Veterinária, mestra em Epidemiologia, doutora em Patologia e com pós-doutorado pela San Diego Zoo Institute for Conservation Research (EUA). É professora de Medicina de Animais Selvagens da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisadora colaboradora do Instituto Brasileiro para Medicina da Conservação – Tríade
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O ecoturismo promove a conservação dos recursos naturais servindo como fonte de renda para populações que vivem nessas regiões, além de possibilitar o aumento da consciência ambiental e da valorização da natureza. O desejo de encontrar áreas naturais que não foram alteradas pelo desenvolvimento humano faz com que as pessoas viajem para regiões muitas vezes remotas. Os meios de transporte, juntamente com equipamentos e materiais disponíveis atualmente, permitem aos seres humanos facilmente adentrarem áreas de difícil acesso.
Todas as espécies se movimentam, seja por alguns metros ou por milhares de quilômetros como as espécies migratórias. Não obstante, hoje temos velocidade, quantidade e alcance de deslocamentos humanos sem precedentes na história da humanidade. Viajantes podem alcançar grande parte do planeta em um período inferior a 48 horas, que pode ser o tempo bem mais curto que o período de incubação de uma doença infecciosa, por exemplo.
Os seres humanos não viajam sozinhos e podem adquirir ou transmitir patógenos. Eles carregam os microrganismos que vivem naturalmente no seu organismo, como a microbiota intestinal, além de outros que possam eventualmente estar albergando ou transportando em suas vestes e equipamentos. Diversos são os relatos de enfermidades que os turistas podem contrair em suas viagens, mas há poucos estudos ou comprovações de doenças que são transmitidas dos viajantes para os animais dos locais visitados.
Já foram relatadas transmissões, em áreas de reservas naturais, de patógenos humanos para animais selvagens de algumas doenças bacterianas, como a colibacilose, salmonelose, campilobacteriose, shigelose; doenças de origem viral, como a infecção pelo metapneumovírus; e também parasitárias, como a criptosporidiose e a giardíase. Duas bactéria de origem humana, o Campylobacter sp. e a Salmonella sp. foram encontradas em aves antárticas e sub-antárticas. A disseminação de novos patógenos em ecossistemas naturais pode causar uma séria ameaça para o futuro de espécies de animais selvagens desses locais.
Os efeitos do ecoturismo na saúde dos animais selvagens infelizmente ainda não são considerados por muitos dos envolvidos nessa prática, uma vez que nem sempre são adotados os cuidados desejáveis, como não viajar doente, cuidar da limpeza das vestes, a desinfeção dos equipamentos e destinação adequada dos desjetos. Tais fatores ainda são um desafio para essas atividades e a conscientização, assim como o desenvolvimento de trabalhos preventivos, são importantes ações que devem ser realizadas.
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