
Por Kamila Bandeira
Bióloga com mestrado em Zoologia pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É doutoranda no mesmo programa, além de pesquisadora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Suas pesquisas estão focadas em Paleontologia de vertebrados
tuneldotempo@faunanews.com.br
Recentemente, fomos agraciados com um novo dinossauro brasileiro aparecendo na imprensa e nas mídias sociais. Batizado de Arrudatitan maximus e publicado na revista inglesa Historical Biology, ele pertence ao grupo dos titanossauros – dinossauros herbívoros, quadrúpedes e de pescoço longo. Os titanossauros foram particularmente abundantes na América do Sul durante o período Cretáceo. E no Brasil não foi diferente (lembra do titanossauro que abordamos em outro artigo, o Gondwanatitan?).

Porém, o estudo sobre o Arrudatitan não traz uma espécie nova, como normalmente se destaca nas notícias. Na verdade, a pesquisa fez uma revisão taxonômica do gênero no qual os fósseis dessa espécie pertenceriam. Os fósseis foram encontrados no final dos anos de 1990 (Figura 1) na região de Cândido Rodrigues (SP) por habitantes locais. Reportados ao Museu de Paleontologia de Monte Alto, diferentes expedições coordenadas pelo professor Antônio Celso de Arruda Campos (1934-2015) conseguiram resgatar vértebras, costelas, ossos dos membros e partes da cintura pélvica do animal. Destacam-se entre os elementos achados um fêmur (osso da coxa) completo, com 1,55 metro! O material foi então tombado no museu e recebeu o número MPMA 12-0001-97.
Anos mais tarde, em 2011, o estudo do MPMA 12-0001-97 (Figura 2) permitiu uma primeira identificação como uma espécie nova, porém de um gênero já existente, chamado Aeolosaurus. Esse gênero abriga outras duas espécies na Argentina e o então “Aeolosaurus” maximus seria a primeira espécie de Aeolosaurus no Brasil.
Muitos outros estudos posteriores indicaram, porém, que o parentesco entre a espécie brasileira e as argentinas eram inconclusivas. Por exemplo, em um estudo liderado por Martinelli e colaboradores, também de 2011, os autores discutem que a vértebra caudal do MPMA 12-0001-97 indicaria um grau de parentesco com os demais Aeolosaurus, mas não o suficiente para atribui-lo ao mesmo gênero.

Já no estudo conduzido por mim e alguns colegas, (veja Bandeira e colaboradores, de 2016), as análises sobre o parentesco entre diferentes espécies de titanossauros sul-americanos referiu o exemplar MPMA 12-0001-97 como “Aeolosaurus” maximus ao longo de seu artigo descrevendo o titanossauro Austroposeidon magnificus. Eu e meus colegas atribuimos as aspas ao “Aeolosaurus” maximus pelo fato desse espécime ser suficientemente diferente dos demais Aeolosaurus em termos de anatomia. Desde então, a dúvida pairou no ar e estudos mais recentes – como de Silva Jr. e colaboradores (2019) e de Hechenleitner e colaboradores (2020) confirmaram que “Aeolosaurus” maximus realmente não pertencia ao gênero Aeolosaurus. Assim, outro estudo conduzido por Silva Jr. e colaboradores, agora em 2021, ao analisar as estruturas das vértebras caudais desse animal observou novas características que confirmam que o exemplar era realmente distinto dos demais dinossauros. Assim, MPMA 12-0001-97 foi rebatizado como Arrudatitan maximus em homenagem ao professor Antônio, responsável pela criação do museu de Monte Alto. Além disso, o Arrudatitan teve comprimento estimado entre 19 a 22 metros, se tornando o terceiro maior dinossauro do país!
Esse estudo amplia ainda mais o conhecimento sobre os fósseis dos titanossauros que viveram no Brasil, enaltecendo o quanto muitas vezes uma reanálise de materiais já conhecidos pode muito bem trazer grandes novidades.
– Silva, J.C. Jr.; Martinelli, A.G.; Iori, F.V.; Marinho, T.S.; Hechenleitner, E.M.; Langer, M.C. (2021). “Reassessment of Aeolosaurus maximus, a titanosaur dinosaur from the Late Cretaceous of Southeastern Brazil”. Historical Biology: An International Journal of Paleobiology. in press.
– Leia outros artigos da coluna TÚNEL DO TEMPO
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es)