Por Estevão Santos
Nascido em 2005 em Goiânia (GO), é um ávido observador de aves desde 2013. Suas fotos já são base de trabalhos científicos. Palestrante do Avistar, mantém o Projeto Avifauna de Goiás no Instagram
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Como bem comentado pelo casal Gerald e Durrell Lee em sua obra O Naturalista Amador, “uma das grandes coisas de ser naturalista é que já nascemos com o equipamento básico: olhos, ouvidos e os sentidos do olfato, do paladar e do tato”. O homem é um naturalista nato! Os atributos aqui listados são a mais genuína e modesta maneira para o relacionamento do homem e natureza.
Se eu tivesse um diploma, seria considerado biólogo. Se eu fosse biólogo, em tempos longínquos – uns 200 anos no passado, na verdade -, eu certamente estaria coletando espécimes para um museu de história natural e me intitulariam de “naturalista”. Os nomes de alguns desses desbravadores perduram até o presente, como, no contexto brasileiro, Wied, Saint-Hilaire, Natterer e Snethlage, por suas contribuições de suma importância para a Ciência e, em especial, para o conhecimento das aves do neotrópico e das terras virgens brasileiras.
Os anos se passaram e esse nome simples, mas ao mesmo tempo impactante – naturalista! – se perdeu na história. Abordando mais especificamente a ornitologia e, por que não, a observação de aves, ocorre uma sutil polarização: ornitólogos de gabinete e de campo e os amadores, em sua maioria, observadores de aves. Estes últimos têm sido figurantes na geração de uma enorme fração do conhecimento ornitológico no cenário atual. Mas, por que não naturalistas?
Tenho experienciado que o saber naturalista é mais do que preparar um espécime para uma coleção. É o conhecimento que, como citado em meu artigo pretérito, engloba as mais variadas formas de vida e a maneira como funcionam as relações desses organismos. Os povos tradicionais acumularam esse saber através de anos e de gerações que, através de observações empíricas, modelavam suas vidas com base nos fenômenos naturais – com os quais eles, inclusive, ativamente interagiam. Atingindo uma comunidade interiorana da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, há de notar o murmurar de vozes anunciando que as revoadas de siriris (ou aleluias) simbolizam a chegada da chuva e que o ciclo de colheita dos pequizeiros se iniciará logo mais, com a fertilidade do solo.
As impressões e a sistemática do naturalista não fluem cronologicamente ou espacialmente – posso dizer que elas se consagram naturalmente. A compreensão dos acontecimentos naturais só é verdadeiramente descrita por aqueles que conseguem aspirar as emoções líricas da natureza, portanto. O bico do beija-flor penetrando as inflorescências, sugando o néctar e, só então, se retraindo; a pomba a passos humildes e tácitos catando grãos; o vociferar dos tucanos e seus adejos nas copas da mata… As coisas descritas como elas são!
Então, uma vez naturalista, sou aquele que, como imortalizou Rousseau, “quer estudar a natureza tão somente para encontrar continuamente novas razões para amá-la”. Teço observações ornitológicas, ao longo de tantos anos, para a singela apreciação e enriquecimento de minhas experiências naturais. Afinal, parafraseando Manoel de Barros, “eu fui aparelhado para gostar de passarinhos”!
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