
Por Marcelo Calazans
Técnico em agropecuária, administrador de empresas e fotógrafo. Foi professor da disciplina Fotografia de Natureza pelo Senac (MS)
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Olá para você que me acompanha aqui no Photo Animal.
Neste artigo (que terá três partes), quero contar para vocês a história do Projeto Arara Azul. Além de informações sobre onde tudo começou, falarei um pouco da espécie-chave assistida por esse programa, a arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus). E não, este material não é merchandising e não gerou nenhum tipo de retorno financeiro ao autor. É apenas uma forma de divulgar um trabalho extremamente importante para a preservação da espécie e também informar as outras vertentes do projeto. Considero de altíssima relevância matérias sobre tais ações, visto que o retorno para a biodiversidade é imenso, e, por isso, merecem divulgação e atenção.
A sede do projeto fica em Campo Grande (MS). O mote principal do projeto, como seu nome diz, é o de conservar a arara-azul grande, ave nativa da região ameaçadas de extinção, e promover a proteção da biodiversidade do Pantanal. Suas principais atividades são monitoramento e recuperação das aves e seus ninhos, atividades de educação ambiental e conservação, além de workshops sobre consciência ambiental, cidadania e geração de renda para a população.
No total, são monitorados 741 ninhos espalhados por 57 fazendas no Pantanal sul-matogrossense, com uma população estimada de cinco mil aves. Esse projeto foi idealizado pela bióloga Neiva Guedes e vem desenvolvendo trabalhos de proteção ambiental há quase 30 anos no Pantanal. Além de manter populações viáveis de araras-azuis a médio e longo prazo em vida livre no seu ambiente natural, outros projetos são realizados pelo Instituto Arara Azul: o projeto Aves Urbanas – Araras na Cidade, o projeto Monitoramento da ocupação de cavidades no Pantanal, o projeto de Avaliação da perda de habitat no Pantanal, o projeto Promovendo casa/caixas para araras-vermelhas em Bonito (MS), o projeto Monitoramento de ninhos naturais e artificiais no Pantanal de Mato Grosso, 0 projeto Biologia reprodutiva da Maracanã e o projeto Psitacídeos em áreas verdes em Campo Grande (MS). Há também trabalhos associados e em parceria com outras instituições, como o projeto de genética e biologia molecular das grandes araras com a USP e o projeto Quiropterofauna (morcegos) associada aos ninhos de arara-azul no Pantanal.
A arara-azul-grande
A arara-azul grande é uma ave psitaciforme da família Psittacidae. Também conhecida como arara-preta (Mato Grosso), arara-una ("una" significa "negro" em tupi) e arara-hiacinta. Em 1988, a população total da espécie foi estimada em apenas 2.500 indivíduos. Encontrava-se ameaçada de extinção devido à destruição de seu habitat e ao tráfico de animais silvestres. Em 2014, a arara-azul-grande subiu uma posição na lista vermelha da IUCN, sendo classificada como "vulnerável" (VU).
Devido ao combate ao comércio ilegal de fauna silvestre e à criação de reservas ecológicas, o número de indivíduos dessa espécie cresceu para, aproximadamente, quatro mil exemplares em 2010. Há ainda programas de conservação no Pantanal para plantio de Manduví (árvore escolhida em 90% das vezes pelas aves da espécie para fazer seu ninho) e a distribuição de ninhos artificiais, ações que estão contribuindo para o aumento populacional da espécie. Já são mais de cinco mil indivíduos de acordo com o levantamento realizado pelo Projeto Arara Azul em 2016.
Nome científico
Seu nome científico tem origem no grego anodon (sem dente, desdentado) e rhunkos (bico) e do latim hyacinthina, hyacinthinus, que veio do termo grego huakinthos (do jacinto, referente à flor azul do jacinto europeu). Ou seja, Anodorhynchus hyacinthinus significa “ave da cor do jacinto com bico desdentado”.
Características
Mede cerca de 98 cm de comprimento e pesa 1,5 kg. Coloração inconfundível, principalmente o azul intenso com diferentes tonalidades. A base do bico e o anel ocular são nus e de cor amarela e partes internas das asas e da cauda negras. Gigante entre as araras, a arara-azul-grande é considerada o maior representante da família em todo mundo.
Alimentação
A arara-azul-grande tem sua alimentação especializada em frutos de palmeiras. No Pantanal, ela se alimenta de coquinhos de bocaiúva e acuri. Na região do encontro entre o Piauí, Tocantins, Maranhão e Bahia, se alimenta de piaçava e de catolé. Já na região de Carajás e Altamira (estado do Pará), animais da espécie se alimentam de inajá, babaçu, tucum, gueroba e de alguns frutos de acuri e de bocaiúva.
Reprodução
No Pantanal, cerca de 90% dos ninhos são encontrados em apenas uma espécie de árvore, o manduvi. Na região Nordeste, ela ainda pode usar paredões rochosos para nidificar. A arara passa boa parte da vida em casal em põe de um a três ovos, que são incubados por cerca de 27 a 30 dias, sendo que geralmente apenas um filhote sobrevive.
O filhote permanece no ninho, em média, por 107 dias. Após a saída, os jovens ainda são dependentes dos pais para alimentação, sendo que a separação deles geralmente ocorre após 12 a 18 meses. Devido a esses fatores, a arara faz apenas uma postura por ano ou, por vezes, apenas a cada dois anos.
Mais informações sobre a arara-azul-grande, podem ser encontradas no Wikiaves, que usei como fonte.
Mas, voltando ao assunto, destaco mais informações sobre o Projeto Arara Azul.
O projeto compreende o acompanhamento das araras na natureza, o monitoramento dos ninhos naturais e artificiais numa área de mais de 400 mil hectares, além do trabalho em conjunto com proprietários locais para a conservação da espécie. O trabalho desenvolvido utiliza a arara-azul como uma espécie-bandeira para promover a conservação de outras espécies, da biodiversidade e do Pantanal como um todo.
O projeto é realizado no Pantanal, principalmente do estado de Mato Grosso do Sul e esporadicamente no Mato Grosso.
Desde 1998, com a implantação da primeira base de campo no Refúgio Ecológico Caiman, o projeto tem uma equipe em tempo integral, geralmente com uma ou duas pessoas no primeiro semestre e três ou quatro no segundo semestre para o desenvolvimento das atividades no local e em outras fazendas na região de Miranda (MS). Com apoio da Pousada Araraúna, que o projeto considera sua segunda base, realizam os trabalhos na região de Rio Negro (MS) e Aquidauana (MS). E já na região da Nhecolândia e Abobral, com o apoio da Pousada Xaraés, monitoram ninhos pelo menos duas vezes por ano.
No período da seca, de junho a novembro, praticamente todos os ninhos conseguem ser acessados com picapes. Na época das cheias, alguns ninhos ficam isolados pela água. Nessas ocasiões, a equipe se locomove de trator, barco, cavalo ou, se necessário, a pé, levando todo o equipamento em mochilas por até alguns quilômetros, dependendo da localização do ninho.
De acordo com a época do ano, se for período reprodutivo (segundo semestre), período não reprodutivo (primeiro semestre), variações de condições climáticas e necessidades individualizadas, as atividades do projeto podem variar.
Além disso, ao longo do ano, são desenvolvidas ações com o envolvimento da comunidade, por meio de trabalhos de educação ambiental com crianças, peões e fazendeiros, e nas escolas são proferidas palestras. Também são realizadas oficinas de corte e costura e artesanato, entre outras, para mulheres carentes, e a participação em feiras e exposições.
Aqui vale um adendo e uma comemoração: em 2015, foi localizado em Campo Grande, por um fotógrafo colaborador do Instituto Arara Azul, o primeiro ninho da espécie, O ninho é controlado e monitorado pelo projeto desde então. Tive a sorte de fazer alguns registros das aves no ninho e nos arredores, o que me deixou extremamente feliz. Seguem duas fotos.
Continuamos nosso encontro no próximo artigo. Até lá!
Fontes:
Instituto Arara Azul
Wikiaves
Fundação Toyota do Brasil