O que devemos aprender com os animais

Existem comportamentos de animais que deveriam servir de inspiração para nós, humanos. Muitos expressam atitudes que se assemelham às nossas, como solidariedade, cuidado, proteção, ou mesmo carinho. Não que os humanos não demonstrem esses sentimentos, mas muitas vezes se mostram egoístas e fingem não ver as necessidades alheias para priorizarem e defenderem seus próprios interesses.

Coletei alguns exemplos de comportamentos de animais para compartilhar neste artigo, que podem ser usados em educação ambiental para ilustrar e inspirar, servindo de modelo para nós. Contar histórias e ilustrar conceitos e valores por meio de exemplos tem sido uma boa abordagem para disseminar conhecimentos e valores, o que é a base de qualquer programa de educação ambiental.

Os exemplos abaixo são apenas amostras do que existe na natureza, mas achei que mereceriam ser compartilhados. Vale pesquisar mais, consultar especialistas e estudiosos, que certamente terão muito a enriquecer e adicionar.

Muriquis e seus abraços

Abraçar é muito gostoso, mas não temos o hábito de fazê-lo com muita frequência e nem nossos abraços são longos. Na Comuna do Ibitipoca, em Minas Gerais, existe uma mata reservada para a aclimatação dos muriquis que por algum motivo precisem ser transferidos de seus hábitats originais. A ideia é que sejam reintroduzidos na natureza depois de readaptados a práticas que podem ter perdido com o tempo em que foram subtraídos de seus ambientes naturais.

O relato é que dois irmãos muriquis foram separados por alguns meses. Como eram os últimos remanescentes da espécie em matas da região de Ibitipoca, houve um esforço em resgatá-los para que pudessem ser realocados posteriormente em ambiente mais seguro. Um foi levado para o “santuário” de Ibitipoca antes do segundo, que era mais arisco e só foi capturado aproximadamente três meses depois do primeiro. Quando os irmãos se reencontraram, permaneceram por duas horas e quinze minutos abraçados, emocionando os cientistas que os observavam, como conta Fabiano Melo e Fernanda Tabacow. Essa demonstração de carinho, saudade, alegria e alívio não é comum entre nós, humanos.

Focas curiosas e carinhosas

Um vídeo antigo mostra focas que pareciam aflitas com a sobrevivência de um mergulhador. Umas chamam outras para “salvá-lo”. Posteriormente, esse vídeo foi questionado sobre sua veracidade, mas o locutor afirma que esses animais são curiosos e carinhosos por natureza e que a experiência de aproximação é comum para elas.

Um mergulhador com mais de 20 anos de experiência interagindo com focas descreve como esses animais são confiáveis, curiosos e destemidos. As focas se aproximam, investigam, demonstram vontade de aproximação sem receio. Segundo o mergulhador, cuja profissão é ser médico, os mergulhos com as focas o ajudaram a cuidar de pacientes em situações desafiantes durante os traumas da Covid-19. A experiência tem momentos sublimes, que o proporcionou momentos de menos tensão, trazendo conforto e energia para continuar a enfrentar os desafios do período.

Pardais solidários

Outro dia, um pequeno pássaro marrom (creio que fosse um pardal) ficou preso no basculante da janela da minha casa. Ele piava alto e um monte de pardais se posicionaram no telhado e no muro próximo, piando de volta em nítida agonia e torcida. Eram muitos, o que indicou que seu piado aflito atraiu companheiros em solidariedade. Isso durou alguns minutos, até que consegui ajuda de uma pessoa alta, que o tirou do local onde estava preso e o soltou. Assim que se viu livre, voou piando alto e todas as aves que o aguardavam saíram junto como em um coro de celebração. A palavra que me veio foi solidariedade.

Esse meu relato coincide com um artigo que encontrei na internet. Nele, o autor menciona cinco animais que mostram cooperação como forma de se protegerem como espécie, sendo um deles os pardais.

Vida em família dos micos-leões-pretos

Quando uma fêmea de mico-leão-preto pare, a família cuida dos bebês, que em geral são dois. O pai assume grande parte do trabalho de carregá-los e os irmãos mais velhos também ajudam com os pequenos, o que os prepara para cuidar dos bebês e estarem prontos para formar novas famílias. A mãe é poupada para que possa alimentar bem seus filhotes.

Outro comportamento interessante dos micos-leões-pretos é a forma como vivem em famílias, uns protegendo os outros de predadores ou qualquer ameaça ao seu território. Aliás, muitos primatas são similares. Os micos dormem todos juntos em ocos de árvores e por isso dependem de florestas antigas, que contam com buracos em seus troncos.

Nos corredores de florestas que o IPÊ tem plantado, nossa pesquisadora Gabriela Rezende vem trabalhando com caixas-dormitório, que tiveram boa aceitação por muitos animais além dos micos, que também vêm testando essas novas moradias.

Pinguins em “creche”

Um vídeo não tão recente mostra muitos pinguins bebês juntos, com alguns adultos cuidando enquanto outros saem para conseguir alimentos. Essa “creche” de pinguins protege os pequenos e provavelmente dá segurança para aqueles que se incumbem de obter alimentos para todos. Com essa divisão de trabalho, aumentam as chances de sucesso na proteção dos filhotes, o que ajuda a garantir a perpetuidade da espécie.

No vídeo, a pesquisadora Sandra Freiberger-Affonso explica as diferenças entre as espécies de pinguins e esse sistema de “creches” que contribuem para garantir alimentos e proteção aos filhotes.

O que tem essas histórias a ver com educação ambiental?

A natureza é, sem dúvida, uma fonte de inspiração para quem tem olhos para ver ou coração para sentir. Pena que não utilizamos tanto nossos sentidos para apreciar as maravilhas que existem no mundo natural. E os animais adotam comportamentos que podem servir de exemplo para nós, humanos, uma vez que plantas e outros elementos evoluem sem movimentos notórios e, por isso, são mais difíceis de serem observados.

Comportamentos de animais que podem trazer lições de cuidado, cooperação, solidariedade e carinho devem ser contados de formas diferentes, para depois serem aproveitados, incentivando a criação de desenhos, máscaras, poesias, redações e até maquetes. Perceber e inspirar podem ser importantes passos para a valorização da natureza da qual dependemos e fazemos parte.