Por Gabriela Schuck
Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestranda junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da mesma instituição
transportes@faunanews.com.br
O atropelamento de fauna é o impacto mais visível das rodovias. É praticamente impossível percorrer uma rodovia e não ver nenhuma carcaça na beira da estrada. Porém, os impactos das rodovias vão muito além do nosso campo de visão em uma via.
Impactos não tão perceptíveis, como a poluição sonora, a atmosférica e a luminosa são apenas algumas consequências que a biodiversidade enfrenta com as estradas. E grande parte dos grupos faunísticos são atingidos, inclusive animais pequenos como os invertebrados (os que não possuem coluna vertebral).
Dentro do universo dos invertebrados, os insetos são bem impactados e bastante negligenciados na área de Ecologia de Rodovias. Já realizamos uma reflexão sobre a diminuição de desses animais nos para-brisas dos veículos nos últimos anos, provavelmente pela redução da sua população pelo fato de eles serem afetados por diversos tipos de impactos antrópicos. Algumas espécies possuem um tempo de vida tão curto e uma reprodução rápida, que pode ser que a retirada de indivíduos pelas estradas não seja suficiente para impactar as populações (suposição que precisa ser investigada). Todavia, outros impactos, como a poluição sonora, podem prejudicar o comportamento deles, causando consequências para o futuro das espécies.
Já abordamos como o impacto sonoro atinge espécies de vertebrados (anfíbios e aves). Porém, esse impacto também afeta insetos que dependem de avisos sonoros para a reprodução. Um estudo com grilos evidenciou “escolhas erradas” de parceiros quando esses animais estavam em ambientes com poluição sonora de tráfego. Para esses animais, assim como para outros que utilizam o som no processo reprodutivo, uma escolha errada de parceiro sexual pode prejudicar a manutenção de uma população. Pois é normalmente através do som que é escolhido o parceiro com melhores “qualidades genéticas” e que, como um todo, levarão a espécie a se manter bem e saudável. Uma escolha errada, por exemplo, pode aumentar o número de doenças e defeitos genéticos que contribuem para o declínio das populações.
Apesar desse estudo ser específico para uma espécie de grilo, pode se esperar um resultado semelhante para outros animais que dependem do som para a reprodução. Provavelmente há espécies que não são tão impactadas com atropelamentos, mas sim com outros impactos que uma rodovia fornece para o ambiente. É sempre importante ter um grupo alvo de estudo e planejamento de mitigação, pois apesar de a mortalidade ser mais visível e normalmente escolhida para ser atenuada, pode ser que o alvo de interesse não seja tão sensível aos atropelamentos – o que não significa que a rodovia não cause um impacto e que esse grupo não esteja sofrendo outros tipos de consequências.
Infelizmente, há poucos estudos com insetos e rodovias. Mas podemos esperar que as estradas impactem de diversas formas esse grupo. Precisamos incentivar ainda mais pesquisas e buscar soluções criativas para diminuir as consequências dessas vias nos invertebrados. Eles representam a maior parte da biodiversidade do planeta e são muito importantes para manutenção dos ecossistemas. Com a diminuição deles, animais vertebrados e plantas também entrarão em declínio, pois dependem de formas diretas e indiretas desse grupo tão diverso.
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