Veterinária, mestra em Epidemiologia, doutora em Patologia e com pós-doutorado pela San Diego Zoo Institute for Conservation Research (EUA). É professora de Medicina de Animais Selvagens da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisadora colaboradora do Instituto Brasileiro para Medicina da Conservação – Tríade
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Hoje, o mundo está com quase três milhões de mortes humanas causadas pela Covid-19, sendo que mais de 350 mil são no Brasil, e este artigo vem falar sobre doenças de corais? Sim, isso mesmo. Estamos todos conectados e as constantes pressões a que os ecossistemas são submetidos por um sistema econômico e modo de vida baseados no consumo exagerado causam o adoecimento de todos. Inclusive dos corais.
Os corais, mesmo que não pareçam, são animais cnidários que formam colônias marinhas e existem há cerda de 250 milhões de anos. Essas formas de vida ocorrem principalmente em locais com águas quentes e rasas, mas também já foram encontrados em águas mais profundas. Há poucos anos, foram encontrados corais no foz do rio Amazonas, no Brasil. Nosso país tem uma pequena variedade de corais, no entanto aproximadamente 50% das espécies existentes só são encontradas aqui.
Os corais são essenciais para a vida no mar e formam um ambiente marinho riquíssimo, sendo comparados a verdadeiras florestas submersas. Cerca de um quarto das espécies marinhas vivem nesse ambiente e diversas espécies de peixes dependem dos corais para sobreviver, contribuindo, portanto, de forma decisiva para a formação e manutenção da biodiversidade nos oceanos. Os corais também podem proteger a costa das ações violentas das ondas. Estima-se que mais de 500 milhões de pessoas dos países em desenvolvimento possuem algum tipo de dependências dos serviços oferecidos por esse ecossistema.
Umas das principais ameaças aos corais é a acidificação dos oceanos devido ao aquecimento global, além da poluição marinha, turismo desordenado, turbidez da água, pesca predatória e aterramento. As doenças em corais também representam uma importante causa na perda destes organismos e vêm aumentando nos últimos anos.
As enfermidades dos corais podem ser causadas por bactérias, vírus, protozoários ou fungos e têm potencial para causar alterações nas taxas de crescimento, reprodução, estrutura, diversidade e abundância de organismos relacionados aos recifes. A rápida proliferação das doenças pode estar ligada ao aquecimento global associado à degradação da zona costeira. Os mecanismos pelos quais as doenças agem nos pólipos dos corais ainda não são totalmente elucidados, apesar de os efeitos já serem bem documentados.
O aparecimento, cada vez mais, de novas enfermidades e o aumento da frequência de doenças já existentes, seja em seres humanos ou animais tão evolutivamente distintos de nós, como os corais, indicam que algo não vai bem. Estamos todos conectados nesta teia da vida e temos que estar atentos aos sinais de desequilíbrio e mudarmos a nossa forma de viver. No futuro, seremos uma espécie que passou pela Terra, assim como muitas outras. Resta saber se nossa passagem será mais rápida ou durará um pouco mais.
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