Passarinhando no Rio Grande do Sul: aves do Pampa e da Mata Atlântica
Susana e Wagner Coppede se aventuraram pelo Rio Grande do Sul em busca de aves do Pampa e da Mata Atlântica.
Era um antigo desejo passarinhar no Rio Grande do Sul e conhecer melhor o bioma Pampa. Já tínhamos passarinhado nesse bioma em 2016, quando fizemos uma viagem inesquecível pelo Uruguai.
Para essa viagem, contratamos o guia e amigo Raphael Kurz Clasen, que preparou um roteiro baseado na nossa lista de lifers (espécies ainda não fotografadas). Passarinhamos na lagoa do Peixe, lagoa dos Patos, lagoa Mirim, Estação Ecológica do Taim e nos entornos das cidades de Rio Grande, Mostardas, Tavares, Pinheiro Machado, Aceguá e Morro Redondo.
Essa viagem também nos reservou um improvável e gratificante reencontro com dois navegadores que conhecemos no rio Paraguai em 2018 e que os ventos do destino voltaram a cruzar nossos caminhos em Pelotas. Essa é uma longa história que merece ser contada em um artigo exclusivo.
Vamos compartilhar um pouco da riquíssima experiência dessa viagem, dos lindos lugares visitados, das muitas aves endêmicas e da fantástica luz que todo fotógrafo sonha para suas fotografias.
Atrativos do bioma Pampa na observação de aves
O bioma Pampa ocupa mais 60% do território do Rio Grande do Sul, apresenta características únicas e muito distintas de outras regiões do país, sendo caracterizado por sua vegetação de campos de gramíneas, extensas bacias hidrográficas, clima temperado, grande biodiversidade que abriga muitas espécies de animais, incluindo aves endêmicas (que só existem em uma região).
O tipo de vegetação baixa, sem grandes árvores e, consequentemente, sem as sombras comuns das matas, aliado à luz suave da região, possibilitam que as fotos sejam feitas com um ISO baixíssimo e com aberturas menores, resultando em fotos sem ruído e com excelente definição e profundidade de campo. É o ambiente ideal para os fotógrafos de aves.
Fizemos muitos registros na cidade de Rio Grande, localizada no extremo sul do Estado que, com seus ecossistemas costeiros e com áreas de campos naturais e restingas, tem uma grande diversidade de aves. A região é um verdadeiro paraíso para a observação de aves.
Susana comentou diversas vezes que gostaria de fazer uma boa foto do cardeal-do-banhado (Amblyramphus holosericeus) e o Rio Grande do Sul é um dos melhores lugares para fazer aquele registro dos sonhos. Pois bem, no primeiro dia de passarinhada e na primeira saída que fizemos em Rio Grande, um casal pousou no limpo, com luz ideal! Foi o primeiro presente da viagem.
No bioma Pampa, em várias cidades, fotografamos uma enorme quantidade de espécies, mas vamos destacar:
O sonho de fotografar o Papa-piri
Há muitos anos queríamos fotografar o Papa-Piri (Tachuris rubrigastra), pela sua variedade de cores, tons e beleza. Nossa expectativa era muito grande e sabíamos que essa espécie não costuma dar moleza para os fotógrafos, aparecendo rapidamente no meio do junco e sem parar por muito tempo para uma boa foto. Fomos, logo pela manhã, em uma área alagada em Mostardas e caminhamos com botas por um bom tempo, com água até as canelas.
Estávamos em um lugar lindo com luz suave e um rio com águas calmas e uma vegetação de juncos a poucos metros da margem. Nos posicionamos para as fotos, o Raphael tocou o playback para atrair a ave e, para nossa grata surpresa, um indivíduo saltou de imediato em nossa frente e a poucos metros de distância. Foi o nosso segundo presente!
Lagoa do Peixe
A lagoa do Peixe é uma das principais áreas de conservação ambiental do Rio Grande do Sul e um destino que todo observador de aves quer um dia visitar. Localizada na região sul do Estado, a lagoa é uma importante área de alimentação e descanso para muitas espécies de aves migratórias e residentes, além de oferecer um ambiente natural conservado e belo.
Para passarinhar na lagoa do Peixe, ficamos hospedados na cidade de Mostardas e nos deslocamos de carro até lá. Em razão de chuvas que tinham ocorrido na região, o acesso pela trilha do Talhamar estava interditado e fomos obrigados a ir da cidade até a lagoa pela praia. Uma aventura inesquecível de cerca de 40 quilômetros por uma praia quase deserta, tendo de um lado as dunas e do outro o mar. Durante nossos trajetos de ida e volta, vimos muitas aves se alimentando na praia e muitas lindas revoadas. Por diversas vezes também vimos lobos-marinhos na praia.
Nossa viagem foi em agosto de 2022, época do ano em que grande parte das aves migratórias ainda não chegou na lagoa do Peixe. A época ideal seria entre setembro e março.
Fizemos muitos registros nessa lagoa, tais como o flamingo-chileno (Phoenicopterus chilensis),o caminheiro-de-espora (Anthus correndera), o piru-piru (Haematopus palliatus), a gaivota-maria-velha (Chroicocephalus maculipennis), o vira-pedras (Arenaria interpres), vários tipos de maçaricos e trinta-réis.
Conhecendo a Mata Atlântica do Rio Grande do Sul
Embora o Pampa seja o bioma predominante no Rio Grande do Sul e a Mata Atlântica tenha apenas cerca de 8% de área remanescente, foi nessa reduzida porção de Mata Atlântica, no sítio Flora & Osória na cidade de Morro Redondo, que fizemos nossos melhores registros das espécies tico-tio-rei (Coryphospingus cucullatus), sanhaço-papa-laranja (Rauenia bonariensis), saíra-preciosa (Stilpnia preciosa), bico-duro (Saltator aurantiirostris), asa-de-telha (Agelaioides badius) e trinca-ferro (Saltator similis).
Além de passarinhar…
Foram oito dias de passarinhadas em que rodamos 2.498 km apenas no Rio Grande do Sul. Conhecemos diversas cidades, diferentes tipos de paisagens, nos encantamos com o complexo de águas das lagoas do Pato, Mirim e Peixe. Rodamos por diversas estradas, saboreamos a culinária gaúcha e observamos os costumes locais. Percorremos vários quilômetros em uma estrada de terra onde, de um lado da estrada era Brasil e do outro era Uruguai. Estivemos em Aceguá, cidade que se divide da mesma forma.
Foram dias muito agradáveis que nos proporcionaram muitas risadas, além de apreciarmos a maravilhosa guiada do Raphael. Foi um grande aprendizado!
Fonte
– WikiAves
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