Por Ingridi Camboim Franceschi
Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde é mestranda, sendo integrante do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF)
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Normalmente, nós, seres humanos, nos sentimos mais sensibilizados quando vemos um animal de estimação ou animal doméstico atropelado, ao contrário quando envolve um animal silvestre. Isto está associado ao fato de sentirmos mais empatia pelos animais que temos mais contato, como os pets, ou até mesmo com os mamíferos em geral. Esse tipo de sentimento pode influenciar quando estamos dirigindo e precisamos decidir se freamos o carro para evitar o atropelamento de um animal ou seguimos adiante. Uma recente pesquisa de iniciação científica busca avaliar as respostas das pessoas diante de decisões de colisão com animais.
Quando um motorista vê uma cobra na rodovia, usualmente, não considera desviar ou pode cogitar ir em direção a ela com a intenção de atropelá-la, pois, geralmente, as cobras são vistas como animais sem valor e/ou perigosos. Porém, se esse motorista vê um cachorro doméstico ou até mesmo silvestre, ele talvez considere reduzir a velocidade para evitar a colisão, pois o animal pode remeter a imagem do seu próprio pet ou pelo simples fato de ter alguma afeição à espécie. Ou ainda, dependendo do porte do animal, pode ser apenas uma reação de autoproteção.
A questão é: o que fazer para que outros animais sejam valorizados?
Independentemente do animal ser doméstico ou silvestre, alguém deve ser responsabilizado pelo atropelamento. Já discutimos sobre quem tem a responsabilidade sobre as fatalidades em outro artigo. Atualmente, existe um projeto de lei, o 1.362/2019, que visa tornar obrigatória a prestação de socorro ao animal atropelado, para animais domésticos, ou solicitar ajuda ao órgão competente, no caso de silvestres. Caso contrário, o condutor poderá ser multado.
Contudo, seria a punição (multa) a forma mais eficaz de conscientizar as pessoas? De fato, algumas pessoas só entendem quando “pesa no bolso”. Porém, considero fundamental a educação ambiental, pois é por meio dessa medida que transmitimos o conhecimento e fazemos as pessoas refletirem sobre suas ações.
A educação ambiental permite informar as pessoas sobre suas obrigações com seus animais domésticos e pets, bem como a importância da fauna silvestre no meio ambiente, muitas vezes não compreendida. O assunto também poderia ser discutido nas aulas de formação de condutores, ou seja, nas autoescolas, pois envolve também a nossa segurança na circulação pelas vias, além da nossa responsabilidade com o meio ambiente. Ao final, precisamos saber valorizar a fauna silvestre, que desempenha um papel fundamental no funcionamento dos ecossistemas, onde também nos encontramos.
Algumas espécies têm uma funções ecológicas importantes, mas são repudiadas, como o gambá. Além disso, também precisamos reconhecer nossas responsabilidades sobre os animais domésticos, pois, em algum momentos os adotamos ou compramos. Logo, temos o dever de cuidar, como está em outro projeto, o PL 3.676/2012.
Quando estamos dirigindo, temos que prestar atenção em muitas coisas ao mesmo tempo e as condições climáticas e o período do dia influenciam nesse processo. A nossa atenção ao circular na via é fundamental para conseguir evitar atropelamentos. Então, ao nos depararmos com um animal caminhando na rodovia, independente de qual espécie, temos que assumir uma conduta de direção defensiva, salvar a vida dele bem como a nossa.
Contudo, muitas vezes, a decisão precisa ser feita em questão de segundos. Nós podemos desviar rapidamente, no reflexo, ou decidir que a colisão é menos arriscada para nós. Obviamente, existem casos em que as colisões são inevitáveis, mas devemos sempre buscar pelo bem comum e lembrarmos que um “animal bonito e fofo” tem tanto valor quando um “animal feio e desagradável”.
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