Pássaros que só aparecem na primavera no Sudeste do Brasil

A chegada da primavera transforma o Sudeste do Brasil em um verdadeiro espetáculo natural. Entre as belezas que essa estação traz, estão as lindas flores, chuva e abundância de frutos, sementes e insetos, que servem para recepcionar os lindos e emblemáticos pássaros migratórios que vêm de variados locais do Brasil para a região com a finalidade de aproveitar as condições favoráveis para terem seus filhotes.

Para os observadores de aves mais atentos, a chegada dos primeiros pássaros migratórios acontece no final do inverno, inundando nossa paisagem com novas cores, formas e sons que há muito tempo nossos ouvidos não reconheciam. Eles nos enchem de motivação para querer ver quem são os visitantes alados que estão produzindo esses novos sons, que não eram ouvidos desde o fim do verão.

Vamos conhecer algumas espécies que começam a tomar os céus do Sudeste nessa época!

As primeiras aves migratórias começam a chegar

Uma das primeiras espécies a chegar na região é justamente a primavera (Nengetus cinereus), que tem esse nome porque é observada na maioria das regiões do Brasil durante essa estação do ano. Outro passarinho migratório que tem o nome de uma estação do ano é o verão (Pyrocephalus rubinus), famoso pelo seu vibrante colorido vermelho de sua plumagem, que é tão bela que popularmente é chamado também de príncipe.

Outros pássaros que chegam ainda no final do inverno são os tiranídeos suiriri (Tyrannus melancholicus), tesourinha (Tyrannus savana) e o emblemático bem-te-vi-rajado (Myiodynastes maculatus), que aproveitam muito bem a abundância de insetos para obterem energia e proteínas essenciais para a fase de incubação e cuidado com os filhotes.

Aves dessas espécies podem ser encontradas pousadas em galhos expostos, mesmo quando o sol está forte, momento em que podemos observar a realização de manobras impressionantes enquanto caçam insetos. A tesourinha é linda e inconfundível, pois tem sua cauda longa em formato de tesoura, nome que facilita muito o reconhecimento dessa viajante. Ela passa a fase de descanso reprodutivo na região Norte do Brasil, assim como o bem-te-vi-rajado e quase todos os outros pássaros viajantes citados neste artigo.

Agora vou chamar a sua atenção para três pássaros migratórios que podem ser facilmente confundidos por três motivos:

• São muito parecidos visualmente.
• Ocorrem em ambientes semelhantes.
• Migram para as mesmas regiões na mesma época do ano.

São eles a peitica (Empidonomus varius), o bem-te-vi-pirata (Legatus leucophaius) e o bem-te-vi-rajado. O bem-te-vi-rajado é maior e tem a plumagem com estrias bastante evidentes. Já a peitica e o bem-te-vi-pirata apresentam na plumagem estriações delicadas e tamanho menor. Esses dois últimos são muito parecidos, mas podem ser facilmente diferenciados pelo canto e por uma característica da peitica, que é sua “marca de campo” (aquela característica diferencial entre espécies semelhantes, que o observador deve buscar na ave): as penas ferrugíneas na cauda, que o bem-te-vi-pirata não tem.

Algumas tribos indígenas do Brasil consideravam o canto da peitica de mau agouro. Ao ouvir seu canto, ainda hoje no Nordeste, é comum ouvir-se a expressão “jogar peitica”, que significa “azarar”. O bem-te-vi-pirata é outra espécie que tem no nome uma característica de seu curioso comportamento: esse pássaro recebe o nome de “pirata” porque é um oportunista, já que frequentemente rouba ninhos de várias outras aves para se reproduzir, espantando os adultos e jogando para fora os ovos.

Uma das partes mais gratificantes do acompanhamento da chegada e partida das espécies migratórias consiste em prestar atenção nos sons novos que chegam de mansinho e aumentam de frequência e intensidade. No auge da época reprodutiva, eles dominam a paisagem sonora, sendo que da mesma forma que dominam, aos poucos somem, juntamente com seus emissores visitantes anuais.

Pássaros migratórios como o bigodinho (Sporophila lineola), irré (Myiarchus swainsoni), o guaracava-grande (Elaenia spectabilis), o andorinhão-do-temporal (Chaetura meridionalis) e o bem-te-vi-rajado cantam muito durante a época reprodutiva, sendo que o mais presente na paisagem sonora da minha região (serra da Mantiqueira em Minas Gerais) é o bigodinho, que também é um dos últimos a chegar nas áreas de reprodução e partir para os locais de invernada. Essa pequena ave granívora costuma formar bandos que se alimentam de sementes em áreas abertas e campos.

Ciclos da natureza e aves migratórias

Observar aves migratórias durante a primavera é uma forma muito poderosa de conectar-se aos ciclos da natureza. Acompanhar o interessante vai e vem das migratórias é um presente.

Aproveite para procurar saber se na sua região as espécies migratórias são essas que citei. Se estiver com dúvidas, pode conferir quais são as espécies de aves migratórias brasileiras na lista completa do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO). Depois, é só prestar atenção no comportamento e na data de registro dessas espécies no Wikiaves.

Envolva-se com a história que cada pássaro tem para contar. A migração das aves é uma fascinante adaptação que lhes permite sobreviver e prosperar em ambientes diferentes ao longo do ano através dos tempos.

Que tal aproveitar esta primavera para pegar seus binóculos e aventurar-se em uma jornada de descobertas e aprendizados? A cada jornada de ida e volta concluídas, podemos nos inspirar na resiliência e eficiência das aves para que, talvez um dia, possamos nos apropriar um pouquinho das características desses seres tão admiráveis.

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