Por Daniel Nogueira
Biólogo, especialista em Ecoturismo e analista ambiental do Ibama. É o responsável pelo Centro de Triagem de Animais Silvestre (Cetas) do Ibama localizado em Lorena
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Este mês, abordaremos um pouco do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama de São Paulo e faremos um breve relato dos números de recepção e destinação de fauna de 2019 deste que é o único centro mantido pelo Ibama no Estado.
O Cetas do Ibama em São Paulo, localizado no município de Lorena, começou a funcionar no início da década de 1990. Embora não tenha tido uma inauguração protocolar com um início formal das atividades de recepção e destinação de fauna, consideramos como ato simbólico inicial um documento datado de 1994, de entrada de uma ave silvestre apreendida pela Polícia Militar Ambiental de São Paulo. Esse passou a ser considerado como marco zero do centro. Então, desde lá, se vão 26 para 27 anos de atividades, tendo já recebido seguramente próximo de 100 mil animais durante a nossa história.
No ano de 2019 foram entregues aos cuidados do Cetas do Ibama de Lorena, 3.941 animais. Podemos ver no gráfico a seguir um comparativo entre as quantidades de entradas de animais nos últimos seis anos.
O Cetas do Ibama de Lorena recebe principalmente aves, perfazendo 94,8 % das entradas em 2019. São animais advindos principalmente de apreensões (75 % das recepções), especialmente das ações da Polícia Militar Ambiental do Estado de São Paulo (67 % do total de recepções).
A grande maioria dos animais destinados pelo centro foi para atividades de soltura. Em 2019, foram destinados pelo Cetas (excluindo-se os óbitos), 3.206 animais nas categorias soltura, destinação para empreendimentos de fauna em cativeiro, devolução por ordem judicial e transferências para outros Cetas. Foram encaminhados para soltura 2.885 animais (90 % dos animais destinados). Em relação à quantidade de animais recebidos, a percentagem de animais soltos alcançou 73,2%. Ressalta-se aí a enorme importância das áreas de soltura, principalmente as do estado de São Paulo, que recebem estes animais, cooperam nos estágios finais de reabilitação, promovem o retorno deles à natureza e monitoram o sucesso das solturas.
O gráfico a seguir mostra um comparativo numérico entre os tipos de destinação executadas pelo Cetas do Ibama de Lorena em 2019.
Durante 2019, a taxa de óbitos no Cetas foi de 15.8% em relação ao número de recepções. O gráfico a seguir faz um comparativo entre as porcentagens de óbitos registrados nos últimos seis anos em relação ao quantitativo de animais recebidos.
O Cetas conta com dois servidores do Ibama, sendo um analista ambiental e um técnico ambiental, três postos de tratadores, auxílio de limpeza e vigilância armada. Opera em dois prédios localizados no interior da Floresta Nacional de Lorena.
Após esta apresentação geral dos números de entradas e saída de animais, voltemos ao documento considerado como marco zero do centro. Era o registro de entrada de um espécime de papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva). Vou aproveitar a referência simbólica para mencionar que o Cetas do Ibama de Lorena foi um dos poucos locais em São Paulo que puderam receber esses animais no ano passado – ainda hoje os recebe. Dessa forma, gostaria de fazer um relato dos números de entrada e saída desses animais em nosso centro de triagem em 2019.
No ano passado, recebemos 278 aves da espécie Amazona aestiva, o que representa 7% do total de animais recebidos. As aves tiveram origem de entregas voluntárias ou espontâneas de instituições ou diretamente de pessoas físicas. Recebemos animais advindos tanto de nossa região, do restante do interior paulistas e da grande São Paulo quanto de outros Estados, como Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
A maior parte dos papagaios, contudo, tem origem de apreensões em ações de combate ao tráfico e cativeiro ilegal de animais silvestres. Infelizmente, tivemos 32% de óbito desses animais com relação às recepções, em uma taxa bem maior que a porcentagem total de óbito neste centro. Entretanto, vale ressaltar, conseguimos destinar 134 papagaios-verdadeiros para soltura, ou seja, mais de 48% dos recebidos.
Não destinamos nenhum animal desta espécie para cativeiro, excluindo, infelizmente, duas entregas ou devoluções compulsórias após determinação judicial. Contudo, o restante dos animais desta espécie seguem conosco na continuidade do processo de reabilitação.
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