Por Bruna Almeida
Bióloga e coordenadora do Projeto Reabilitação de Fauna Silvestre e das atividades de educação ambiental no Centro de Triagem de Animais Silvestres de Catalão (GO)
universocetras@faunanews.com.br
O atropelamento de fauna silvestre é um tema que vem sendo abordado nos últimos anos, especialmente nas rodovias, ferrovias e hidrovias, além de ser considerado uma das principais ameaças à vida silvestre. As colisões provocam o óbito imediato ou posterior dos indivíduos, bem como sequelas irreversíveis que impossibilitam os animais vitimados a retornarem ao seu habitat natural.
Com o crescimento populacional e expansão da urbanização, as áreas naturais estão sendo substituídas e/ou removidas, provocando desequilíbrio na dinâmica ecossistêmica existente e induzindo a fauna silvestre a buscar novos territórios. Nesse deslocamento no meio urbano, os animais silvestres deparam-se com pequenas porções de vegetação existentes nos municípios, especialmente áreas protegidas e de uso restrito, bem como terrenos destinados ao lazer da população.
No município de Catalão (GO), existem sete áreas verdes ou parques distribuídos na área urbana e, em alguns casos, há uma conexão com outras áreas verdes e a presença de cursos d’água. Dentre esses parques, o Parque Santa Cruz, mais conhecido como Mata do Setor, encontra-se ao lado de bairros residenciais, com a presença de espécies diversas de mamíferos, anfíbios, répteis e aves silvestres. Uma das espécies comumente visualizadas no entorno do parque é o macaco-prego (Sapajus apella), que se desloca entre as áreas destinadas ao lazer da população, alimentando-se de biscoitos, salgadinhos, frutas, pão entre outros alimentos ofertados, que em grande parte não fazem parte da sua dieta.
Em virtude dessa tolerância e convivência com a presença humana, os grupos de macacos-prego circulam livremente pelas áreas de lazer, adentram em residências próximas e transitam pelas vias públicas. Diante de tais situações, no mês de junho de 2021, um macho jovem da espécie foi vítima de colisão veicular e resgatado pelo Corpo de Bombeiros do município.
Durante a avaliação clínica, constatou-se que o primata, apelidado de Simba, sofreu fratura exposta na mandíbula, perdeu parcialmente dois dentes inferiores e apresentou pequenas escoriações pelo corpo. O médico veterinário do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) de Catalão realizou a sutura do corte e a implantação de um pino para estabilização e fixação da fratura na mandíbula. Felizmente, não sofreu traumatismos, fraturas complexas ou perda de membros que pudesse comprometer seus movimentos.
Simba foi um dos poucos animais atendidos pelo Cetas de Catalão vítima de atropelamento com pequenas fraturas e cortes superficiais. Em grande parte, são constatadas fraturas complexas, traumatismos cranianos, alterações neurológicas, comprometimento de órgãos vitais, além da perda parcial ou total de membros – situações que impossibilitam a reabilitação e, muitas vezes, tornando necessário o tratamento através da eutanásia.
Situações como essas mostram o quanto as ações de educação ambiental são importantes, já que pequenos gestos e atitudes podem ser decisivos no bem-estar da fauna local, bem como da população que convive diariamente com a presença da fauna. A relação homem-fauna (no caso, urbana) deve ser mais trabalhada, de forma a beneficiar ambas as partes. Ainda, esse trabalho deve ser desenvolvido durante todo o ano, através de projetos contínuos de monitoramento, em que os atores principais são os animais e os atores coadjuvantes são a população do entorno. Essa inclusão, participação e compromisso da população pode ser determinante para a conservação das espécies que utilizam as áreas verdes urbanas como fonte de recursos (alimento e água), abrigo e possibilidades de reprodução.
– Leia outros artigos da coluna UNIVERSO CETRAS
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es).