
Por Marcelo Calazans
Técnico em agropecuária, administrador de empresas e fotógrafo. Foi professor da disciplina Fotografia de Natureza pelo Senac (MS)
photoanimal@faunanews.com.br
E ai, pessoal! Tudo bem com vocês?
Espero que sim.
Como mencionei no último artigo (Vida selvagem e hospital combinam?, de 21 de fevereiro), eu disse que contaria a história de um personagem que é uma inspiração para mim, qual a relação dele com o Hospital São Julião, com a fauna e muito mais. Então vamos lá!
Existem pessoas que fazem a diferença no mundo e esse cara aí da foto (de boné com a letra B) é uma dessas pessoas.
Esse cidadão aí é o Roberto Pellizzer. Ele tem 42 anos e uma relação prá lá de especial com o Hospital São Julião. Seus pais vieram da Itália para trabalhar como voluntários na instituição de saúde, onde tiveram e criaram os cinco filhos. Então já dá para ter uma noção do quanto o lugar é especial para ele.
Roberto morou durante mais de 20 anos na área do hospital e continua trabalhando na parte administrativa da instituição. Como vimos anteriormente, o lugar é cercado por áreas de vegetação de cerrado e mata ciliar, junto a nascentes de córregos. Toda essa miscelânea de paisagens dá ao Roberto a oportunidade de presenciar e registrar com sua câmera cenas incríveis da biodiversidade local.
Na “casa” de Roberto, essa riqueza de fauna já lhe rendeu uma boa quantidade de registros de mamíferos, aves e espécies consideradas raras aqui para o estado de Mato Grosso do Sul, como o jaguarundi (Puma yagouarundi), também conhecido como gato-mourisco. Mesmo não sendo uma espécie ameaçada de extinção, é muito difícil avistar e registrar um tão próximo de área habitada, daí a importância desse achado.
O registro da espécie foi feito em 2018 e de lá para cá Roberto não o avistou mais, porém colheu relatos de outros funcionários da área dizendo que ele continua por ali e que não está mais sozinho. Inclusive, em uma das saídas fotográficas que fizemos juntos, encontramos sinais claros da presença do felino, como pegadas e sua provável toca. Roberto salienta que, como todas as outras espécies animais do local, ele não deve ser incomodado. “Aqui sempre priorizamos a preservação ambiental. Não pode caçar nem pescar. Nós convivemos com os animais em harmonia”.
Da coletânea de fotos que Roberto tem em seu acervo, ele criou um e-book que reúne as melhores imagens que ele já captou na área do hospital. Alguns exemplares foram impressos, pois todo o trabalho foi custeado com recursos familiares. O livro se chama “Animais do São Julião”.
Esse é o trabalho que traz a paixão do autor pela natureza e o quanto ele vive em sintonia com o lugar. O livro apresenta material colhido nas duas reservas naturais existentes na área do hospital, bem como de uma área de cerrado em formação, além de todo levantamento descritivo e quantitativo da fauna local. Tem também fatos históricos e curiosidades relacionadas ao meio ambiente, os registros fotográficos das espécies encontradas por lá e as interações que ocorrem entre elas, como casos de predação e outros.
Além do livro, Roberto está desenvolvendo um trabalho de educação e conscientização ambiental na escola estadual existente dentro da área do hospital. Esse trabalho irá transcorrer do ano de 2020 em diante, com palestras, saídas fotográficas, exposições, aulas práticas na natureza entre outros. Tenho orgulho em dizer que colaboro com esse projeto, que com certeza semeará a cultura da preservação e do conhecimento sobre o meio ambiente nessa geração de alunos, formando cidadãos conscientes do seu papel nessa missão.
São esses os motivos que me fazem admirar e me inspirar no trabalho desse cara, a quem tenho o prazer de chamar de amigo. Esse trabalho de “formiguinha” merece reconhecimento, respeito e apoio. Essa é a finalidade deste artigo: mostrar que qualquer um pode e DEVE desenvolver a ciência-cidadã, contagiando outras pessoas para que, juntos, possamos reverter esse quadro tão perverso em que se encontra nossa biodiversidade. Esse cara é um exemplo a ser seguido, pela perseverança e dedicação com que faz sua parte. Tem e terá sempre meu maior respeito e gratidão.
Abaixo segue uma amostra das espécies já registradas por Roberto na área do São Julião. E para quem quiser conhecer mais sobre seu trabalho, é só acessar seu perfil no site do Biofaces.
Nos próximos artigos, volto a falar da parte técnica da fotografia de natureza. Tem muita coisa boa vindo aí! E claro, sempre que tiver alguma novidade sobre o projeto que estamos, Roberto e eu, desenvolvendo em parceria, trarei notícias para vocês.
Nos vemos daqui uns dias. Até lá!