Engenheiro agrônomo e mestre em Sistemas Costeiros e Oceânicos. É coordenador geral do Programa Recuperação da Biodiversidade Marinha (Rebimar) da Associação MarBrasil e professor na pós-graduação em Biologia Marinha pela Universidade Espírita (PR)
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A garoupa-verdadeira (Epinephelus marginatus) pertence à família Epinephelidae, a mesma dos badejos, chernes e do mero. Formam um grupo de peixes que ocorrem em ambientes recifais e apresentam grande relevância para os ecossistemas costeiros e marinhos. Os peixes da espécie preferem áreas com recifes pois encontram locais para descanso e proteção (tocas e fendas), além de alimento (peixes e crustáceos). Assim como as outras espécies de Epinephelidae, elas são predadores topo de cadeia, influenciando a estrutura de todo ecossistema.
As garoupas-verdadeiras têm ciclo de vida longo e formam agregações reprodutivas. Possuem ampla distribuição no oceano Atlântico e no mar Mediterrâneo. No Brasil, a espécie ocorre do Rio Grande do Sul até o Espírito Santo.
A estratégia reprodutiva das garoupas-verdadeiras é curiosa: alta fecundidade e ausência de cuidado parental (milhares de ovos liberados na coluna d’água). Todos os indivíduos têm sua primeira maturação (quando estão aptos a reproduzir) como fêmeas e quando adultos os indivíduos podem reverter o sexo para macho ou permanecer fêmea, sendo que os maiores quase sempre são machos. Como consequência dessa estratégia, a razão sexual da garoupa-verdadeira é desproporcional, ocorrendo sempre mais fêmeas do que machos.
A espécie é alvo da pesca em toda sua área de distribuição e suas características biológicas e ecológicas a tornam, assim como outros peixes de sua família, vulneráveis à pressão pesqueira. A captura desses peixes está geralmente direcionada aos indivíduos maiores, que são em sua maioria os machos, reduzindo ainda mais a quantidade deles na população e comprometendo o sucesso reprodutivo da espécie.
Muitas espécies de Epinephelidae, incluindo Epinephelus marginatus, se encontram ameaçadas de extinção. Devido ao declínio populacional em vários locais de sua distribuição, à sobrepesca, à poluição e à perda de habitat, a garoupa-verdadeira está classificada como Vulnerável, tanto na lista global, pela União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), como no Brasil, através do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção.
No Brasil, medidas de manejo pesqueiro têm sido aplicadas para gestão e conservação da garoupa-verdadeira. O plano de recuperação estabelece o defeso (período de reprodução) e tamanhos mínimo e máximo de captura. A legislação por si não garante que as populações irão se recuperar, portanto é necessário que atividades de pesquisa, monitoramento e fiscalização sejam constantes e implementadas com critério e rigor.
O tamanho mínimo de captura (restrição da captura de indivíduos pequenos ou juvenis) intensifica a captura de fêmeas maiores, com maior potencial reprodutivo, além de poder impactar drasticamente na diminuição do número de machos. A proibição da pesca na época de reprodução ajuda a proteger a garoupa-verdadeira, porém a falta de conhecimento sobre os locais de ocorrência das agregações reprodutivas no Brasil pode limitar a eficácia da medida.
Em nível mundial, uma das medidas com bons resultados para conservação, proteção e recuperação de populações de peixes recifais, como a garoupa-verdadeira, consiste na criação de unidades de conservação ou áreas marinhas protegidas (AMPs), onde muitas atividades humanas são vetadas. Efeitos positivos das AMPs para a conservação da biodiversidade são observados em vários países, assim como no Brasil. É o caso do aumento na riqueza de espécies e da abundância de peixes recifais dentro dessas áreas.
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