Por Bianca Picado Gonçalves¹ e Lais Freitas Lopes²
¹Bióloga e advogada, diretora de planejamento e ações ambientais do Instituto Eco Aves
²Bióloga colaboradora do Instituto Eco Aves
segundachance@faunanews.com.br
A Área de Soltura e Monitoramento de Fauna EcoAsas realizou sábado, 7 de janeiro, sua primeira soltura do ano. Ganharam a liberdade e a tão esperada “segunda chance”, três aves da espécie Ramphastos toco (tucanuçu), oito Psittacara leucophthalmus (periquitão), um Coragyps atratus (urubu-preto) e dois Caracara plancus (carcará).
Ao pensarmos nesse tipo de ação, logo imaginamos a soltura de animais de espécies exuberantes e admiradas como aves canoras, araras e papagaios. Mas precisamos ir além disso, pois muitas outras espécies, como carcarás e urubus, também soltos nessa primeira atividade de 2023, vem enfrentando problemas refletidos por ações antrópicas (feitas pelo ser humano). Esses animais também chegam aos centros de triagem e reabilitação de animais silvestres (Cetras) e precisam de destinação.
Entre os principais fatores que levam esses animais a sofrerem com as ações do ser humano está a perda de hábitats, com isso, essas aves vêm migrando cada vez mais para próximo de centros urbanos e de rodovias, o que aumenta significativamente os casos de acidentes por atropelamentos.
Os urubus, por exemplo, aves conhecidas por se alimentarem de organismos em decomposição, apresentam hábito alimentar oportunista, podendo se alimentar em lixões. Nas cidades, elas se reproduzem em edificações e fazem desses locais “sua casa”.
Os regates em rodovias e a retirada dos filhotes de edificações humanas vêm aumentando e chamando a atenção, pois nessas condições há a necessidade de passarem por cuidados veterinários e por reabilitação realizada por biólogos e técnicos. Em nossa região, Botucatu (SP), temos um importante parceiro, o Centro de Medicina e Pesquisa em Animais Silvestres (Cempas) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista (FMVZ-UNESP) de Botucatu, que realiza as primeiras ações de cuidados com as aves. Após estarem clinicamente aptas a retornarem à natureza, elas são destinadas para a nossa área de soltura para que possam ganhar a liberdade.
Ao chegarem na EcoAsas, as aves permanecem em recintos de ambientação, passam por avaliações diárias de técnicos e para nós fica a grande missão de soltura e monitoramento, acompanhando-as na busca por alimento e novos hábitats.
Educação ambiental
Realizamos também um de nossos mais importantes papeis: o de transmitir conhecimento. Por meio de ações de educação ambiental, buscamos demostrar a todos que muitas de nossas espécies, mesmo não estando ameaçadas, enfrentam muitos problemas e precisam de nossa atenção. Urubus e carcarás desempenham um importantíssimo papel ecológico na natureza, pois são essenciais na manutenção na limpeza dos ambientes, sendo responsáveis pela eliminação de 95% das carcaças de animais mortos na natureza.
Esses hábitos alimentares mantêm, portanto, os ecossistemas saudáveis, ao permitirem verdadeiras “faxinas” no local, o que evita a propagação de doenças e bactérias.
As aves soltas no último sábado estão sendo monitorados pela equipe da EcoAsas. As expectativas são que elas possam ir se readaptando a vida em liberdade, aprendendo a buscar o próprio alimento e abrigo e que seja atingido o auge de sucesso da soltura, que é o retorno ao seu ciclo reprodutivo.
A EcoAsas é um dos projetos ambientais realizados pelo Instituto Eco Aves, uma organização não-governamental, sem fins lucrativos de caráter socioambiental, representada pela presidente Andrea Baka Janjacomo e por Márcio Cesar Janjacomo. Os principais eixos de atuação do Instituto são combate ao tráfico de animais silvestres, bem-estar animal, conservação da fauna, recomposição florestal com ênfase no bioma Cerrado, pesquisa científica e educação ambiental.
Saiba mais sobre nossos projetos acessando o site do Instituto e o perfil no Instagram.
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