Por Ana Júlia Cano
Coordenadora de Comunicação da SAVE Brasil. Nasceu em Campinas, mora em São Paulo e passarinha desde 2018
observacaodeaves@faunanews.com.br
Além de contribuir para a Ciência e para a conservação das espécies, passarinhar gera incontáveis benefícios para seus praticantes. A SAVE Brasil, fora de tempos pandêmicos, incentiva essa atividade em parceria com a prefeitura de São Paulo por meio da iniciativa #VemPassarinhar, na qual convidamos todo mundo para observar aves em parques da cidade, com empréstimo de binóculos e instruções para identificar espécies. Porém, nem toda passarinhada faz bem para as aves que estão sendo observadas. E o mais chocante é que você pode estar fazendo mal aos bichos por desconhecer as regras do jogo.
A fim de assegurar que as práticas de observação no Brasil não causem distúrbios aos ambientes e às aves, o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Cemave/ICMBio) publicou um documento bem completo que reúne de forma didática tudo o que você precisa saber antes de sair para ver passarinhos. E agora é a hora de descobrir se você está seguindo o Código de ética do observador de aves à risca.
1 – A ave ou observar a ave? Qual é a prioridade da sua passarinhada?
Você é o visitante e a ave, a residente – é o bem-estar dela que deve vir em primeiro lugar. Tenha cuidado com a ave e com o ambiente para não a perturbar. Permaneça nas trilhas, nunca espante as aves intencionalmente, mantenha distância de no mínimo 15 metros de ninhos, colônias de nidificação, dormitórios, áreas de exibição ou locais importantes de alimentação. Evite usar flash, especialmente se fizer registros a curta distância ou para aves que estiverem nidificando, caçando ou fazendo o cortejo. Use a lanterna com cautela para observar aves noturnas e prefira aquelas com baixa intensidade. Procure focar ao lado do animal e não diretamente sobre ele. Jamais use luz sobre ninhos ocupados.
2 – A que custo você usa o playback?
Para quem não sabe, playback é quando reproduzimos gravações dos cantos ou chamados de uma espécie em uma caixa de som para tentar atraí-la para perto. É importante não sair apenas reproduzindo sons, mas fazer um planejamento: escolher local, época, horário e vocalização mais adequada para cada espécie que pretende atrair. Preocupe-se em dar pausas longas e ficar alerta, pois a ave pode se aproximar cautelosamente e em silêncio e isso poupa reproduções desnecessárias.
Também é importante manter o volume baixo para não assustar ou irritar a ave. Para não perturbar o mesmo indivíduo duas vezes, afaste-se pelo menos 300 metros quando for realizar um novo playback. E, claro: não use o playback para atrair aves que estejam em nidificação, caça ou corte e, sobretudo, nunca utilize vocalização de alerta para atrair as aves.
3 – Você respeita aves em reprodução?
Nunca utilize métodos de atração próximo aos ninhos e fique o menor tempo possível em locais de corte e nidificação. Acima de tudo, jamais toque em ninhos, ovos ou filhotes.
4 – Informações: você divide com os outros?
Você já sabe da importância dos seus dados para a ciência cidadã. Você pode compartilhar seus avistamentos pelo eBird ou WikiAves, mas também há outras plataformas, como o Atlas de Registros de Aves Brasileiras, gerenciado pelo ICMBio/CEMAVE, e o Xeno-canto. Mas atenção! Antes de divulgar informações sobre ninhos, colônias e dormitórios de espécies sensíveis e a ocorrência de uma ave rara, avalie o potencial de perturbação para as aves e o habitat. Só prossiga com a divulgação se não houver risco para a espécie e se o acesso à região puder ser controlado.
5 – O seu comedouro está sempre limpo?
Utilize apenas alimentos naturais, como frutas e sementes, e higienize regularmente os comedouros e bebedouros, além de trocar diariamente a água deles e de banheiras. Posicione o comedouro longe de vidraças e do acesso de animais domésticos, sobretudo gatos.
6 – Se você é guia, você cobra boas práticas de seus clientes?
O bem-estar das aves está acima dos objetivos comerciais e de lazer. Caso você seja o guia do grupo, atue com responsabilidade. Mantenha os grupos em um tamanho que minimize o impacto ao ambiente e assegure que todos os participantes ajam de acordo com o código de ética dos observadores de aves.
7 – Você pula a cerca?
É importante planejar sua visita cuidadosamente, obtendo previamente todas as autorizações e licenças necessárias. Em se tratando de autorização, não entre em áreas fechadas sem ser autorizado pelo proprietário ou gestor. Respeite a legislação e as normas internas de parques, reservas e demais unidades de conservação.
8 – Você contata os órgãos responsáveis quando necessário?
Caso encontre uma ave ferida ou debilitada, contate imediatamente os centros de triagem e de animais silvestres (Cetas), os centros de reabilitação de animais silvestres (Cras) ou instituições de resgate de fauna. Uma lista nacional de contatos feita pelo Instituto Espaço Silvestre ajuda a encontrar o local mais próximo. Além disso, se presenciar ou suspeitar da ocorrência de crimes contra a natureza, denuncie o Ibama através da Linha Verde 0800-61-8080 ou pelo e-mail linhaverde.sede@ibama.gov.br ou para a Polícia Militar ambiental do Estado. Caso esteja em uma unidade de conservação federal, contate o ICMBio.
9 – Suas imagens de drone valem o estresse das aves?
Não se recomenda o uso de drones ou VANTs para captar imagens de aves. Essa utilização deve ser evitada ao máximo, considerando que eles causam perturbação às aves, parecendo mais ameaçadores do que a própria presença humana.
Acesse o Código de Ética do Observador de Aves completo para mais recomendações de boas práticas.
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