Por Vitor Calandrini
Primeiro-tenente da PM Ambiental de São Paulo, onde atua como chefe do Setor de Monitoramento do Comando de Policiamento Ambiental. Mestre e doutorando em Sustentabilidade pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (USP)
nalinhadefrente@faunanews.com.br
O tráfico de animais é o terceiro maior tráfico no mundo, ficando atrás apenas do de drogas e armas, e responsável por movimentar cifras que chegam a casa dos bilhões de dólares ao ano no mundo. É ainda uma das maiores causas de perda de biodiversidade, ficando atrás apenas, por exemplo, da perda de habitat e a introdução de espécies exóticas invasoras.
Que ele é uma realidade nas grandes capitais e possui forte aceitação cultural já é algo de conhecimento coletivo, haja vista a baixa reprovação social da conduta. Atualmente, ao transitar pelas grandes cidades, nos deparamos com a compra e a venda de animais silvestres em feiras livres e animais expostos em comércios e nos muros externos das residências.
Algumas das principais perguntas que fazemos sobre o tráfico de animais são: quantos animais cada traficante possuí? Quais são as principais espécies traficadas? Quantos animais circulam nessa atividade ilícita? As respostas se tornam essenciais para podermos entender essa atividade complexa e buscarmos alternativas para combatê-la. E pensando em responder a essas questões, realizei em parceria com o professor de Direito Ambiental da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH/Usp) Paulo Santos de Almeida, uma pesquisa sobre as características das apreensões de animais silvestres no estado de São Paulo realizadas pela Polícia Militar Ambiental. Compartilho aqui os principais resultados encontrados.
Foram identificados nos anos de 2018 e 2019 um total de 7.653 ocorrências com ações relacionadas ao tráfico de animais e delas resultaram 41.137 animais silvestres apreendidos, de 322 espécies diferentes. Fato interessante: dos 10 animais mais apreendidos, nove são aves canoras, O único que fugiu à regra foi o réptil jabuti, muito encontrado em residências ainda hoje. No final do texto, compartilho com você a lista dos 10 animais mais apreendidos. Nenhum dos dez animais mais apreendidos está ameaçado de extinção.
Outra informação interessante obtida no estudo foi a constatação de que a média de animais apreendidos por ocorrências foi de apenas três indivíduos, o que demonstrou que temos de fato uma grande quantidade de pessoas envolvidas com o tráfico de animais que atuam com pequenas quantidades de espécimes – o que reforça o caráter pulverizado da atividade. Vale destacar que em 30% dos casos a pessoa foi surpreendida com apenas um animal.
Em relação à localização dessas ocorrências, foi identificado que 90% dos animais foram apreendidos em áreas urbanas, o que significa que a cada 10 espécimes apreendidos, nove deles se encontravam nas cidades e com forte caráter de ligação com o adensamento populacional, ou seja, nos locais com maior quantidade de pessoas, maior é a quantidade de animais apreendidos (ver mapa).
O estudo concluiu que o tráfico se desenvolve principalmente em áreas urbanas, demonstrando a proximidade que o povo paulista desenvolveu de coabitação entre a sociedade e a guarda de animais silvestres como se fossem domésticos, sendo proporcional em relação à população residente em áreas urbanas e rurais.
Esses foram apenas alguns dos resultados obtidos no estudo realizado, que entendi ser razoável compartilhar neste mês com você, leitor. Se quiser ler na íntegra, basta clicar aqui.
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