
Artigo da Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil, citada pelo biólogo Igor Morais em “Por que não acredito mais no zoológico brasileiro?“, publicado pelo Fauna News em 11 de janeiro de 2020.
Por Associação de Zoológicos de Aquários do Brasil (AZAB)
Presidente: Mara Cristina Marques, bióloga, Zoológico de São Paulo
Vice-presidente: Claudio Hermes Maas, biólogo, Zoológico de São Paulo
Diretor Financeiro: Gladstone Corrêa de Araújo, biólogo, Zoológico de Belo Horizonte
Diretora de Departamentos: Cláudia Almeida Igayara de Souza, médica veterinária, Zoológico de Guarulhos
Diretora de Secretaria: Nancy Marya Santana Banevicius, bióloga, Zoológico de Curitiba
Diretora de Administração: Cláudia Cristina da Costa Ladeira, zootecnista, Zoológico de Bauru
Diretor de Comunicação: Hugo Gallo Neto, oceanógrafo, Aquário de Ubatuba
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Obstinados e idealistas, já quisemos mudar o mundo em um dia. Amadurecemos e passamos a lidar com situações desfavoráveis de maneira mais positiva. Ainda assim, nunca perdemos a esperança e a crença nos nossos ideais e decidimos agir. De estagiários a profissionais de zoológicos e aquários com muitos anos de carreira, vimos muitas coisas acontecerem, algumas boas, outras muito difíceis, mas nunca nos abstivemos de participar das mudanças.
Primeiro, mudamos nossa própria visão do que deveriam ser os zoológicos e aquários e trabalhamos para que essa mudança de uma concepção de zoológico antiga para uma visão moderna se concretize. E que isso aconteça em todos os zoos e aquários, sem distinção. Desde o princípio, sabíamos do imenso desafio, em um país como o Brasil, com tantas diferenças regionais, estruturais e culturais, e com uma vasta biodiversidade e as inúmeras ameaças à sua conservação. Talvez fosse mais sensato desistir, mas acreditamos que cada um tem responsabilidade com o planeta e todos os seres que nele habitam, e que a conservação é algo pelo que vale a pena lutar. Assim, como grupo de profissionais que suporta a AZAB (Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil), optamos por enfrentar o desafio, nos unir e trabalhar voluntariamente, após cumprirmos nossas jornadas nos zoos e aquários onde atuamos. Atualmente, a AZAB tem o reconhecimento dos setores que tem relação com sua atividade e interage com programas e projetos em nível estadual e nacional no Brasil, além de fomentar parcerias com instituições internacionais reconhecidas no setor.

Em 2018, assinamos o Acordo de Cooperação com o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e o Ministério do Meio Ambiente para a gestão do manejo ex situ (em cativeiro) de 25 espécies ameaçadas, o que constitui outro grande desafio. Desde 2007, com o fim dos Planos de Manejo da SZB (antiga denominação da AZAB) em decorrência da criação do ICMBio e suas novas atribuições, o manejo ex situ não tinha nenhuma forma de gestão pelos órgãos oficiais, o que tornava muito difícil manejar populações visando a conservação. Com 10 anos de ausência de diagnóstico e planejamento, foi necessário retomar o processo praticamente do início. Com a assinatura do acordo, os programas de manejo ex situ elaborados e gerenciados pela AZAB passam a ser reconhecidos pelo governo como ferramentas de conservação.
Para apoiar o processo, a AZAB também promoveu a capacitação de técnicos de zoos e aquários e do ICMBio para o manejo das populações e tem custeado a manutenção dos studbooks (registros completos de cada animal de espécies específicas mantidas sob cuidados humanos) na plataforma Species 360, utilizada pela maioria das associações do mundo. Diversas espécies já estão sendo manejadas de acordo com as recomendações dos studbooks, em apenas dois anos do programa. Os desafios de ampliação do programa seguramente serão uma constante para a AZAB. Isso faz parte do crescimento e amadurecimento de todos, mas o processo foi iniciado, com resultados consideráveis e a participação de novos parceiros institucionais, reforçando que, de fato, estamos no caminho certo para o cumprimento de nossa missão.
Com o objetivo de contribuir com o desenvolvimento qualificado dos zoológicos, a AZAB encaminhou ao Congresso Nacional em 2019, através do deputado federal Rodrigo Agostinho, o projeto de lei nº 3.336/2019, que prevê o compromisso com a atuação dos zoos e aquários na conservação da biodiversidade e na promoção do bem-estar animal. O projeto de lei já foi aprovado na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados e tramita agora na Comissão de Constituição e Justiça. Articulações como essa possibilitaram que a AZAB se tornasse entidade de referência no âmbito político, passando a ser procurada para opinar sobre diversos projetos que tramitam na Câmara e têm relação com nossa atividade.

Outro exemplo prático de atuação da entidade ocorreu na época dos incêndios na região do Pantanal, em 2020, quando da criação da campanha ‘Zoos e Aquários pelo Pantanal’, liderada pela AZAB, em que profissionais de zoos e aquários e parceiros dedicaram tempo e conhecimento especializado, contribuindo com as equipes que estavam na linha de frente, através da doação de equipamentos, medicamentos e outros insumos.
Fazemos parte de associações como a ALPZA (Associação Latino-americana de Parques Zoológicos e Aquários) e WAZA (Associação Mundial de Zoológicos e Aquários), com ações conjuntas e alinhadas com a comunidade internacional de zoos e aquários. Na WAZA, passamos a integrar o comitê de bem-estar animal, em reconhecimento aos esforços que têm sido feitos no Brasil pela AZAB para a promoção do bem-estar animal nas instituições associadas e pela importância de nosso país no cenário mundial.

Implantamos em 2017 um programa de certificação em bem-estar animal para zoos e aquários membros da AZAB, em parceria com a Wild Welfare, ONG internacional especializada em bem-estar de animais selvagens, alinhado com as diretrizes da WAZA. Somos responsáveis por realizar a capacitação de auditores, realizar processos de vistoria e certificação das instituições associadas. No momento, temos 29 processos em andamento e 10 instituições certificadas. Apesar do impacto nas visitas de campo, em função da pandemia, seguimos com a atualização do processo e o aprimoramento da metodologia de trabalho, tendo em vista o atendimento aos requisitos da WAZA.

Todos os esforços têm como objetivo final contribuir com o aprimoramento do processo de gestão dos nossos associados. Os wokshops realizados sobre Planos de População, por exemplo, resultaram em um melhor planejamento sobre as espécies que cada instituição pretende manter e seu papel, base essencial para o bem-estar e a conservação. Esse processo de discussão resultou, inclusive, para algumas instituições, na revisão do plantel, com destinação apropriada de espécies exóticas e foco na conservação de espécies nativas locais, como da Caatinga e da Mata Atlântica.
O que a AZAB tem buscado, de acordo com sua missão, é agregar os zoos e aquários brasileiros, de forma que possam efetivamente cumprir suas funções e estimular os jovens profissionais a se capacitarem para, no futuro, atuarem e assumirem a gestão dos empreendimentos.
A administração da AZAB hoje é desempenhada pela Diretoria, Secretaria Executiva, Diretoria de Conservação, Conselhos Fiscal e Consultivo e os Comitês de Educação, Bem-estar, Comunicação e Nutrição, com a participação de 42 profissionais de 23 diferentes instituições das diversas regiões do Brasil, entre técnicos de zoos e aquários e representantes de instituições de ensino superior e outros órgãos como colaboradores.
É preciso que os profissionais, atuais e futuros, participem e se engajem nesse esforço, pois o que faz uma instituição não é somente seu sistema de gestão ou sua natureza jurídica, são as pessoas que nela atuam. Temos no Brasil profissionais extremamente competentes e compromissados, que desenvolvem seu trabalho com ética, respeito, empatia e humildade, sem o que a qualificação técnica valeria muito pouco. É nessas pessoas que acreditamos para dar um futuro aos zoológicos e aquários do Brasil e é por elas e com elas que trabalhamos.
O trabalho em um zoo ou aquário, seja ele público ou privado, grande ou pequeno, é sempre desafiador e, ao mesmo tempo, gratificante. Por isso, estimulamos os novos profissionais e estudantes a conhecer e participar da vida das instituições e da Associação.
A conservação precisa de esperança e há muitas coisas positivas acontecendo, apesar do cenário tão difícil que estamos vivendo.
Temos certeza que fazer a mudança acontecer é muito mais enriquecedor do que apenas censurar os esforços alheios ou imprimir fórmulas importadas de outras realidades, que podem, de fato, ser consideradas como referência, mas nunca copiadas, pois as realidades, desafios e oportunidades são distintas. A história precisa ser construída à luz da realidade e cultura nacionais e temos que buscar nossa própria identidade.
Mesmo que ainda não estejamos no patamar ideal que almejamos, cada passo adiante deve ser valorizado, pois sem começar nunca se chega a lugar algum, e mudanças reais não acontecem tão depressa quanto gostaríamos.
Todos os zoos, aquários e associações renomadas que conhecemos hoje começaram um dia, com dificuldades, desafios e obstáculos a vencer e, certamente, foram alvo de muitas críticas, que, apesar de tudo, as impulsionaram.
Se são grandes hoje é porque um dia ousaram acreditar e começar a mudar…
Nós preferimos acreditar!
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