Por Fernanda Zimmermann Teixeira
Bióloga, mestre e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É pós-doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e integrante do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF)
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Esta semana tivemos o fechamento da I Conferência sobre Impactos dos Transportes na Fauna organizada pela Cetesb (Agência ambiental do governo paulista) e REET Brasil, que já foi divulgada aqui na Fauna e Transportes. O objetivo da conferência foi discutir os impactos dos diferentes modais de transporte na fauna, com discussões sobre rodovias, ferrovias, aeroportos e hidrovias. No artigo de hoje, vou focar nas discussões sobre as ferrovias.
Na mesa de abertura do evento, apresentei uma breve síntese sobre os impactos de ferrovias na fauna, enfatizando as similaridades e as diferenças com os impactos já conhecidos de rodovias. A Ecologia de Rodovias, embora seja uma área nova, é bem mais antiga do que a Ecologia de Ferrovias, e tem muito mais estudos tanto no Brasil quanto no mundo. Ainda estamos engatinhando no conhecimento sobre os impactos de ferrovias, especialmente nas questões em que esse modal se diferencia das rodovias.
A Ciência ainda está começando produzir esse conhecimento, o que é evidente ao verificarmos que só nos últimos anos é que ocorreram as primeiras publicações acadêmicas envolvendo fatalidades de fauna em ferrovias no Brasil. Esses trabalhos evidenciaram que, ao contrário do que muitos pensavam, o número de mortes de animais silvestres em ferrovias é considerável e precisa ser mitigado.
Em ferrovias, há evidências de que alguns animais morrem entre os trilhos sem serem atropelados pelos trens. Isso foi observado para anfíbios, em um estudo brasileiro em que a maioria das carcaças encontradas estava inteira, indicando que os espécimes podem ter morrido de dessecamento ou ainda pela diferença de pressão causada pela passagem do trem – questões a serem mais investigadas em outros estudos. Já para quelônios, foi observado que esses animais morrem porque ficam aprisionados entre os trilhos após entrarem na linha férrea em passagens de nível. Essas particularidades requerem soluções inovadoras e criativas para a mitigação, como foi apresentado pela Tatiane Bressan para o caso dos quelônios na mesa-redonda de ferrovias e aqui mesmo na Fauna e Transportes.
Temos muitas lacunas de pesquisa na Ecologia de Ferrovias no Brasil, mas também precisamos qualificar o planejamento da malha ferroviária e a avaliação de impactos ambientais, tema que discuti um pouco na mesa de fechamento da Conferência. Com relação ao planejamento, precisamos que as questões socioambientais sejam colocadas na mesa desde o início, sendo amplamente consideradas desde as fases iniciais, na escolha das malhas a serem expandidas, na definição dos traçados e projetos e na avaliação da rede de transportes como um todo, com suas conexões e impactos cumulativos.
Na avaliação de impactos ambientais, são necessários estudos com maior qualidade, focados na predição dos impactos, que tenham maior potencial de subsidiar a tomada de decisão. Precisamos identificar quais as espécies-alvo ou grupos-alvo devem ser priorizados nos planos de mitigação, definir quais os locais prioritários para implantação de medidas e avaliar a efetividade das medidas implantadas.
Finalmente, para superar essas lacunas de conhecimento e de planejamento, necessitamos de colaboração entre múltiplos setores: órgãos governamentais de transporte, de meio ambiente, empresas concessionárias, consultorias ambientais e academia. São conferências como a realizada pela Cetesb e a REET Brasil que possibilitam a troca e a aproximação entre esses diferentes setores!
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