Veterinária, mestra em Epidemiologia, doutora em Patologia e com pós-doutorado pela San Diego Zoo Institute for Conservation Research (EUA). É professora de Medicina de Animais Selvagens da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisadora colaboradora do Instituto Brasileiro para Medicina da Conservação – Tríade
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Na rotina dos centros de triagem e de reabilitação de animais silvestres, assim como nas clínicas veterinárias, é comum a chegada de animais silvestres que sofreram algum tipo de trauma devido ao ataque de animais domésticos como cães e gatos. No geral, os ataques são fatais e esses casos são uma ínfima parte da predação que acontece em fauna silvestre de vida livre, sendo uma grande ameaça à conservação da biodiversidade.
Estima-se em milhões a população de cães e gatos domésticos no mundo todo. A conta seria de um cão ou gato para cada 5 a 8 pessoa na Terra. A abundância desses animais cria um grande potencial para influenciar os ambientes nos quais eles vivem. Os cães domésticos geralmente vão atrás de presas maiores ao passo que os gatos predam animais menores, são exímios caçadores e, muitas vezes, e não se alimentam da presa morta.
A extensão dos impactos causados pela predação dos animais silvestres pelos cães e gatos depende do tempo que eles permanecem fora de suas casas e da extensão da área que frequentam. Os animais permanecem diferentes tempos ao ar livre, desde aqueles que não saem de suas casas até os ferais, que já não dependem dos seres humanos para sobreviverem.
Os impactos são ainda maiores em ambientes como ilhas, onde cães e gatos conseguem se expandir ainda mais devido à falta de competidores e predadores e onde espécies nativas são muito suscetíveis por não terem evoluído com essa fauna doméstica. No Brasil, em Fernando de Noronha, por exemplo, há uma população de gatos ferais estimada em mais de mil animais, sendo uma das densidades mais altas do mundo e que colocam em risco a sobrevivência de espécies de aves e répteis nativos.
O impacto dos cães e gatos domésticos mantidos de forma inadequada vão além da predação. Podem ocorrer hibridizações, competição, transmissão de patógenos e alterações comportamentais dos animais silvestres nativos.
Para diminuir tais impactos na biodiversidade, existem ações que podem ser feitas, tanto pelos tutores do animais quanto pelo poder público.
Os tutores devem manter os seus animais em casa e quando saírem, que seja com o uso de coleiras. Até mesmo os gatos, se acostumados desde pequenos, também devem passear de coleira. Caso os animais forem passear soltos, que seja em áreas onde não há risco de predação das espécies nativas e sempre sob supervisão de seus cuidadores. Manter os animais em casa durante a noite também é uma importante medida. Castrá-los e mantê-los bem alimentados (não é tão eficiente para gatos) também pode ajudar. O uso de aparatos sonoros ou visuais nas coleiras possuem resultados controversos, mas há relatos de diminuição da predação de aves e mamíferos e um pior resultado para os anfíbios, répteis e invertebrados.
O poder público também tem a sua responsabilidade e pode agir por meio da educação da população, campanhas de castração, controle de animais ferais, não permissão de animais domésticos em áreas de conservação, limitação do número de animais domésticos nas propriedades e legislações adequadas que tratam do tema.
Mesmo que não haja uma solução definitiva, tais medidas certamente corroborariam para a conservação da biodiversidade.
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