos quais a nossa fauna sofre nas estradas, talvez explicitamente com a crueldade com que ela acontece e porque acontece, as mudanças tão necessárias, já desde a origem desses projetos, poderão se tornar realidade.
Em muitas salas de aula, mas não em todas, a fauna e os animais que a constituem ainda são muito abordados como formados por cabeça, tronco e membros (abordagem excessivamente morfo/anatômica), funcionando ou tendo função (e utilidade) A, B, ou C, com nomes complexos e impronunciáveis, eventualmente ocorrendo ali e aqui. A considerabilidade ética, a crueldade de algumas das nossas práticas e negligências (abordadas em múltiplas colunas e reportagens aqui no Fauna News) precisam fazer parte dos conteúdos discutidos em sala de aula. As mudanças necessárias e possíveis nas atitudes individuais e nos regramentos coletivos, também.. E não como complemento, mas com protagonismo.
Pode ser esse um caminho possível para nossa fauna se tornar menos invisível e ganhar vozes comprometidas?
Negar de antemão (tão em evidência nessa nação), não é uma opção. Duvidar é uma possibilidade. Estudar é uma obrigação. A Psicologia da Conservação ou Psicologia Ambiental pode influenciar um caminho. Essa é minha curiosidade do momento…
À todes professores, minha admiração!!
Obrigado, Antonieta de Barros.
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