Bióloga, mestre e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É pesquisadora pós-doutoranda do Programa USP-Sustentabilidade vinculado ao Laboratório de Ecologia, Manejo e Conservação de Fauna Silvestre da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP). Também é colaboradora do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (Nerf) da UFRGS.
Genericamente, falamos que as rodovias degradam o meio ambiente. Mas são diversas as formas que essa degradação ambiental afeta a fauna. Podemos incluir nesse grupo de impactos a poluição química, a poluição luminosa e a poluição sonora. A poluição sonora é um dos impactos de uma rodovia que começa desde sua implantação, com a operação de máquinas, e se estende por toda sua operação, com o tráfego de veículos.
Inúmeros trabalhos mostram efeitos do ruído do tráfego na fauna, principalmente nos grupos faunísticos que dependem do som para sobreviver. Alguns exemplos são os anfíbios, os morcegos e as aves. Há trabalhos mostrando que o ruído do tráfego pode afetar os níveis de estresse do organismo, atrapalhar nos chamados para o acasalamento e mudar o comportamento de animais de algumas espécies.
Um estudo recente mostrou que o ruído do tráfego pode afetar os indivíduos até mesmo antes de nascer. Os pesquisadores manipularam o ambiente sonoro da espécie de ave tentilhão-zebra (Taeniopygia guttata) antes e depois do nascimento. Eles expuseram os ovos e os filhotes tanto ao ruído do trânsito quanto ao canto da espécie e conseguiram controlar o efeito de outros ruídos, chegando a novas descobertas.
Eles mostraram que a exposição exclusiva ao ruído do tráfego no início da vida teve consequências na aptidão e causou a morte embrionária durante a exposição. A exposição ao ruído do tráfego pré e pós-natal prejudicou cumulativamente o crescimento e a fisiologia dos filhotes e agravou o encurtamento dos telômeros ao longo dos estágios da vida até a idade adulta. Os telômeros são sequências repetitivas de DNA nas pontas dos cromossomos e, se são mais curtas, podem indicar maior estresse fisiológico. Os ovos expostos ao ruído do tráfego eclodiram com menos frequência do que os ovos expostos ao canto. Doze dias após a eclosão, as aves expostas ao ruído do tráfego eram, em média, 14,5% mais leves que as não expostas.
Os impactos se estenderam até a idade adulta. Em um local onde os tentilhões-zebra podiam procriar livremente, as aves expostas ao ruído geraram 59% menos descendentes – cerca de quatro aves a menos – do que aquelas criadas no local sem ruído do tráfego. O efeito foi atribuído principalmente à exposição pré-natal. Portanto, a exposição ao ruído no início da vida, especialmente no período pré-natal, diminuiu a produção individual de descendentes ao longo da idade adulta.
As descobertas sugerem que os efeitos da poluição sonora são mais preocupantes do que se imaginava anteriormente. Provavelmente, estudos com outras espécies de aves e outros grupos taxonômicos podem trazer mais evidências para efeitos da poluição sonora sobre problemas de reprodução e desenvolvimento da fauna. Ainda mais em um mundo onde rodovias se expandem cada vez mais e o tráfego (e o consequente ruído) só aumenta.
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es).
Bióloga, mestre e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É pesquisadora pós-doutoranda do Programa USP-Sustentabilidade vinculado ao Laboratório de Ecologia, Manejo e Conservação de Fauna Silvestre da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP). Também é colaboradora do Núcleo de Ecologia de Rodovias […]
