Onça-pintada: ameaçada na floresta, foi parar na avenida

Nomes populares: jaguar, pantera-onça, jaguarapinima, jaguaretê, canguçu, yaguareté, pintada, pinima, pinima-malha-larga, pixuna, onça verdadeira, acanguçu
Nome científico: Panthera onca
Estado de conservação: “quase ameaçada” (NT) na Lista Vermelha da IUCN e “vulnerável” (VU) na Lista Oficial da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção

Presente na cosmovisão dos povos originários da América Latina, na literatura, no cinema, em ditados populares (quem nunca “cutucou a onça com vara curta”?), em novelas e até na moda, a onça-pintada nos encanta, com um misto de força, beleza, poder, agilidade e coragem.

Infelizmente, nos últimos anos esse animal, símbolo brasileiro da conservação da biodiversidade, tem aparecido na mídia por conta de patas queimadas ou morte, causadas por incêndios provocados pelo homem no Pantanal, atropelamentos e decapitação por caçadores inescrupulosos e criminosos. Um verdadeiro pesadelo, aparentemente sem fim.

Mas afinal, quem é a onça-pintada?

Maior felino das Américas e terceiro maior do mundo, atrás apenas do tigre e do leão, a onça-pintada é um predador de topo de cadeia, fundamental na regulação das populações de outras espécies nos ecossistemas onde vive. É o maior carnívoro do Brasil.

Habita desde o México até a Argentina. No passado também era encontrada nos Estados Unidos, o que não acontece desde o final do século passado. No Brasil, ocorre em diversos biomas: Amazônia, Pantanal, Cerrado, Mata Atlântica e Caatinga, estando seriamente ameaçada nesses dois últimos. Não existe mais no Pampa.

As onças-pintadas são animais predominantemente noturnos, capazes de nadar e subir em árvores com grande destreza. Caçadoras oportunistas e estrategistas, comem a presa que estiver disponível, geralmente capturada em emboscadas, nas quais lançam-se sobre ela. Em relação ao tamanho do seu corpo, sua mordida é a mais potente entre todos os grandes felídeos, capaz de quebrar até mesmo carapaças de quelônios (tartarugas, cágados e jabutis).

Sua dieta é composta por presas que vão de pequeno a grande porte. Entre elas estão cotias, antas, veados, jacarés (e seus ovos), macacos, capivaras, porcos-do-mato, tatus, preguiças, etc.

Aquelas que habitam as florestas alagadas da Amazônia vivem nas copas das árvores até que o nível da água volte ao normal, o que pode levar meses.

O pelo é amarelo acastanhado, com manchas (pintas) pretas por todo o corpo. As pintas costumam ser “fechadas” na cabeça, nuca e cauda, mas no resto do corpo são “vazadas” e com pontos escuros em seu interior. Também chamadas de rosetas, as pintas ou manchas são como nossas impressões digitais, ou seja, únicas para cada indivíduo. Não há duas onças com pelagens iguais.

Quanto ao tamanho, alcançam em média de 1,12 a 1,85 metro do focinho até a base da cauda, que pode chegar a 75 centímetros. O peso varia de 36 a 130 quilos, podendo chegar a 158 quilos. Onças que vivem em florestas fechadas costumam ser menores e mais escuras do que as que vivem em áreas abertas.

A gestação das onças-pintadas dura de 90 a 110 dias e normalmente dão à luz dois filhotes, aos quais a mãe dedica-se por dois ou três anos. Após esse período, acasala novamente.

Ameaças às onças-pintadas

Apesar da força e do respeito que transmitem, estes grandes felinos encontram-se ameaçados. Há quem os mate pela pele, por “diversão”, para exibir seus corpos como troféus, apesar de sua caça ser proibida no país ou, no caso de regiões onde há fazendas, por retaliação ou prevenção à morte de algum animal, muitas vezes atribuída levianamente a alguma onça.

Mineração, garimpo ilegal, desmatamento, incêndios criminosos, avanço da pecuária e da agricultura e abastecimento do mercado de medicina tradicional chinesa com o pó de presas de onça (o de tigre asiático é proibido na China), somam-se à lista de perigos enfrentados pela espécie, que já é considerada como “vulnerável” na Amazônia e no Pantanal, está “em perigo” no Cerrado e “criticamente ameaçada” de extinção na Mata Atlântica e na Caatinga.

Em um país que já foi considerado “a terra das onças” (Jaguaretama: do tupi yaguar – onça – e retama – pátria) isso é, no mínimo, inadmissível.

Neste Carnaval (“deslizes” taxonômicos à parte), o samba-enredo “Nosso destino é ser onça” da escola de samba fluminense Acadêmicos da Grande Rio e seu desfile na avenida abordaram o papel central da onça na mitologia de povos originários latino-americanos, despertando a atenção para estes magníficos representantes da nossa fauna, incluindo publicações em redes sociais.

É necessário que medidas de proteção a esses animais e fiscalização quanto à sua caça sejam mais rigorosas, antes que as onças-pintadas sejam apenas lembrança.

Repetindo o termo usado pelo carnavalesco Gabriel Haddad, precisamos fazer a “diferonça”.

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