Casal que há mais de 30 anos viaja até os lugares mais remotos do Brasil para fotografar a natureza. São adeptos da ciência cidadã, ou seja, do registro e fornecimento de dados e informações para a geração de conhecimento científico
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O bioma predominante no estado de São Paulo é a Mata Atlântica, que possui uma incrível diversidade de lindas e coloridas espécies de aves. Nos primeiros anos como observadores de aves, nossas passarinhadas de fim de semana eram feitas nas proximidades da capital paulista, onde morávamos e, consequentemente, no bioma Mata Atlântica. Com o passar dos anos e buscando observar uma maior quantidade de espécies, passamos a estender nossas viagens e passarinhamos em cidades que estão no Cerrado paulista.
O Cerrado no estado de São Paulo
Quem circula pelas estradas próximas à região central de São Paulo costuma ver uma paisagem com árvores de troncos tortuosos e de folhas grossas, que lembram esculturas barrocas. Chamado injustamente por alguns de mato, esse é o Cerrado, vegetação associada ao Centro-Oeste brasileiro, mas que atravessa o território paulista e chega ao norte do Paraná. Essa paisagem peculiar é a “savana brasileira”.
O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, atrás apenas da Amazônia e nele vivem milhares de espécies de animais e plantas que só existem nessa região.
Considerado ponto crítico para a conservação da biodiversidade, o Cerrado brasileiro encontra-se muito fragmentado e degradado pelo avanço das cidades, da agricultura e da pecuária.
No estado de São Paulo, a área remanescente de Cerrado corresponde a apenas 8,5% de sua superfície original. Atualmente, esse bioma ocupa apenas 1% da área do Estado, da qual já cobriu 14%.
Tijerila passeando pelo nosso Estado
As primeiras viagens que fizemos no Cerrado paulista foram na cidade de Ribeirão Bonito, onde passamos alguns feriados prolongados passarinhando nos fragmentos de mata dessa cidade. Em 2012, durante uma de nossas passarinhadas, tivemos o privilégio de fazer o primeiro registro da espécie tijerila (Xenopsaris albinucha) no estado de São Paulo. Além da tijerila, fizemos muitos outros registros nessa cidade: ariramba-de-cauda-ruiva, choca-do-planalto, noivinha-branca, pipira-vermelha, pica-pau-anão-escamado, maria-cavaleira-de-rabo-enferrujado, pipira-da-taoca, juriti-pupu, guaracavaçu, cabeçuco, chorozinho-de-chapéu-preto, maria-ferrugem, garrinchão-de-barriga-vermelha, petrim, tico-tico-rei, tico-tico-de-bico-amarelo, choro-boi, gralha-picaça, choca-barrada, chopim-do-brejo, maria-faceira, bico-de-pimenta e o soldadinho.
A aventura para registrar a sanã-de-cara-ruiva
Em 2016, juntos com o amigo Gustavo Pinto, fizemos viagem para as cidades de Dourado e Boa Esperança do Sul, onde fomos guiados por Cal Martins, que mora em Dourado e tem profundo conhecimento ornitológico e de toda região.
Nessa época, Cal tinha feito o primeiro registro da sanã-de-cara-ruiva no estado de São Paulo. A sanã-de-cara-ruiva é uma espécie ameaçada, na classificação “vulnerável” e, pelo fato de viver no meio de capinzais densos em áreas semialagadas, o registro fotográfico é sempre um desafio.
O Cal havia nos alertado que nas últimas vezes que tinha estado no local, a sanã não aparecera e, com isso, nossa confiança em fazer o registro não era das maiores.
Chegando ao local onde faríamos o registro, como esperado, nos deparamos com um grande brejo e um capinzal denso até a altura de nossas cinturas. Andamos pela área, algumas vezes atolando nossas botas até as canelas. No meio desse capinzal, o Cal estendeu um blind (tecido camuflado) e ficarmos em pé, imóveis atras do blind, sem fazer qualquer ruido. Logo após ele tocar o playback com o canto da sanã, ela nos surpreendeu, saindo do capim encostado ao blind, ou seja, pertinho de nossos pés!
Nós olhávamos a sanã de cima para baixo, tendo apenas o blind nos separando. A teleobjetiva fixa do Wagner, que precisava de uma distância mínima de dois metros do objeto a ser fotografado, não conseguia focar a ave. Susana, com uma teleobjetiva com zoom, reduziu o foco e fez excelentes fotos. No final, o Wagner conseguiu fazer um único registro, quando a sanã já estava indo embora.
Foi uma grande alegria poder observar essa ave rara e a Susana na época foi a terceira mulher no Brasil a fazer o registro fotográfico da espécie.
Nessa viagem, fizemos adicionalmente outros registros bem interessantes: sanã-castanha, formigueiro-de-barriga-preta, vite-vite-de-olho-cinza, anhuma, bacurau-tesoura, barulhento, suiriri-cinzento, papa-formiga-vermelho, graveteiro, chorozinho-de-bico-comprido, andorinhão-do-buriti, uí-pi, batuqueiro, bico-de-veludo, guaracava-de-barriga-amarela e coleiro-do-brejo.
Estamos planejando um retorno nessa região no último trimestre do ano, para registro de diversas espécies que temos interesse.
Fontes: Instituto Brasileiro de Florestas, The Nature Conservancy, Fapesp e WikiAves.
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