Problemas ambientais: o sistema se adapta

Em um mundo de propostas ambientais, muitas delas rasas e carregadas de ideologia, deveríamos focar em maneiras eficazes de resolução dos problemas óbvios que nós mesmos produzimos.

Sempre fui demasiadamente crítico quanto às decisões – de todo tipo, não só ambientais – tomadas por políticos e “autoridades” que não detém conhecimento técnico para isso ou sequer vivenciaram diretamente os problemas. Normativas envoltas em interesses políticos de pessoas que vislumbram oportunidades são lugar comum. Pareceres técnicos que não se encaixem em interesses econômicos ou ideológicos não interessam. Para esse, a solução veio rápido, pois já existe uma gama de pareceres técnicos e opiniões compradas. As perícias oficiais que o digam: para cada laudo oficial, surge outro produzido por empresa particular, devidamente paga para contradizê-lo.

Tráfico de animais 

Em meio a essa engrenagem azeitada à ouro de tolo, encontramos vários exemplos, podendo começar pelo tráfico de animais silvestres. Nos primórdios de nossa legislação ambiental, legisladores “iluminados” teorizaram que se deixássemos para entes particulares a responsabilidade da criação em cativeiro daquela fauna silvestre mais cobiçada na natureza, diminuiríamos o impacto desse crime. Como bem dizia o personagem capitão Nascimento: “o sistema se adapta, parceiro!”. De repente vários criadores autorizados – principalmente comerciais – passaram a fazer parte da rota desse comércio ilegal, misturando animais por lá nascidos com outros provenientes de “reservatórios” já conhecidos.

Será que a ingenuidade faz parte, também, dos profissionais que militam nessa área? Sempre afirmei que o endemismo existe para facilitar a nossa vida. Através dele, sabemos quem são as vítimas e de onde saem. O mercado para onde vão e o perfil de quem comete o delito cabe à nossa capacidade de raciocinar. Que tal dirigirmos os esforços para a origem do problema?

Unidades de conservação, APPs e água de lastro

Qual seria mesmo o objetivo de demarcarmos extensas áreas protegidas como “santuários”, destinando pomposos recursos – que tradicionalmente não chegam a seu destino de forma prática – se não conseguimos, faz anos, minimizar os resultados vergonhosos? (Só lembrando que esconder ou deixar de divulgar esses dados, como fazem alguns órgãos dependendo da política do momento, também não ajuda em nada, apenas mascara o crime).

A conclusão de quem trabalha diretamente na área é lógica: quanto mais distante o animal vitimado pelo tráfico estiver de seu hábitat, mais recursos e esforços serão necessários para alojar, cuidar e reintroduzir.

Outro exemplo histórico deu-se na implementação das Áreas de Preservação Permanentes (APP). Neste imenso território, temos biomas bem caracterizados. A densidade vegetal da Mata Atlântica não se compara com a da Caatinga ou Cerrado, por exemplo. Se o principal objetivo da criação de APP de cursos d’água e outros corpos hídricos naturais é a manutenção de seu potencial com proteção de seus limites através de sua vegetação, por que não estabelecer critérios diferenciados para biomas com densidade vegetal menor? O staff político vislumbrou que, aumentando, os limites de proteção para biomas com densidade menor, reduziria o poder do coronelato e o aproveitamento econômico.

Outro grande problema encontrado com frequência em unidades de conservação situadas em cidades costeiras é a bioinvasão de espécies exóticas via água de lastro de embarcações. Alguns anos atrás, na Estação Ecológica de Carijós, situada ao norte da ilha de Santa Catarina, foi identificada uma espécie exótica de caranguejo. Como se já não bastassem as espécies vegetais alóctones que por ali aparecem, uma espécie de crustáceo em unidade de proteção integral causou inúmeros problemas e preocupações. Espécies exóticas são transportadas de um local para outro através das águas de lastro das embarcações de grande porte (bombeamento da água do mar para equilíbrio dos navios), podendo, também, transportar microrganismos patogênicos e produtos tóxicos.

Os números são gigantescos: estima-se que em torno de 10 bilhões de toneladas de água sejam transferidas anualmente como lastro. Até o ano de 2002, no Brasil, já haviam sido identificadas cerca de 30 espécies bioinvasoras introduzidas via água de lastro (cabe salientar que nossas pesquisas quanto a esse problema são bem deficientes comparadas com outros países). Apesar da necessidade de apresentação do “relatório de água de lastro”, no qual todos os navios deveriam descrever a trajetória da água utilizada como lastro (de onde veio, onde foi trocada e onde foi descarregada, de acordo com NORMAM-08), o chamado “deslastro” é proibido em todo o território nacional dentro das 200 milhas náuticas, excetuando-se quando coloca em risco a segurança da embarcação por condições adversas de tempo.

Mas então, por que tantos casos de bioinvasão em nossa costa? Simples: o não atendimento às normas por questões econômicas e deficiência na fiscalização. O custo de manter uma grande embarcação em espera em uma baia ou porto é altíssima. Para ganhar tempo, tripulações iniciam o processo de descarrego dentro das águas territoriais até a atracação. Todos sabem que isso acontece? Sim!

Caça e javalis

Para finalizar, gostaria de dar minha opinião sobre a caça autorizada do javali. Sem dúvida, ele se tornou uma praga para as lavouras e outras espécies animais. Como fazer o controle e qual tipo de abate se faz necessário, deixo para os especialistas.  A questão que coloco aqui foi autorizar que esse procedimento fosse feito através do uso de armas de fogo. O animal é perigoso e a necessidade de manter distâncias seguras é fundamental, mas ao introduzir os caçadores, mesmo que devidamente cadastrados e autorizados, a resultante seria uma caça esportiva com todos os problemas advindos, principalmente o da criação oculta de novos exemplares para soltura no meio ambiente com o objetivo de realimentar esse tipo de abate. Lembram-se do capitão Nascimento que citei lá em cima?

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