
Por Adriana Prestes
Bióloga, responsável técnica por áreas de soltura e monitoramento de fauna silvestre na Serra da Mantiqueira e Vale do Paraíba (SP) e secretária executiva do Grupo de Estudo de Fauna Silvestre do Vale do Paraíba, Litoral Norte e Serra da Mantiqueira
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Hoje, vou abordar alguns aspectos que são fundamentais para a realização de solturas bem-sucedidas e que antecedem a chegada dos animais ao seu destino, a área de soltura.
Independentemente da origem, uma vez que existem vários centros de triagem para a fauna, cada um com características próprias, os animais destinados à soltura devem passar por avaliação clínica e sanitária. Conforme já apresentamos, a recente Instrução Normativa nº 5/2021, do Ibama, traz em detalhes todos os requisitos para essa etapa. Além de uma boa avaliação clínica, é necessária a realização de alguns exames para a detecção de parasitos na pele e no sangue, bem como nas fezes. Uma vez havendo a liberação clínica-sanitária, os animais devem também passar por uma avaliação comportamental. Essa etapa é muito importante e, inclusive, pode auxiliar na técnica de soltura a ser adotada, seja branda ou imediata.
A avaliação comportamental também é fundamental para determinar o tempo necessário para a reabilitação dos animais. Por exemplo, se estamos tratando de aves, a condição das penas é fundamental para a uma soltura exitosa. O comportamento normal depende do empenamento normal! Portanto a condição do empenamento determina a capacidade do indivíduo em exibir um comportamento compatível com a biologia da espécie. Nesse caso, é preciso lembrar que as aves trocam algumas penas a cada ano e, dependendo do estado da plumagem, as de grande porte podem necessitar de mais de um ano para terem uma efetiva condição de voo. Por isso é tão importante preservar, desde o início do resgate do animal, a condição da plumagem, utilizando caixas e formas adequadas de contenção e manejo.
Uma vez vencidas as questões das condições clínicas, sanitárias e comportamentais, é preciso escolher adequadamente o esquema de transporte dos animais, isto é, horário da captura nos viveiros dos centros de triagem, alimentação durante o transporte, tempo de transporte até o local da soltura e a forma de acondicionamento no veículo de transporte. Todo o processo de captura nos viveiros e transporte dos animais até as áreas de soltura é muito estressante para qualquer espécie de silvestre, portanto um bom planejamento leva a uma boa execução e, consequentemente, minimiza o estresse provocado, aumentando as chances de sobrevivência dos indivíduos a serem soltos.
Por fim, a recepção na área de soltura ser, de fato, acolhedora para os animais, com a estratégia de soltura já definida, ou seja, estrutura de comedores abastecidos para uma ação de soltura imediata ou os viveiros preparados com água e comida para o caso de soltura branda. Finalmente, no caso da soltura branda, deve-se saber se haverá ou não alguma ação para reabilitação e quanto tempo deverá ser mantido o animal para esse fim.
Se todas essas etapas são realizadas previamente, a ação da soltura se torna um ato fácil de fazer e muito agradável de acompanhar. Quando tudo é bem planejado, os animais agradecem!
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