Engenheiro agrônomo e mestre em Sistemas Costeiros e Oceânicos. É coordenador geral do Programa Recuperação da Biodiversidade Marinha (Rebimar) da Associação MarBrasil e professor na pós-graduação em Biologia Marinha pela Universidade Espírita (PR)
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Os peixes constituem um grupo com cerca de 28 mil espécies, o que corresponde a mais da metade dos vertebrados. Desse total, cerca de 60% vivem no ambiente marinho e a maioria habita as zonas costeiras. Representam o grupo de vertebrados com maior êxito em termos de diversificação devido à grande variabilidade de habitat presentes no meio aquático.
A ordem Perciformes, com 10.003 espécies, é a mais diversificada das ordens de peixes, sendo dominantes nos oceanos. Nesse grupo, a subordem Goibioidei possui um número estimado de aproximadamente 2.211 espécies, distribuídas em 270 gêneros, correspondendo a aproximadamente 22% dos Perciformes. Nessa subordem, a família Gobiidae é a que apresenta o maior número de espécies, possuindo 210 gêneros e um número estimado de 1.950 espécies, o que corresponde a cerca de 88% da subordem Gobioidei.
Os representantes de Gobiidae apresentam considerável importância ecológica e comercial, já que sua elevada abundância em determinadas localidades os tornam um componente fundamental na cadeia alimentar. Várias espécies são pescadas e comercializadas de forma significativa, sendo utilizadas como isca na pesca de peixes de maior porte. Em diversos países ocidentais, devido suas cores exuberantes, comportamentos peculiares e tamanhos apropriados, algumas espécies são intensamente comercializadas no segmento da aquariofilia, compondo de 5% a 7% das vendas nos mercados de peixes ornamentais marinhos.
No Brasil, a espécie Elacatinus fígaro, popularmente conhecida como neon goby, já foi uma das mais importantes no comércio de exportação de peixes ornamentais marinhos do país e, devido a essa prática, encontra-se na lista de espécies ameaçadas de extinção e resguardada do extrativismo.
A maior parte das espécies de gobídeos apresenta tamanho reduzido, não ultrapassando 10 centímetros de comprimento. Muitas espécies que vivem próximas à costa e em substratos rochosos se alimentam principalmente de invertebrados bentônicos e algas.
É comum uma estreita associação entre diferentes espécies de gobídeos com outros animais, como esponjas, moreias, camarões e ouriços-do-mar. Algumas espécies possuem interação com peixes maiores promovendo a limpeza de parasitas.
As espécies de gobídeos variam em abundância dependendo do tipo de ambiente, seja estuarino, arenoso, rochoso e recifal. No Brasil, uma recente pesquisa realizada pela Associação MarBrasil, através do Projeto ProRecifais identificou a maior abundância da espécie Coryphopterus glaucofraenum em ilhas costeiras e áreas de transição entre fundo arenoso e recifes artificiais marinhos.
Em território nacional, várias espécies de peixes marinhos tiveram suas populações reduzidas, com perdas de até 90%. Peixes recifais, em particular, são altamente susceptíveis à explotação pesqueira devido às suas características bioecológicas, comportamento e pelo grau de isolamento demográfico das populações. Nesse sentido, duas ferramentas utilizadas amplamente no cenário internacional e nacional exibem potencial de promover sinergicamente a conservação de peixes recifais ameaçados: unidades de conservação marinhas podem ser projetadas para conservar a biodiversidade e auxiliar na recuperação das populações e espécies vulneráveis e recifes artificiais podem disponibilizar novos habitat, provendo refúgios e aumentando a sobrevivência dos indivíduos.
A diversidade de espécies, amplo padrão de distribuição, características ecológicas e comportamentais peculiares evidenciadas por representantes da família Gobiidae demonstram a grande capacidade adaptativa dos peixes que a compõe, cuja carência de informações os tornam importantes modelos para análises evolutivas no ambiente marinho.
Alerta! Diga não ao comércio de espécies marinhas ornamentais ameaçadas!
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