PHOTO ANIMAL – A fotografia cientifica e seu papel na conservação da biodiversidade (parte II)

12 de julho de 2019

Ansel Adams em, aproximadamente, 1950

Por Marcelo Calazans
Técnico em agropecuária, administrador de empresas e fotógrafo. Foi professor da disciplina Fotografia de Natureza pelo Senac-MS
photoanimal@faunanews.com.br

Olá!

Continuando com a temática do artigo anterior, vou apresentar um dos expoentes da fotografia ambiental: Ansel Adams. Mas antes, vou discorrer um pouco sobre a preocupação com a sustentabilidade do planeta, tema em que temos nossas atenções voltadas para o desenvolvimento de políticas públicas e mudanças de atitude pessoais e coletivas para diminuirmos os impactos negativos gerados pela ação do homem.

Nesse âmbito, a educação ambiental surge como uma excelente ferramenta de transformação humana e social para conservação ecológica e manutenção do equilíbrio dos ecossistemas, através, dentre vários meios, da arte e da produção cultural voltada para a sensibilização. E claro, a fotografia é um instrumento midiático importantíssimo para isso, já que alia informação à arte – o conteúdo imagético leva ao conhecimento e, ao mesmo tempo, como toda forma de arte, à apreciação estética. Portanto, revela-se como uma grande estimulação natural à sensibilidade humana, através da imagem construída de forma a captar o olhar de forma contempladora e questionadora sobre as transformações do meio por nossas ações.

E o fotógrafo de natureza, voltado ao registro ambiental, visa empregar esses registros com o objetivo de valorizar o meio ambiente natural, aliando a estética da fotografia de natureza e de paisagens naturais à consolidação de uma consciência ecológica que reconheça a importância e o valor de todas as formas de vida. A intenção é formular uma nova percepção sobre a natureza, valorizando-a como patrimônio natural através da poética visual fotográfica.

Mas vamos ao assunto do artigo: Ansel Adams.

Ansel Easton Adams nasceu na cidade americana de São Francisco, em 1902. Sua infância foi marcada pela adoração ao piano, mas foi na fotografia que encontrou seu verdadeiro amor ao ganhar uma câmera Kodak dos pais aos 16 anos, durante uma viagem em família para o Parque Nacional de Yosemite. E esse é o lugar que ele registrou sem parar até o fim da sua vida, aos 82 anos. Em 1919, associou-se ao Sierra Club, a primeira ONG americana dedicada à preservação do meio ambiente. Durante a década de 1920, organizou diversas expedições fotográficas ao Yosemite, permitindo que seu trabalho fosse reconhecido na época. Adams conciliou o meio ambiental com uma estética apurada e uma técnica profissional sem igual.

A fotografia de natureza é muito evidente em seu trabalho. Em 1926, Adams tirou uma importante fotografia do mesmo parque Yosemite, que visitava quando criança. A foto conhecida como “Monolith, a face of half dome”, é um marco inicial do reconhecimento como fotógrafo. 

Monolith, a face of half dome, uma das mais famosas imagens feitas por Adams

Adams foi influenciado por Albert M. Bender, um milionário de São Francisco. A amizade de Bender o encorajou e possibilitou a segurança financeira para que Ansel mudasse drasticamente sua vida e publicasse seu primeiro portfólio, Parmelian Prints of the High Sierras. Bender fez com que o quase pianista que tocava por jornada se tornasse um artista cujas fotografias, como o crítico Abigail Foerstner escreveu no Chicago Tribune, fizesse “(…) para os parques nacionais algumas coisas comparáveis somente com o que os épicos de Homero fizeram de Odisseu”. Embora a transição do Ansel Adams músico para fotógrafo não tenha acontecido imediatamente, sua paixão mudou rapidamente após Bender entrar na sua vida e seus projetos e possibilidades foram multiplicados.

Já na década de 1930, Adams intensifica o processo criativo de fotografias de natureza. Ele sempre levou a técnica fotográfica muito a sério, pois gostava de testar novos equipamentos em suas produções. Em seu livro A câmera, ele escreveu: “Prefiro mostrar a natureza de diferentes modelos de câmeras e seus recursos, esperando que o fotógrafo possa levar essas discussões em consideração no contexto de suas intenções e de seu próprio estilo”.

Muitos especialistas consideram o trabalho de Adams à beira da perfeição, enquanto outros o criticam negativamente pela excessiva busca do ideal estético. Aí se cria uma discussão pertinente, pois é fato que o americano buscava a perfeição harmônica em suas imagens. Acredito que ele tenha conseguido, como é possível ver em registros do seu trabalho. O cara era fera!

Na mesma década de 30, Adams conhece o fotógrafo Paul Strand, cujas imagens lhe provocaram um poderoso impacto e o ajudaram a sair do estilo pictorial. Adams começou a buscar um estilo fotográfico em que a claridade das lentes era enfatizada e a cópia final da imagem ficava sem a aparência da inicial, pois era manipulada na câmera ou na câmara escura.

1932 foi um ano importante para Adams e para a história da fotografia. Na busca de uma fotografia enquanto arte pura, um grupo de fotógrafos funda o “Grupo f/64”. Adams participou da formação, em conjunto com Edward Weston, Willard Van Dyke, Imogen Cunningham e outros com a intenção de promoverem uma “fotografia reta”. Eles enfatizavam uma fotografia pura, imagens nítidas, máxima profundidade de campo, papéis fotográficos com baixo brilho, concentrando-se unicamente nas qualidades do processo fotográfico.

A concepção de fotografia do f/64 influenciou muito a carreira de Adams, principalmente em seu entendimento de técnica fotográfica. E foi importante para concretizar a fotografia enquanto arte pura.

Um trecho do manifesto do grupo nos ajuda a compreender um pouco da obra de Ansel:

“O nome deste grupo deriva de um número do diafragma das lentes fotográficas. Isso significa um largo alcance de qualidade na claridade e definição da imagem fotográfica que é um importante elemento no trabalho dos membros deste grupo.”

The Tetons and the Snake River (1942), tirada no Grand Teton National Park, em Wyoming, EUA

North Palisade from Windy Point (1936). Windy Point (Kings Canyon National Park) em North Palisade, Sierra Nevada, California, EUA

Em 1934, Adams foi eleito diretor do clube f/64, reconhecido como o “artista de Serra Nevada e defensor de Yosemite”. 

Entre suas contribuições está, ainda, o auxílio na fundação do primeiro acervo museológico de fotografias no mundo, o do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA); a criação do sistema zonal, método para predeterminar com precisão o tom de cada parte da cena fotografada na cópia final; e o desenvolvimento do primeiro curso universitário de fotografia, na Escola de Belas-Artes de São Francisco. Muitos de seus livros são apelos em favor da proteção ambiental, como Making a Photograph (1935), My Camera in the National Parks (1950), This Is the American Earth (1960) e Photographs of the Southwest (1976).

Adams, um ferrenho conservacionista que cresceu perto das dunas batidas pelo vento do Golden Gate Park, fez pressão sobre o Congresso e enviou ao governo um livro das suas fotos da cordilheira de Serra Nevada. As fotos influíram vigorosamente na decisão do presidente Franklin Roosevelt de transformar a área de Kings Canyon num parque nacional. 

Embora Adams continue popular e fotógrafos da natureza em todo o país e no mundo continuem a nos oferecer imagens voluptuosas dela, provavelmente o maior número de fotos de paisagens que as pessoas veem na televisão, na internet, no celular e em jornais são imagens da destruição do meio-ambiente. O que se vê hoje se deve em parte às mudanças climáticas: praias, rios, cidades e ilhas inundadas, glaciares diminuindo, incêndios florestais por causa da seca, furacões destruindo cidades e campos. Todas as previsões científicas dizem que tudo isso só vai piorar se não agirmos logo.

Belas paisagens são boas para os olhos, a mente, o espírito. Um dia as imagens poderão ser somente o que restou delas.

Ansel Adams trabalhou por muitos anos como fotografo comercial, registrando imagens para eventos, anuários de parques (entre eles, do próprio Yosemite), concessionárias, empresas de fotografia, etc.

Ele morreu em 1984, em Monterrey (Califórnia). Em sua homenagem, paisagens importantíssimas do Parque Nacional de Yosemite foram rebatizadas, como é o caso da Área Florestal Ansel Adams Wilderness.

Conheça mais sobre Ansel Adams.

Para encerrar, mais algumas imagens feitas por Adams e o poder que elas têm até hoje de despertar a consciência para a conservação do meio ambiente. Até o próximo artigo, pessoal!

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