
Por Bruna Almeida
Bióloga e coordenadora do Projeto Reabilitação de Fauna Silvestre e das atividades de educação ambiental no Centro de Triagem de Animais Silvestres de Catalão (GO)
universocetras@faunanews.com.br
A manutenção de animais silvestres em cativeiro, especialmente no que diz respeito aos aspectos nutricionais, é um dos grandes desafios enfrentados pelos empreendimentos de fauna, cujas funções são de manter temporariamente ou permanentemente espécimes. Na natureza, há a variação das estações do ano, provocando mudanças de temperatura, precipitação e, consequentemente, de disponibilidade de alimentos. No bioma Cerrado, por exemplo, há duas estações bem definidas durante o ano: uma seca (maio a setembro) e outra chuvosa (outubro a abril), que determinam a escassez ou abundância de recursos essenciais para a sobrevivência da fauna, bem como a floração e frutificação das plantas.
Em condições de cativeiro, os animais silvestres não são afetados pelas variações sazonais, pois diariamente recebem alimentação em horários estabelecidos pelos empreendimentos, cuja composição não se assemelha ao ambiente natural. Pesquisas relacionadas a nutrição animal e hábitos alimentares, realizadas através de cálculos matemáticos associados a estrutura corpórea e a nutrientes específicos e essenciais, têm sido constantes na busca por uma dieta equilibrada e nutricionalmente adequada para as diversas espécies. Além disso, deve-se considerar também os padrões de atividades físicas dos indivíduos e o gasto de energia diário, evitando excesso de gordura, peso, disfunções nos órgãos, entre outros problemas.
Frequentemente, recebemos no Centro de Triagem de Animais Silvestres de Catalão (Cetas) de Catalão (GO) psitacídeos (papagaios, araras e periquitos) que eram mantidos ilegalmente em cativeiro, especialmente papagaios alimentados em grande parte ou exclusivamente com sementes de girassol. Em alguns casos, temos dois desafios: ensinar as aves a se alimentarem de frutas e as reconhecerem como alimento, bem como fazer o indivíduo emagrecer e tratar das alterações decorrentes do acúmulo de gordura no organismo. Alimentos oleaginosos são benéficos para a saúde, tanto animal como humana, contudo devem ser ingeridos de forma balanceada e equilibrado com demais nutrientes.
Os carnívoros como os felinos e aves de rapina são alimentados exclusivamente com carne. Recebemos doações periódicas e satisfatórias de fetos de bezerros e outras partes de bovinos, oferecemos galinhas e roedores, ambos inteiros. Os ossos, as penas, os pelos e as cartilagens existentes nas presas são fundamentais para a nutrição desse grupo, evitando doenças ósseas metabólicas e, consequentemente, anomalias/má formação e comprometimento de locomoção. Esses problemas levam, muitas vezes, à eutanásia em virtude de dores e da ausência de uma qualidade de vida minimamente aceitável para o animal. Periodicamente, realizamos a entrega do alimento para os felinos dentro de caixas, abóboras, pendurados e escondidos pelo recinto, com o intuito de estimular uma maior movimentação do espécime, além de tornar mais atrativa a conquista pela comida.

Espécies onívoras são aquelas que se alimentam tanto de fonte animal como vegetal, como os quatis, os macacos, os jabutis e o lobo-guará que atualmente estão sob os cuidados da equipe do Cetas Catalão. Para essas espécies, há uma variedade de alimentos oferecidos, como frutas, rações, carne, flores e folhas. O lobo-guará tem preferência pelo fruto da lobeira, ou fruta-do-lobo, espécie amplamente distribuída no Cerrado e essencial na manutenção do animal. Esse alimento possui ação terapêutica, especialmente contra o verme-gigante-dos-rins, parasita que pode provocar complicações renais e até mesmo levar o animal a óbito. Dessa forma, coletamos e ofertamos o fruto para os lobos-guará que fazem parte do nosso plantel.

Já os insetívoros, como os tamanduás e algumas espécies de aves, são alimentados com larvas de tenébrios, minhocas, grilos e cupins, ou também, como fonte proteica, com rações umedecidas de cães e gatos. A manutenção de tamanduás em cativeiro é um grande desafio devido à sua dieta específica e à quantidade de alimento que deve ser ingerida diariamente, bem como pela dificuldade em coletar cupins todos os dias. Para suprir as necessidades nutricionais dos tamanduás, tanto do tamanduá-bandeira como do tamanduá-mirim, e seguindo orientações de profissionais que estudam as espécies, elaboramos uma papa que contém leite de cabra, frutas, ovos, ração, danoninho, além de suplementos e vitaminas. Uma verdadeira “gororoba” ofertada em tubos de pvc e que eles adoram.

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