Veterinária, mestra em Epidemiologia, doutora em Patologia e com pós-doutorado pela San Diego Zoo Institute for Conservation Research (EUA). É professora de Medicina de Animais Selvagens da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisadora colaboradora do Instituto Brasileiro para Medicina da Conservação – Tríade
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A perda global da biodiversidade é um dos mais graves problemas da atualidade, sendo alvo de grande preocupação por toda a sociedade. O Brasil é o país que possui a maior diversidade de anfíbios, grupo composto pelas salamandras, cecílias e anuros (sapos, rãs e pererecas). Em uma escala global, dentre todos os vertebrados, foram os anfíbios que mostraram o mais impressionante declínio nas últimas décadas.
Dados de 2019 da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) apontam que 41% das espécies de anfíbios no mundo estão sofrendo algum tipo de declínio. A maioria dessas perdas ocorreu a partir de 1980 e, particularmente preocupante, as espécies neotropicais foram as mais afetadas em comparação às existentes em outras regiões do mundo.
O declínio observado em populações de anfíbios é decorrente de interações complexas entre diversos fatores tais como a perda de habitat, introdução de espécies exóticas, poluição, contaminantes ambientais, aumento da radiação UV, alterações climáticas e doenças infecciosas. Dentre as enfermidades está a causada pelo fungo Batrachochytrium dendrobatidis (Bd), pior doença até hoje registrada por pesquisadores em animais selvagens de vida livre.
O Bd causa alterações na pele dos anfíbios, um órgão extremamente delicado nesse grupo, que causa problemas hidroeletrolíticos que podem levar os animais à morte por colapso cardíaco. As espécies que correm mais risco são as que vivem em locais que facilitam a sobrevivência do fungo, como as regiões de altitudes intermediárias, temperaturas amenas e espécies mais aquáticas. No mundo todo, o Batrachochytrium dendrobatidis já foi responsável pela diminuição populacional de 501 espécies, incluindo a provável extinção de 90.
A preocupação com o declínio de anfíbios está em grande parte ligada ao papel desempenhado por esta Classe de vertebrados como indicadora de estresses ambientais, uma vez que por suas características fisiológicas, a maioria dos anfíbios apresenta íntimo contato com os ambientes aquático e terrestre nas fases larval e adulta, respectivamente. Além disso, representam importantes componentes dos ecossistemas, onde compõem uma grande parte da biomassa e alimentam-se de invertebrados que podem ser vetores de doenças para os seres humanos.
Há poucas publicações sobre declínios de anfíbios no Brasil, apesar de haver diversos relatos oficiosos de espécies outrora abundantes que estão se tornando raras. A acelerada redução das espécies de anfíbios indica a necessidade de uma expansão rápida de programas de pesquisa e estratégias emergenciais para sua conservação, como o aumento da biossegurança e o comércio de animais, especialmente em um país como tanta diversidade de anfíbios como o Brasil.
Referências
– Guimarães, M. Mais de 500 espécies de anfíbios foram dizimados por fungo quitrídio. Revista Fapesp, 2019
– Scheele, B.C. et al, 2019. Amphibian fungal panzootic causes catastrophic and ongoing loss of biodiversity. Science 363(6434):1459-1463
– Red List IUCN – acesso em 16 de novembro de 2020
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