
Por Dimas Marques
Jornalista e editor responsável do Fauna News
dimasmarques@faunanews.com.br
Uma equipe da Polícia Rodoviária Federal (PRF) prendeu, às 21h de segunda-feira (1º de abril), dois homens que transportavam 60 aves da fauna silvestre brasileira em um Uno. A abordagem aconteceu na altura do Km 194 da BR-153, em Uruaçu (G0), município situado a 280 quilômetros de Goiânia.
Laudson Nunes Galvão da Cunha, de 34 anos, e Jorge Pedro da Silva, de 44, são reincidentes e cometem esse tipo de crime há mais de 10 anos. Jorge é bastante conhecido pela Polícia Rodoviária Federal, que o monitora desde 2017. O comércio de papagaios e araras seria uma das especialidades dele.
Laudson e Jorge adquiriram as aves em Goianésia do Pará (PA). Eles as levariam para a cidade de São Paulo, onde seriam vendidas na feira do rolo da Vila Mara (zona leste da capital paulista).
No momento da abordagem, Jorge dirigia o Uno e Laudson estava ao seu lado. A namorada de Laudson, que carregava no colo o filho de 11 meses, encontrava-se sentada sobre uma caixa de madeira colocada no lugar do banco traseiro do veículo. Dentro, 18 ararajubas, espécie ameaçada de extinção, estavam amontoadas.
Além das ararajubas, foram encontradas distribuídas dentro de bolsas, sacos e caixas de madeira e de sapatos 29 curiós, sete araras-vermelhas, uma arara-tricolor, dois anacãs (papagaio) e três outros papagaios. Os animais estavam debaixo dos bancos dianteiros e no assoalho, sob os pés de Laudson.
Laudson teria admitido ser o responsável pelo carregamento de animais. Ele teria pago R$ 1.500 para Jorge dirigir na viagem entre Guarulhos (SP) e o Pará. O carro pertenceria a um sobrinho de Jorge.
Em declarações aos policiais rodoviários, Laudson teria dito que comprara as aves de sete pessoas na zona rural de Goianésia do Pará. Ele teria pago R$ 200 em cada arara, R$ 50 por papagaio e R$ 10 por curió. Na mais conhecida feira do rolo com tráfico de animais de São Paulo, a da Vila Mara, cada arara seria vendida por R$ 600 ou R$ 700, os papagaios por R$ 400 cada e os curiós por R$ 50.
Laudson também teria afirmado já ter ido ao Pará comprar animais “umas cinco vezes”.
Os dois foram detidos e levados para a delegacia da Polícia Civil em Uruaçu, onde acabaram autuados em flagrante por transportar animais silvestres sem autorização (com os agravantes de envolverem espécies ameaçadas de extinção e praticarem o crime durante o período noturno), por maus-tratos e por associação criminosa. A mulher foi liberada. O sobrinho de Jorge, Jean Cinésio da Silva, apontado como dono do Uno, também está sendo investigado pelo fato de ter emprestado seu veículo para a realização do crime e a possibilidade de integrar o grupo.
Na delegacia, foi estipulada uma fiança de R$ 20 mil para cada um. Como não pagaram, Laudson e Jorge permaneceram presos e foram encaminhados para o presídio local.
As 60 aves passaram a noite sob na base da Polícia Rodoviária Federal em Uruaçu. Na manhã seguinte, uma equipe do Ibama as levou para o Centro de Triagem de Animais Silvestres do órgão em Goiânia. Seis morreram.
Reincidentes
A dupla presa já possui passagens pela Polícia exatamente pela prática de crimes contra a fauna. Há dois anos Jorge é monitorado pela Polícia Rodoviária Federal.
Morador de Guarulhos (SP), Laudson e outro homem foram detidos na noite de 17 de maio de 2009 transportando 150 cardeais (pássaros) e uma arara-vermelha. Eles foram surpreendidos por policiais do Departamento de Operações de Fronteira do Mato Grosso do Sul em um carro na rodovia MS-295, em Eldorado (MS).
Apesar de Jorge alegar ter sido contratado por Laudson para dirigir o veículo durante a viagem para o Pará, o histórico de prática de crimes ligados ao tráfico de animais dele deve ser levado em consideração durante as investigações do caso.
Jorge reside em Francisco Morato, cidade próxima a Guarulhos, e é conhecido como Pernambuco. Em 24 de janeiro de 2007, ele foi detido durante uma operação da Polícia Rodoviária Federal em Itaobim (MG). O ônibus em que estava foi parado no km 117 da BR-116 e 150 pássaros foram encontrados no bagageiro do veículo. Jorge foi identificado como o responsável pelos animais e detido.
Em 17 de maio de 2011, durante uma abordagem realizada pela Polícia Militar Rodoviária de São Paulo na altura do Km 110 da rodovia Raposo Tavares, em Sorocaba (SP), Jorge e um homem de 25 anos foram flagrados transportando 750 aves silvestres em um veículo. Três animais estavam mortos.
Quatro meses depos, em 15 de setembro de 2011, Jorge foi novamente detido. Dessa vez, em Bataguassu (MS), na famosa rota do tráfico de papagaios-verdadeiros que abastece a Região Metropolitana de São Paulo com aves nascidas no cerrado sul-mato-grossense durante o segundo semestre de cada ano. Ele e outro homem estavam em um veículo quando uma equipe da Policia Rodoviária Federal tentou abordá-los.
A dupla tentou fugir e abandonou o carro, onde estavam 306 filhotes de papagaios-verdadeiros e um de arara. Apesar da tentativa, os policiais conseguiram capturá-los.
O flagrante seguinte de Jorge aconteceu em 28 de fevereiro de 2012. Ele foi detido pela Policia Militar paulista na rodovia Anhanguera, em Igarapava (SP), transportando 280 pássaros-pretos no porta-malas de um Santana. Os animais teriam sido adquiridos em Minas Gerais. Oito morreram.
O envolvimento de Jorge com o tráfico de papagaios e araras fez com que ele se transformasse em um dos alvos da Operação Cipó contra o comércio ilícito de fauna. Em 17 de outubro de 2012, agentes do Ibama e policiais federais e militares, após um ano de investigações, cumpriram 20 mandados de busca e apreensão em quatro estados. Nove pessoas foram presas e Jorge era uma delas.
Ao chegarem na casa de Jorge, 400 papagaios e algumas araras foram encontrados em um quarto nos fundos do imóvel. No processo judicial consta que “o local era inapropriado para a manutenção em cativeiro de qualquer espécie de animal, haja vista a sujeira, a ausência de ventilação, a falta de luz e espaço físico para a grande quantidade de aves, que estavam encaixotadas umas por cima das outras.”
Jorge chegou a afirmar, em depoimento após sua prisão na Operação Cipó, que “já respondeu cinco ou seis Termos Circunstanciados” (tipo de registro de crime) por envolvimento com atividades ligadas ao comércio ilícito de animais silvestres. Ele chegou a ter a prisão preventiva decretada, mas voltou para as ruas.
E para o tráfico de animais.
Quanto tempo será que ele ficará preso desta vez?