
Por Kamila Bandeira
Bióloga com mestrado e doutorado em Zoologia pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É pesquisadora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Suas pesquisas estão focadas em Paleontologia de vertebrados
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O cérebro é, com certeza, o órgão mais complexo presente em todos os animais. Responsável por uma miríade de funções sensoriais e, claro, pela inteligência e criatividade, entender um pouco mais sobre a evolução e a anatomia do cérebro em outros animais certamente fornece evidências importantes para compreender melhor não somente a evolução desse distinto órgão, mas a nossa própria. E como é possível investigar o passado de uma estrutura que normalmente se decompõe rapidamente e quase nunca há vestígio no registro fóssil?
A resposta parece ter vindo de um fóssil de 319 milhões de anos, encontrado em uma mina de carvão de Lancashire, na Inglaterra, no século 19: o Coccocephalus wildi, espécie descrita em 1925. Esse pequeno peixe primitivo, com cerca de 20 centímetros de comprimento e que provavelmente se alimentava de pequenos crustáceos e outros animais menores, trouxe uma surpresa inesperada. Dentro de seu crânio estava o cérebro fossilizado, preservado de forma tridimensional.

Essa sensacional descoberta, publicada na prestigiosa revista Nature, foi liderada por um jovem pesquisador brasileiro, Rodrigo Figueroa. Ele é aluno de doutorado da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, e orientado pelo paleontólogo Matt Friedman.
O achado só foi possível graças ao uso da tomografia computadorizada (ou CT-scan), uma técnica não destrutiva muito útil para examinar o interior do crânio dos primeiros peixes com nadadeiras raiadas – grupo no qual estão os peixes que possuem barbatanas sustentadas por hastes ósseas chamadas raios, de onde são conhecidos os principais peixes vivos atuais.
Através da tomografia computadorizada, Figueroa e seus colaboradores ficaram sabendo que no fóssil do Coccocephalus wildi havia tecidos moles do cérebro e nervos cranianos. Assim, a descoberta não só ajudou a desvendar os primórdios da evolução de peixes com nadadeiras raiadas como também revelou o mais antigo e bem preservado cérebro de um vertebrado já encontrado até hoje.
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