Biólogo, mestre em Biologia Animal pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É coordenador do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) Tangará da Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH), em Recife, e coordenador técnico do projeto de reabilitação, soltura e monitoramento de papagaios-verdadeiros intitulado de Projeto Papagaio da Caatinga
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Durante bastante tempo, os centros de triagem de animais silvestres (Cetas) foram vistos como locais de simples depósito de fauna apreendida ou resgatada e, com isso, muito dos centros foram sendo subdimensionadas e esquecidos.
Porém, os centros de triagem têm uma função primordial: serem sentinelas de doenças, sendo elas zoonoses ou não, que podem estar afetando o nosso meio, de áreas urbanas a matas. Além de todo o apelo de conservação que eles representam por serem parte do combate à extinção de espécies da fauna por vias de tráfico de animais silvestres.
No período de quarentena, os Cetas têm promovido ações para diminuir o fluxo dentro de suas estruturas, porém alguns serviços não podem parar. Principalmente, a manutenção e o cuidado com os animais que já existem no plantel e com os novos animais resgatados feridos, doentes e filhotes.
Referente aos resgates, é evidente que não podemos parar de dar assistência aos animais que, por interferência humana, vêm sendo afetados, como é o caso dos atropelados, eletrocutados na rede de distribuição de energia, etc. Nos casos dos doentes, eles não podem deixar de ser recebidos pois são neles que trabalhamos a vigilância contínua das zoonoses (doenças que animais transmitem aos humanos) e epizootias (doenças ocasionais que atingem grande número de animais).
No caso da vigilância, a cada dia vemos que os Cetas vêm atuando como uma unidade primordial para identificar o início e o pico de alguns surtos, como foi o caso da febre amarela e vários Estados do Sul e do Sudeste. Aqui no Nordeste, está prevista a entrada da febre amarela a qualquer momento do segundo semestre de 2020, por isso as notificações a respeito de óbito de primatas têm sido intensificadas e, com isso, vem se identificando o registro de outras doenças que não são consideradas zoonoses e que podem chegar a ser consideradas como tal. E o caso do zika vírus, identificado em alguns primatas encontrados em óbito no estado de Pernambuco e recepcionados pelo Cetas Tangará da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH).
Já para os resgates de filhotes, é necessário que se mantenha os mesmos urgentes cuidados pois o motivo de estar órfão também é advindo de problemas de convívio com humanos. O período reprodutivo das espécies é protegido em todos os tipos de empreendimentos e precisa também ser acolhido numa época de quarentena como esta.
Sobre apreensões de fiscalização, essas em sua maioria estão paradas principalmente porque requerem um contato direto com a população, acarretando ainda mais em disseminação da Covid-19. Porém, os traficantes pouco se importam com tal situação e, ao contrário, estão intensificando suas ações criminosas por saber que as ações de fiscalizações estão reduzidas.
Por fim, reitero a importância dos Cetas neste período de pandemia já que também estamos lidando com uma zoonose advinda do mau uso da fauna silvestre em cativeiro. Os centros de triagem têm o papel fundamental de pilar do processo de regulamentação do uso dessa fauna nativa que tantos segredos ainda nos traz, principalmente pelas consequências da destruição de seus habitat.
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