Para onde está indo o dinheiro do aquecimento global?

A ação humana significa o emprego de meios para obtenção de certos fins. Esses meios significam, na maioria das vezes, aporte financeiro de nações que detêm mais recursos direcionados para outras bem menos abastadas. Parte-se do princípio que quando lidamos com dinheiro dos outros, devemos, ou deveríamos, ter o dobro da responsabilidade, pois, em algum momento, poderemos ser chamados a prestar contas.

Os países mais ricos prometeram 100 bilhões de dólares por ano para ajudar a reduzir os efeitos das mudanças climáticas – que já foram resfriamento, aquecimento global e, agora, tratada de maneira mais genérica –, acordo firmado durante as negociações de Paris em 2015.

Mesmo dentro do campo científico, existem diversos interesses, mas um é unanimidade: dinheiro. Quando se trata do vil metal, ninguém se interessa mais por ele do que governos. O IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) – o “intergovernamental” denota que não se trata totalmente de um organismo científico, pois a última palavra é sempre dada por representantes de governos – produz inúmeros relatórios, muitos com mais de mil páginas. Nesse contexto, temos, também, “resumos catastróficos” denominados de Sumários Executivos para Formuladores de Políticas – que funcionam como aquele famoso Reader’s Digest – e aí estão embutidos os interesses financeiros. Países desenvolvidos relataram mais de 40 mil contribuições diretas para o tal objetivo, totalizando mais de 182 bilhões de dólares de 2015 a 2020.

Repórteres da Reuters e de um programa de jornalismo da Universidade de Stanford examinaram milhares de registros que tais países enviaram à ONU para documentar as contribuições. As conclusões foram publicadas na matéria “Rich nations say they’re spending billions to fight climate change. Some money is going to strange places“.

Denúncia da Reuters

Os repórteres investigativos da Reuters encontraram grandes somas financiando projetos com finalidades incompatíveis com o tema, tais como: uma usina de carvão em Bangladesh e a expansão de um aeroporto no Egito (mas foram colocados painéis solares neste aeroporto, fiquem tranquilos), ambos custeados pelo Japão. Os Estados Unidos contribuíram com a expansão de um hotel costeiro da rede Marriott no Haiti (ué, o nível do mar não vai mais subir?) e a Itália ajudou uma rede varejista a abrir lojas de chocolate e sorvete em toda a Ásia. A Bélgica, para não ficar atrás, financiou parte do filme La Tierra Roja, uma história de amor ambientada na floresta tropical sul-americana. Educação ambiental, acredito.

Expandir um aeroporto, mesmo com instalação de painéis solares para obter alguma energia limpa, sendo que aeroporto é ponto de chegada de aeronaves com grandes turbinas que irão poluir e danificar compostos da atmosfera (com exceção, talvez, do jatinho do Leonardo), além de ser ponto de chegada e partida de inúmeros veículos igualmente poluidores e inúmeros passageiros e acompanhantes flatulentos, talvez não seja muito lógico.

Será que não estamos diante de grandes esquemas corporativos cujos interesses disputam, pela via política, mais e mais privilégios em detrimento do restante da natureza? Se uma reportagem de um grupo investigativo conseguiu esse resultado, o que conseguiria uma auditoria? Estamos a tanto tempo escutando narrativas de aquecimento global que esquecemos os interesses financeiros e ideológicos de nossa sociedade.

Enquanto esses “altruístas” tentam ajudar as nações em desenvolvimento a reduzir as emissões e se adaptar a um possível mundo em aquecimento, o atual rei da Inglaterra foi o primeiro a incentivar empresas de seu país a explorar petróleo na ex-Guiana Inglesa, ao mesmo tempo investe em propaganda para não deixar que o estado brasileiro do Amapá o faça. Aliás, o governo francês tem adotado a mesma postura quanto sua Guiana Francesa.

As nações desenvolvidas têm resistido em aceitar padrões uniformes para o uso do dinheiro. Claro, imaginem os interesses de grandes corporações e governos em gastar esse volume de recursos sem controle.

Pelo visto, os países não são obrigados a relatar detalhes dos projetos e, quando divulgam, são vagos ou inexistentes, chegando ao cúmulo de, em alguns casos, sequer informar o país para onde os recursos foram destinados, segundo o relatório. Alguns países receptores, listados nos relatórios, disseram que não podiam dizer como o dinheiro foi gasto e os gastos de alguns deles mal foram documentados. Autoridades francesas e americanas envolvidas em relatórios da ONU disseram que nenhuma regra exige que eles façam regularmente a contabilidade e as necessárias revisões para cada caso.

Dos aproximadamente 12.7 bilhões de dólares destinados à América do Sul e ao Caribe, o Brasil recebeu 2.69 bilhões de dólares. Boa parte desse capital foi entregue diretamente à ONGs que também carecem de publicações de relatórios. Uma grande lacuna foi percebida abaixo da linha do Equador: 5,09 bi de dólares não foram identificados os destinos.

Em algum lugar desse planeta existe um cidadão que trabalha, paga em dia seus impostos, é bombardeado por narrativas muitas vezes pouco embasadas cientificamente e, que deseja, pelo menos, que seus recursos sejam aplicados de maneira honesta. O que parece é que, ao tentarmos resolver os problemas que nós mesmos criamos, estamos sendo desonestos com nós mesmos.

Como bem disse Margaret Thatcher, “Não existe dinheiro público, todo dinheiro arrecadado pelo governo é tirado do orçamento doméstico, da mesa das famílias.”

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