
Casal que há mais de 30 anos viaja até os lugares mais remotos do Brasil para fotografar a natureza. São adeptos da ciência cidadã, ou seja, do registro e fornecimento de dados e informações para a geração de conhecimento científico
observacaodeaves@faunanews.com.br
Antes de nos tornarmos observadores de aves, já tínhamos visitado Campos de Jordão, uma das principais cidades turísticas do estado de São Paulo. Mais tarde, já como observadores, víamos no Wikiaves o registro de diversas espécies interessantes feitos no município, o que gerou nosso interesse em visitar essa cidade, porém com nossas máquinas fotográficas. Pela proximidade com a capital paulista e pelas espécies de aves que podem ser registradas lá, desde 2011 fizemos várias viagens para lá, tanto pelas aves como também para aproveitar outros atrativos.
Um pouco sobreo município

Campos do Jordão está localizado na Serra da Mantiqueira paulista. A prefeitura fica a 1.628 metros de altitude, sendo o mais alto município brasileiro, considerando a altitude da sede, mas nos arredores chega-se a mais de dois mil metros de altitude. A cidade está a 183 quilômetros de São Paulo, sendo chamada de “Suíça Brasileira” pela sua arquitetura baseada em construções europeias e pelo seu clima mais frio que a média do país. A temperatura no verão é amena, mas no inverno muitas vezes há registros abaixo de zero, com sensação térmica ainda menor. A vegetação de Campos do Jordão se distribui em dois grandes tipos: a de mata, com presença marcante de araucárias, e a campestre.
A cidade tem muitos atrativos turísticos, destacando-se o clima, a culinária com inúmeros restaurantes para todos os gostos e bolsos, lojinhas de chocolates artesanais, lojas de artesanatos e roupas de inverno, cervejas locais e o parque estadual conhecido como Horto Florestal. De junho a agosto, ocorre o Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, com mais de 150 concertos, muitos ao ar livre e gratuitos.

Em razão da altitude de Campos do Jordão, suas condições climáticas e vegetação, pode-se encontrar com certa facilidade algumas espécies de aves difíceis de serem vistas em outros lugares do Brasil. Nessa lista, podemos destacar o papagaio-de-peito-roxo, o caneleirinho-de-chapéu-preto, a choquinha-da-serra, o beija-flor-de-topete, a tovaca-de-rabo-vermelho, a quete-do-sudeste e a saudade.
Atualmente (abril de 2021), constam 323 espécies registradas em Campos do Jordão no site Wikiaves.
Nossa primeira viagem para observação de aves em Campos
Em 2011, fizemos nossa primeira viagem para observação de aves em Campos do Jordão. Na época, nos hospedamos na Pousada Três Pinheiros, cujo proprietário, Francisco Kallen, era também passarinheiro e nos recebeu com muita hospitalidade. Passamos um fim de semana incrível passarinhando apenas na própria Pousada, que tinha um pequeno comedouro. Kallen, que tinha uma paixão incrível pelo local e pelas aves, nos acompanhou. Nesse fim de semana, sem sair da pousada, registramos o sanhaçu-de-fogo, o beija-flor-de-topete, o gavião-pega-macaco, o cuiú-cuiú, o bico-grosso, a gralha-picaça, a gralha-do-campo, a maria-preta-de-bico-azulado, o quete-do-sudeste, o piolhinho e o sabiá-coleira.

Muitas outras passarinhadas em Campos
No período de 2015 a 2017, fizemos várias outras passarinhadas por lá, sendo sempre guiados pelo amigo Thiago Carneiro, que conhece cada canto dessa cidade e onde encontrar cada espécie. Toda vez que tínhamos vontade de passarinhar e apenas um fim de semana para aproveitar, a opção preferida era Campos do Jordão. Em cada viagem, além de observar aves, também usufruímos os atrativos turísticos.
O urubu que era um gavião-pega-macaco
Em 2015, fomos passarinhar em Campos com a amiga e passarinheira Maria Albers. Nos hospedamos no Rancho Santo Antônio, que tem chalés na área rural do município. Lá se pode acordar com o papagaio-de-peito-roxo vocalizando nas imediações. Foi um fim de semana prolongado muito bom, com muitos lifers (novas espécies) e com muitas risadas também.
Em uma de nossas saídas, o Wagner e o Thiago Carneiro estavam fotografando uma cigarra-bambu, nas margens de uma estrada. De repente. o Thiago arregalou os olhos e fez um sinal com a mão para cima – um gavião-pega-macaco tinha pousado em uma araucária a menos de cinco metros de nós!!! O Wagner começou a fazer as fotos, enquanto o Thiago fazia sinais com os braços, chamando a Susana e a Maria Albers, que estavam do outro lado da estrada. Elas vieram e todos fizemos muitos registros dessa belíssima ave, que embora estivesse muito próxima e contra a luz intensa, dificultando muito um bom registro.
Quando o gavião-pega-macaco foi embora, ainda eufóricos, passamos a olhar as fotos. A Susana, uma passarinheira não tão experiente na época, olhando seus registros disse: “Quando estávamos lá do outro lado da estrada, a Maria Albers estava fotografando flores e eu vi um bicho grande voando bem em cima de nós. Fotografei aquele bicho, mas não dei importância porque pensei que era um urubu. Continuamos conversando e não percebi que ele tinha pousado na araucária onde o Thiago e o Wagner estavam”.
Todo passarinheiro sabe do sonho de estar próximo de um gavião-pega-macaco e. quando isso acontece, ele é confundido com um Urubu! Foram muitas risadas na época e até hoje nos divertimos muito quando lembramos dessa pérola.
Fim de semana com 16 espécies fotografadas, sendo também 16 lifers
Em setembro de 2015, estávamos querendo passarinhar no fim de semana e ligamos para o Thiago Carneiro, que de forma muito espontânea disse: “O Wagner não tem muito mais o que fotografar aqui. As espécies que estão faltando para ele na cidade são bichos encardidos, difíceis de serem encontrados, ou bichos migratórios”. De qualquer forma, decidimos ir e, naqueles dias, o Thiago se superou. Ele nos mostrou 16 espécies, sendo que todas foram lifers para o Wagner na época. Destacamos dessa viagem os registros muito esperados da tovaca-de-rabo-vermelho, da tesourinha-da-mata, da choquinha-de-asa-ferrugem, do caneleiro-verde, do canário-do-brejo, do caminheiro-de-barriga-acanelada, do pi-puí e do trepador-sobrancelha.

Faça seu companheiro ou sua companheira feliz
Se seu/sua companheiro(a) não for observador(a) de aves, enquanto você passarinha, ele(a) irá adorar a culinária, as guloseimas, as lojinhas e todo charme dessa belíssima cidade. Com certeza, ele(a) vai querer voltar com você a Campos.














Anterior
Próximo
– Leia outros artigos da coluna OBSERVAÇÃO DE AVES
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es)