Perucetus colossus, o candidato a animal mais pesado que já existiu

As baleais são mamíferos aquáticos que passaram por uma transição do hábito terrestre ao aquático. Essa evolução começou no Eoceno, há 50 milhões de anos, no subcontinente Indiano, e é uma das transições entre ambientes mais bem documentadas pelo registro fóssil, mostrando as mudanças morfológicas e anatômicas no corpo desses animais ao longo do tempo.

No começo de sua evolução, as espécies eram terrestres e pequenas. Porém, na medida em que se tornaram cada vez mais aquáticas, começaram a aumentar de tamanho e de peso corporal, alcançando a diversidade atual com espécies como a baleia-azul, que chega à 33 metros de comprimento e 150 toneladas. No final do Eoceno, há aproximadamente 34 milhões de anos, um grupo de cetáceos, chamado Basilosauridae, já era totalmente aquático e com espécies de corpo bastante comprido, atingindo 18 metros. O corpo se assemelhava muito com o dos cetáceos modernos, apesar de não serem parentes tão próximos, e eram carnívoros, alguns possivelmente vorazes.

Dentro desse grupo de cetáceos, uma nova espécie foi descrita recentemente, cujos fósseis foram encontrados no Peru e datados do Eoceno Médio, entre aproximadamente 40 e 38 milhões de anos. E não tem como deixar de falar sobre isso, porque essa espécie foi bastante chamativa por apresentar características poucos comuns em cetáceos dessa época e uma estimativa enorme de peso corporal. Ela foi chamada de Perucetus colossus e seus ossos, particularmente as vértebras encontradas, possuem uma condição natural conhecida por paquiostose, na qual acontece um crescimento ósseo exacerbado que deixa o osso muito espesso e, também, denso e pesado. No caso dessa condição acontecer em vértebras, também acontece redução da mobilidade na região da coluna.

Essa feição é comum em animais aquáticos como o peixe-boi e os plesiossauros. O aumento de densidade em uma parte do corpo ajuda a balancear a perda de densidade quando os pulmões estão cheios de ar, facilitando esses animais a controlarem sua flutuabilidade.

Descobrindo o tamanho do Perucetus

Diante dessas características pouco usuais para um cetáceo, que no Eoceno já atingiam grandes tamanhos, os pesquisadores buscaram ter uma noção de qual seria o comprimento e o peso do animal. Como eles não encontraram o esqueleto completo, precisaram usar outras artimanhas para se calcular esses valores. Por isso, usaram métodos que estimam o que eles estão interessados em saber a partir de observações reais. Isso significa que os pesquisadores buscaram informações de animais atuais de vários tamanhos, incluindo vários tipos de mamíferos e alguns répteis para construir um modelo estatístico e depois adicionar os valores do Perucetus.

A lógica é simples e direta, mas não é simples de fazer isso, porque a falta do esqueleto completo do animal obriga os pesquisadores a calcularem índices, para depois se estimarem um valor e só então usarem esse valor estimado para se estimar o valor final. No caso do Perucetus, os cientistas ainda estimaram o seu volume, tomando como referência o esqueleto mais completo de um basilossaurídeo. Dadas as incertezas das estimativas de volume, eles decidiram usar os valores de volume mínimo e máximo, juntaram com os índices de densidade óssea calculados para os ossos encontrados e estimaram a massa óssea desse animal.

Que valores eles encontraram? Entre 5,3 e 7,6 toneladas de massa óssea!

O próximo passo foi estimar o peso total do Perucetus. Mas como? Bem, existem meios de fazer isso com técnicas estatísticas, como a análise de regressão. Esse método permite construir um modelo de relação entre duas medidas a partir de observações coletadas para ambas e, a partir desse modelo, é possível estimar o valor de uma delas quando se tiver a outra.

E foi o que os pesquisadores fizeram: a partir da massa óssea, conseguiram estimar o peso total da espécie. Por causa das incertezas ditas, eles fizeram a estimativa em três diferentes cenários. No primeiro, usaram o valor mínimo do volume calculado e acharam um peso de 85 toneladas. No segundo, usaram os valores médios e acharam um peso de 180 toneladas. Aqui você já para e pensa: o bicho podia ser, em média, tão ou mais pesado que uma baleia-azul. Já no terceiro e último cenário, com o valor máximo do volume, os cientistas chegaram a incríveis 340 toneladas!

É isso mesmo. O Perucetus foi um dos animais mais pesados e um candidato a O animal mais pesado, rivalizando com a baleia-azul. Só não o é porque tem muita incerteza e é natural que haja incertezas quando se trata de estimativas. O importante é analisar o grau de incerteza, e vamos combinar que um intervalo entre 85 e 340 toneladas é uma incerteza bem alta.

Mas é assim que a Ciência funciona. E na Paleontologia, essas dúvidas se tornam ainda maiores pela incompletude natural do registro fóssil. Se o esqueleto estivesse um pouco mais completo, talvez esse intervalo fosse menor.

A dieta do Perucetus

Agora você deve estar se perguntando como esse cetáceo tão pesado viveu. Bem, as rochas não foram muito indicativas porque a carcaça desse animal provavelmente foi transportada do lugar de onde morreu para outro. Porém, por causa das características bem incomuns para baleias, mas presentes nos atuais sirênios (os peixes-boi), os pesquisadores especulam que o Perucetus pudesse ter sido parecido com eles: um animal costeiro que se alimentava de algas marinhas. Mas pelo tamanho gigantesco, poderia comer também seres bentônicos – aqueles que ficam no fundo, como moluscos e crustáceos, ou até mesmo carcaças de outros animais. Isso tudo é incerto já que o crânio e os dentes não foram preservados. Com isso em mãos, eles com certeza bateriam o martelo sobre o tipo alimentar desse animal.

Referência

• Bianucci G, et al. 2023. A heavyweight early whale pushes the boundaries of vertebrate morphology. Nature 620, 824-829.

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